quinta-feira, 26 de setembro de 2019

CUSPIDA PERFEITA

Tô gripado.

Minha mãe me deu um lenço. Tô usando. Obedeço sem contestar.

Lembrei então que os homens, antigamente, tinham por costume usar um lenço no bolso de trás da calça. Um lenço e um pente. Não sei se os dois iam no mesmo bolso, mas talvez tenha sido este fato que deu origem à ideia de inventar o guméx que é pai do gel.


Bécs.

Bécs, naqueles tempos, significava "que nojo".

Eu usava lenço no colégio em gripes estratosféricas. A gurizada no inverno ficava sempre gripada e campeonato de catarradas à distância era um dos divertimentos da época.

Recordo então de uma manhã ensolarada de inverno, em que, atormentado que estava pela dor de cabeça causada pela teimosa sinusite, cheguei até à janela da sala 314, do Colégio Júlio de Castilhos..

O pátio estava vazio, pois o recreio havia terminado. De repente surge do nada o gordinho Richter. Gazeando aula. Eu achava ignóbil e mesquinho o gordinho Richter. Não sei por que.

Estava no terceiro andar, e alvejar o sinistro Richter daquela altura seria como acertar na loteria, mas achei que valia a tentativa

Então puxei o frango das mais profundas profundezas.

Sabe aquela puxada que dói o peito e deixa a cabeça latejando? Pois foi bem assim.

Fiz um cálculo rápido, pois o gordinho vinha caminhando em direção ao prédio, e squèééssshhhhh.... soprei com fúria para os ares aquele colosso multifacetado que parecia um paraquedista, cheio de braços oscilantes de medusa, e por um momento acreditei melancolicamente que erraria o alvo por pelo menos três vergonhosos metros, mas eis que a catarrada ao chegar ao primeiro andar agregou-se a uma vigorosa corrente de ventos Elísios que abundavam ali pela região e mudando bruscamente sua trajetória, triplicou sua velocidade para acertar espetacularmente a nuca do Richter. que num gestual de quem está sendo atacado por abelhas, buscou, entre tropeções, desesperado refúgio embaixo da marquise.

Eu lhes conto e lhes digo que até hoje, quando penso nisso, me entristeço. Então oro com fervor.

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

RUSGA VIRTUAL

Daí ela me perguntou no chat.

- Tax bem?

Eu respondi.


- Tox. E tux?

Ela.

- Comigo tudo bek..

Eu

- Legak.
- Mas escuta! Tu é louc9?
- Acho que sou um pouc9. Mas por que tux ach9u iss9 só ag9ra??
- Sei lá. Esse jeito maluc9 que vc digifa.
- Eu digifo norfal. Como fualfer um.
- Fei. Olha fó. Afo quw 0 teu teflaco tad c proclema.
- Nad é isco nad.
- O qued seria, csralh9?
- Bofa ov ócul9s que eu bofo tambed.
- Vad a merfa.
- Vad a merfa tux, mal educaga.

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

ENTRE O ACERVO E O ESTÚDIO




 Pois então nos fomos, mami (Magali Corona) e eu à cidade do Rio de Janeiro para comparecer à exposição chamada de ENTRE O ACERVO E O ESTÚDIO de Marilice Corona, realizada no Museu Nacional de Belas Artes ali na Cinelândia.

Marilice vem desenvolvendo este trabalho já faz algum tempo. Minha visão é leiga, mas tento explicar. Ela faz uma ligação entre trabalhos dos acervos e os seus, quando fotografa a interação das pessoas com os quadros nos museus e pinta as fotografias em seu estúdio.


Nesta ida ao Rio, ela sobe um degrau neste estudo e sigo tentando explicar.

Já faz algum tempo, uma cabeça do escultor Fernando Corona que é nosso avô, estava sendo colocada em seu pedestal pelo funcionário do museu e Marilice registrou o momento que depois se transformou em quadro. Este quadro foi levado ao Rio para fazer parte da expo e no instante anterior a ser fixado na parede, um bombeiro fazia a checagem do extintor e minha irmã flagrou o instantâneo. No hotel, Marilice tirou as tintas pra dançar e com técnica cada vez mais apurada, em tempo recorde, fez uma nova tela interessantíssima. Além desta, criou mais duas, com esta temática de interação com funcionários do museu.

