terça-feira, 28 de julho de 2020

MARILU, VLADIMIR, WATTS E joguinho

- Vai, Vla.
- Vai o que?
- Joga logo de uma vez!
- Não posso Marilu. Tenho coisa pra fazer.
- Tem coisa nada. Esse joguinho é o maior barato. Tô viciada. Vai. Joga.
- Não dá.
- Tá cansado de perder, tá?
- Que?
- Táz cansado de apanhar, né querido? Confessa.
- Que perder nada...e sei lá também.
- Sabe lá o que?
- Acho que tem truque.
- Que truque??
- Acho que tu tá dando o celular pro Pedrinho, pra ele jogar pra ti.
- Ahhhhh, Vladimirrrrrr!!! Que vergonha te ouvir falar uma coisa dessas. Coisa de machistinha cuzão.
- Hum.
- Tô te ganhando. Te dando olé. E sabe porquê?
- Por que?
- Porque tu é banana.
- Sou?
- É sim. Tu é um bananão.
- Tu vai ver só o bananão.
- ??
- Óh!!! Taí.
- Hum...ficou bem fora de foco...e tá meio se desmanchando a cosa. Tá mais pra bananinha isso aí.
- Não seja por isso. Pera que já te mando outra.
- Não amola, Vladimir. Vamos terminar esta partida.
- Ahhhh Marilu. Prefiro um virtual mil vezes.
- Mas tu não tá cheio de cosa p fazer?
- Eu dou um jeito.
- Ninanina! Vamu jogá.
- Parius.
- Vlazinho. Posso te propor um negócio.
- Hum.
- Jogamos três partidas. Se tu me ganhar uma, rola o virtual.
- Sério?
- Serissíssimo!
- Fechado.
- Vai lá então.
- Vou. Mas olha lá, hein? Sem roubo.
- Tá. Vai logo. Joga.
- Tá.
- Vai.
- Pera.
- Por quê que não joga?
- Não tô achando a caralha da página.
- Bah. Bananão!!!
- Vai à merda, Marilu!
- Joga de uma vez.
- Tá.

SOBRE AS LIVES - IMPORTANTE

Já faz tempo que tenho feito lives no Facebook, mas foi depois da pandemia que minhas lives se transformaram num assombro.

O numero de assistentes no Brasil não chega a ser tanto.

Varia de dez a doze, dependendo dos cochilos de minha mãe no quarto ao lado e também um tio que insiste em me cobrar uma muy antiga dívida de uma eletrola que já foi a usucapião e o cara é bastante desagradável de fazer isso em plena live onde estou brilhando.

Já tô craque em tocar com uma mão e bloqueá-lo ao mesmo tempo.

Mas se o público brasileiro é reduzido, não se pode dizer o mesmo da galera lá dos oriente.

É na Tailândia que tenho muita penetração.

Meu último disco vendeu sete milhões de cópias em território tailandês e soube de fontes seguras que o trabalho foi hackeado e fizeram mais sete milhões de cópias.

Isto perfaz quatorze milhões de discos em apenas um país e a entrada no Guiness está garantida pois se trata de um fenômeno estetoscópico.

PRESTATENÇÃO!!!

Na Tailândia tem mais disco meu do que tailandês!

Também é importante sublinhar que no Vietnã do Sul começo também a fazer relativo e relevante sucesso.

No Vietnã do Norte já é um tanto mais complicado pois ali, não sei por que razão, há uma predileção pela música dita gaudéria e minhas marcas, devo excluir a modéstia, são un ratito mas elaboradas.

Tailândia, Vietnã do Sul, do Norte e já ia esquecendo do Laos, têm comparecido em massa a minhas lives.

Só pra lembrar então.

Na segunda tem.

LIVE DE SEGUNDA DE PRIMEIRA 10Hs

Nas quintas.

LIVE DE QUINTA DE QUINTA 10Hs

Tenho certeza de que vocês vão gostarem.

