sábado, 21 de maio de 2016

S.O.S.

Faz algum tempo, eu andava bem-louco-alone- total. Saía 7 dias por semana. Tava morando em Porto Alegre ainda e frequentava o boteco da hora daqueles tempos sem tantas leis ( agora o país tá cheio de leis de primeiro mundo mas os direitos continuam de terceiro ) e tal boteco se chamava S.O.S.

O S.O.S., que ficava no Bomfim, recolhia todos os doidos e boêmios da cidade. Era um bar muitosimpático onde fiz bons amigos de noitada e até compus uma musiquinha em homenagem a ele. Abria à meia-noite.

Quando tinha música ao vivo os músicos começavam a tocar às 3 e às 7 da matina as pessoas comuns que saíam pra trabalhar podiam ver com surpresa, através das grandes janelas, a malucada ainda lá dançando .

Nesse tempo eu estava saindo com uma menina que tinha terminado um longo namoro com um colega chamado Cabelo. Cabelo bebia caminhões e cheirava navios. Doidaraço. Mas a menina era tranquila.

Numa noite em que lá estávamos , depois de várias cervejas, estou pagando a conta no caixa e ao receber o troco senti que uma moeda caiu. Olhei pra baixo naquela penumbra e pensei: pego ou não pego? Não tava nada bem e pressenti que seria um movimento arriscado resgatá-la mas a sensação da moeda caindo em cima do meu pé me dizia que se tratava de uma moeda gordinha, certamente a de 1 real.

Depois de fazer alguns cálculos resolvi pegar e quando me abaixei aconteceu o que talvez meu subconsciente temesse, porque meu consciente andava de férias.

A calça apertada pressionou minha barriga e a barriga empurrou todo meu corpo pra trás me fazendo cair que nem um saco no meio das pessoas. Cair nem sei se é o termo mais acertado. Acho que me deitei, na verdade.

Logo vieram me acudir e nem tenho ideia de quem foi mas guardo a lembrança dos rostos fazendo muitíssima força pra não rir desbragadamente da minha infelicidade. Me ajudaram a ficar de pé novamente, perguntando o que tinha havido, se eu estava bem e estas coisas.

Quando a gente é criança e cai, a gente chora, mas quando se é adulto a gente chora lá dentro e mesmo bêbado daquele jeito me senti bem envergonhado.

Sorte que a menina que estava comigo foi bacana, e me pegou pela mão pra me tirar logo dali. Quando chegamos à rua, vendo minha cara ainda amuada, mandou essa pra me consolar.

– Ah, não fica chateado. O Cabelo caía toda hora.