O quadro dentro do quadro dentro do quadro.

Não é lega? Na tarde de sábado estávamos na grande sala, quando reparei duas meninas da brigada de bombeiros olhando os quadros e comentando com entusiasmo. Me aproximei um pouco para conversar e elas estavam surpresas e interessadas com a exposição.

Uma ideia simples que pode ser multiplicada e desenvolvida ao infinito. Uma ideia que desperta interesse e pode se tornar popular, sem deixar de ser inteligente. Acho que talvez seja isto que a maioria dos artistas busquemos.

Afora isto, tivemos a sorte de agarrar dois magníficos dias de sol e junto com Vika Barcellos, que se moveu desde Floripa, fomos almoçar no Forte de Copa. Pedimos os mesmos pratos que pedíamos quando vivíamos por lá e a cozinha continua a mesma:

SALADA SOUZA LIMA
Presunto cru, muzzarela de búfala, tomatinhos, alface e manjericão.

PENNE AOS QUATRO QUEIJOS

RAVIOLLE AO ROSSO
Massa recheada com queijo, molho de tomate e manjericão.

Esta é a minha definitiva sugestão de almoço de primeira no RJ. Além da vista fantástica e a comida deliciosa, é bastante barato.

Encontramos também por lá bons amigos. Nosso primo Alberto Corona, com a Diva e a Úrsula, Antonio Ricardo Ribeiro Cidade, Jorge Teixeira e Fernanda Lago e pudemos celebrar um pouco a vida na Cidade um tanto machucada mas que nunca deixa de ser maravilhosa.

LOROTA MUSICAL

Eu gostava de lorotear músicos entusiasmados da seguinte forma:

- Você ouviu este disco novo da Sarah Vaughan com o Caetano?
- Sério? Lançaram?!
- Foi. Com participação do Herbie Hanckock? Ouviu?
- Caraca. Que massa!!! Não ouvi.
- A abertura é com o Santana.
- Mas que loucura é essa? Como é que ainda não ouvi essa maravilha??!!
- Três faixas com Toninho Horta e Paco de Lucia.
- Cara!!! Não acredito!!!
- Outras três com Hermeto.
- Mas vai ganhar o Grammy esta porra!!! Onde encontro?
- Uma faixa tem um solo do Jimi Hendrix.
- Hendrix tá morto, pô!
- Psicografaram.
- Hum...
- Julio canta duas.
- Que Julio?!
- Júlio Iglesias, o cantor espanhol.
- Bah...véio. Tu tá me tirando...?
- Na última faixa tem Credence e Nelson Ned.
- Tomanocu!!!

ULTIMATO NA ORLA

Fomos apresentados ao casal numa noite quente, ali na praia de Copa e sentamos num quiosque e pedimos chopes e cervejas e logo passamos a falar sobre o estado em que está a situação ou a situação em que está o estado e comentei que, infelizmente, os sindicatos estão paralisados e o cara começou a dar uma explicação sobre isto, sobre as origens dos sindicatos brasileiros e dissertou muito bem, e por isto ficamos animados, pois o cara sabia tudo de sindicato e alguém comentou sobre a era Getúlio e o cara enveredou sobre o estado novo e com voz monocórdica foi narrando os inúmeros fatos importantes da época, o cara sabia tudo sobre o Palácio do Catete, cacete, e para mudar o foco um pouco, falei que tinha lido uma matéria sobre o pianista que tocava no palácio e o cara engatou uma primeira no assunto piano, pianistas, órgão, organistas, harpas, cellos, oboés e o caralho e uma hora e meia e doze exatos chopes depois, me agarrei com desespero a uma pausa, me inclinei sobre a mesa em direção ao sujeito e mandei.


- Véio. Olha só. Prestatenção. Vou te dar três assuntos:
Primeiro. A pata choca do Tocantins.
Segundo. Invasões bárbaras na cidade de Bagé no século dezoito.
Terceiro. Pigmeus esquimós que migraram para o Saara com o interesse de comer o cu de camelos distraídos.
Fiquei olhando pro homem que adquiriu expressão assustada. Dei um golão no chope e arrematei entre mini arrotos.

- Tu tem cinco minutos pra tagarelar sobre cada assunto. Depois disso é nóis, véio. Nóis é qui qué falá nossos assunto bagacera.