Ah. Deixem à mão as bolacha. Às vezes é live rave.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

MARILU, VLADIMIR E O EU TE AMO

- Vla. Táz aí?
- Toz.
- Quero ver tua cara.
- Hum.
- Abre a cam.
- Tá.
- Olha só, Vla. Tô com muita saudade.
- Hum.
- Não aguento mais essa quarentena.
- Eu também não, Marilu.
- Não vejo a hora da gente se atirar num boteco, encher a cara, se abraçar bastante, dar muitos beijos e jogar toda essa nossa conversa fora.
- Humhum.
- Vla?
- Que?
- Te amo, viu?
- Hum.
- Te amo muito.
- Hum.
- Tu me ama também, Vla?
- Sim...
- Como, sim, Vladimir??!!
- Que?
- Diz que me ama, pô! Custa tanto?
- Dizer que te amo assim como dizem nos filmes e novelas?
- Isso, Vla. Assim como nos filmes e novelas.
- Assim na seca?
- É. Assim... na seca.
- Tá.
- Então diz.
- Eu te amn, Marilu.
- Como?
- Te anm.
- O som tá baixo. Será problema de conexão? Fala mais alto, pô!!
- Te ams, Marilu.
- Pô, Vladimir..que merda é essa?
- Que?
- Ta parecendo o Mussum. Não consegue dizer que ama alguém, Vladimir?
- Hum.
- Vladimir. Olha só! Tu é bunda mole.
- Sou?
- É sim. Sempre achei que tu era cuzão, mas agora tenho certeza.
- Calma, Marilu.
- Calma é o caralho! Tu é um baita pau no cu, Vanderlei!
- Opa, Opa, opa!!! Vanderlei?
- Que?...
- Tu não esquece o Vanderlei nunca, né Marilu?
- Hum.
- E ainda quer que eu diga que te amo com todas as letras?
- Ai, Vla. Desculpa!!! É muita sina ter dois namorados seguidos com o nome começando por V.
- Hum.
- Vla?
- Fala...
- Tô com muita saudade.
- Taz?
- Toz...mas agora fiquei com vergonha.
- Hum. Ficou?
- Fiquei sim. Vou até fazer um café. Dar uma olhada nas minhas coisas...
- Tá bom.
- Então tá, querido. Vou desligar aqui, tá? Te cuida.
- Marilu?
- Fala.
- Te amo, viu?
- Que?
- Te amo muito.
- Ai...Não fala assim, Vladimir...que eu choro.
- Pode chorar à vontade, querida.
- Posso?
- Pode sim. Tá todo mundo precisando chorar a sua cota diária. Eu hoje já chorei a minha.
- Não fala assim que choro mais ainda, Vlazinho.
- Chora, querida.
- Ai, Vladimir.
- Bom café pra ti.
- Tá...
- Tô aqui.
- Tá?
- Tô.
- Tá.
- Sempre.

MARILU, VLADIMIR E O VIRTUAL

- Marilu. Tá aí?
- Tô.
- Liga a cam?
- Pra?
- Liga?
- To trabalhando ainda. Mas tudo bem.
- Oi.
- Oi, Vla. Táz com a cara boa. Táz bonito.
- Toz?
- Táz. Mas diga.
- Vamos fazer?
- Fazer o que, Vladimir?
- Um virtual. Vamos?
- De novo, Vla!? Mas fizemos hoje de tarde!
- Ah...vamos? Tesão bárbaro.
- É?
- É sim. Tesão estratosférico.
- Tanto assim?
- Tesão estetoscópico
- Táz alucinando na pandemia.
- Vamos, Marilu?
- Escuta, Vla. O que é isso aí atrás?
- O que?
- Aí atrás de ti. Isso é uma montanha de papel higiênico?
- hum...é.
- Que nojo, Vladimir.
- Rinite bárbara, Marilu.
- Bronhite bárbara, Vladimir. Isto sim.
- Ah...vamos...tô muito afins.
- Não posso, Vla. Tenho trabalho pra fazer.
- Marilu?
- Que?
- Não tô nada bem.
- O quê que tu tens, Vladimir?
- Não sei.
- Como não sabe?
- Não sei ué.
- Vladimir. Quando a gente não tá bem, só pode ser duas coisas!
- É?
- É. Ou é gripe ou é caganeira.
- Hum.
- Táz com gripe?
- Não.
- Caganeira.
- Nem.
- Então taz ótimo.
- Talvez seja um mal da alma, Lulu.
- Não amola, Vladimir! Já conheço essa conversa. Tenho de trabalhar.
- Tá bom.
- Vla.
- Que?
- Quando souber o que tu tem, tu me chama?
- Chamo. Que remédio, né?
- Vla.
- Que?
- Te amo, viu?
- Idem.
- Vai à merda, Vladimir.
- Tá.

