domingo, 22 de abril de 2018

50 ANOS DE 2001




É uma grande ironia.

O gigantesco avanço tecnológico destes nossos dias também serviu para nos mostrar que ainda permanecemos na barbárie.

A internet e a rede social aproximou os zumbis. Hordas de homofóbicos, machistas, xenófobos e racistas se formam por toda parte. Ganham voz. O fascismo, que hibernava, renasceu e quer eleger líderes.


As pessoas desejam retroceder no tempo.

A humanidade necessita amparo. A humanidade precisa com urgência que o monólito venha nos fazer uma visita.

O monólito?

Tá fazendo cinquenta anos que meu pai me levou ao Cine Atlas, aqui mesmo em Petrópolis, Porto Alegre, pra assistir a “2001, uma odisseia espacial.”

Tinha eu uns dez, e assim como meu pai, fiquei bastante impressionado.

O filme inicia com tribos de macacos, numa terra inóspita e árida, lutando por território e por água, quando um grupo destes se depara com o monólito.

O monólito é uma pedra negra e perfeita.

Uma forma geométrica com arestas retilíneas, um objeto completamente distinto de tudo que havia naquela paisagem conhecida por aqueles antropoides.

A película, produzida e dirigida por Stanley Kubrick, co-escrita por Kubrick e Arthur C. Clarke, baseada parcialmente no conto "The Sentinel" do próprio Clarke, simboliza este monólito como uma espécie de deus que aportou em nosso planeta para trazer racionalidade aos seres que aqui habitavam.

É espantoso o momento em que um dos símios, que teve contato com o monólito, descobre que um grande osso pode servir de arma e pela primeira vez, usa o instrumento para matar e vencer o inimigo, um macaco de uma tribo rival.

É uma cena assombrosa, que tem como trilha a não menos assombrosa, Also Sprach Zarathustra de Richard Stauss, onde o antropoide, possuído pelo frenesi do entendimento daquela vitória, lança pelos ares o grande fêmur que empunhava e a ação então corta para milhões de anos depois, quando uma grande nave viaja por um magnífico céu estrelado, e há um breve silêncio e neste momento surge em tom de baixa dinâmica a singela valsinha vienense de Johann Strauss II chamada Danúbio Azul.

Kubrick era um gênio. Usava imagens e trilhas com sentimentos completamente opostos para formar cenas definitivas.

Em resumo, a nave estava se dirigindo ao planeta Júpiter, onde havia sido detectado um gigantesco monólito e o enredo sugere que este seria um segundo contato entre a pedra negra e o homem, quando então haveria um novo salto civilizatório para a raça humana.

É o que estamos necessitando com urgência urgentíssima. Um novo salto civilizatório. Antes que destruamos tudo.

Kubrick era um visionário.

2001 continua sendo atual.

Até os ambientes e cenários não ficam devendo em nada pros filmes de ficção científica atuais.

No youtube se pode encontrar muito material sobre este filme. Muitas análises e comentários de cinéfilos e críticos sobre esta obra prima que tem diversas particularidades e curiosidades que não se notam à primeira vista.

segunda-feira, 2 de abril de 2018

REFLEXOS

Existe uma frase que muito me impressiona. Diz que é do Galeano.

"A PRIMEIRA CONDIÇÃO PARA MUDAR A REALIDADE CONSISTE EM CONHECÊ-LA."

Em cima disto, tempo destes, publiquei a seguinte coisinha:

"SOU RACISTA.
SOU HOMOFÓBICO.
SOU MACHISTA.
SOU XENÓFOBO.
SOU UM CRENTE EM DEUS.

MAS TODOS OS DIAS, ATRAVÉS DA REFLEXÃO, VOU DEIXANDO DE SER UM POUQUINHO."

Algumas pessoas, distraídas, preguiçosas, ou toupeiras mesmo, não entenderam, não gostaram, me bloquearam e deram the end na amizade.

Bah! O que que se pode fazer?

Só estava chegando à conclusão de que estes preconceitos estão muito enraizados na gente. Fazem parte de nossa estrutura.

Assim como a crença num deus. É algo que está incutido. É muito difícil ser ateu. Millôr brincava com isso. "Você é ateu quando está muito bem de saúde" ou "Você consegue ser ateu até o momento em que dá uma pane no avião".

De uns tempos pra cá começo a sentir desconfiança por pessoas que utilizam muito a palavra "deus". Nestes novos tempos de perversidade e ignorância é assombroso assistir tantas pessoas gritando seu ódio aos quatro ventos e citarem deus ao mesmo tempo. Pessoas que são preconceituosas em nome de deus. Pessoas que vibram com a tortura e entoam salmos. É bem assustador.

Existe um diálogo de Saramago que se tornou famoso.

Perguntou-se a José Saramago:

– Como podem homens sem Deus serem bons?

Sua resposta foi:

– Como podem homens com Deus serem tão maus?

É difícil ser ateu.

Eu tinha quatro anos e meu primo mais velho foi incumbido por minha mãe a ir à padaria. Eu quis ir junto e minha mãe não deixou. Meu primo saiu, minha mãe foi pro quarto e resolvi cometer o mais grave pecado:

DESOBEDECER.

Destranquei a porta, caminhei sozinho duas quadras, atravessei ruas e no momento em que estava entrando na padaria reparei que um menino, a uns cinco metros de distância, girava uma antena presa a um barbante. Quando cruzei a entrada senti o golpe na nuca e logo o sangue quente escorrendo pelo pescoço.

Obra de Deus, é claro.

Anos depois, num domingo, minha vó repara que dormi com a blusa do avesso, e não sei o porquê, fica nervosa com aquilo e me ordena que eu desvire a roupa, que este tipo de coisa não é boa e eu quero saber a explicação pra isto e ela grita para que eu obedeça logo que o fato pode trazer algum mal e, cético, caio na risada e pego uma bola e começo a fazer embaixadinhas, caminhando de costas, eu era craque, e me desequilibro no degrau e acabo rasgando meu dedo do pé.

Obra do Senhor. De novo. Tá sempre de olho na gurizada que desobedece.

E aí?

E agora? Me diz uma coisa.

Como é que um cara consegue ser ateu com tamanhas provas?