REMANCHANDO

São cinco da manhã e fico remanchando.

Não tenho vontade de ir pra cama.

Antes me assustava e deprimia um pouco ver a luz do dia se apresentando. Hoje em dia este desassossego já não me pega mais.

No Rio de Janeiro quando batia seis e tal eu descia e caminhava pela rua do Catete até à padaria.

As manhãs da Cidade Maravilhosa são muito vivas e ali na rua do Palácio bastante cedo já há um movimento formidável.

Era bom ver a cidade acordando, o movimento de gente de todo tipo iniciando a faina, os ônibus acelerando com fúria e homens com caniços tomando a direção da praia. Nunca imaginei que viveria num local onde precisasse caminhar apenas cinco minutos pra jogar uma linha na água.

Mas voltando à padaria, não sei se mudou, mas ali se fazia o pior pão do bairro. É sério. Quem mora ali, sabe. É um pão com um miolo cheio de ar, que no dia seguinte tem cheiro de chulé.

Além disso, o pessoal do atendimento era pra lá de antipático. Os donos, a mulher do caixa, os atendentes, todos absolutamente, caprichavam na forma desagradável de ser.

Mas valia a pena. Eu não precisava falar com ninguém e aquele pão na chapa com manteiga enganava muito bem. Mais um cafezinho e um suco de mamão com laranja e eu tava pronto pra ir pro berço.

Sinto um pouco de falta de uma cidade que nunca se apaga.

Bueno.

Agora bateu cinco e meia.

É Porto Alegre.

É sexta.

17 de julho de 20.

Houve dias muito frios por aqui. Ontem choveu bem e a meteorologia, surpreendentemente, promete trinta graus pra semana que vem.

A pandemia avança no sul.

O reitor da UFPEL, que é um guri fodão, diz ser vital fazer um lockdown de uns quinze dias pra que não colapse a caralha toda.

Por outro lado, o idiota mor, representante dos medíocres, nao consegue falar a palavra constituição. Quando tenta articular " hidroxicloroquina" quase desmaia.

Tá. Tá bom. Talvez surja alguém, é claro, dizendo que o Lula falava kipéx quando se referia ao apê do Guarujá. Mas o Lula podia. Lula, pelo menos, tinha uma ideia. Tinha uma pauta. Muito diferente deste zero à esquerda. Pária número um do planeta.

Bueno de novo.

Tem uma louça pra lavar e isso não é nada.

Daí me vou. Eu sei. Sigo remanchando.

Tá. fui.

SEXO VIRTUAL NA PANDEMIA

Na loucura da pandemia, do isolamento e da solidão, Norberto e Katielenise conheceram-se num aplicativo e depois de terem travado gigantescas conversas sobre todo tipo de trivialidades, acabaram por marcar um sexo virtual praquela noite depois de todos afazeres executados e obrigações cumpridas.

Abriram as cams exatamente às onze e estavam os dois já embalados por algumas doses de respectivos cervejas e Martines.

- Puxa vida, Norberto. Assim na cam, você é ainda mais gato do que nas fotos do face.
- Obrigado, Katielen. Você também é linda.
- Meu nome não é Katielen, Nor. É katielenise.
- Ah sim. Ainda tem um ise depois do Katielen.
- Isso, isso. Se quiser pode me chamar de Kati. Ou Tielen. Ou até Nise, se você quiser.
- Ah, tá. Depois eu escolho um dos três.
- Mas que coisa que tá o face não é? A galera tá se matando.
- Tá sim. A coisa tá difícil. É guerra.
- Eu é que não me meto nestas tretas. Eu fora.
- Mas querida...me diz uma coisa?
- Fala, meu amor.
- Por que você tá se sacudindo?
- Ué, por que. Porque já to fazendo.
- Fazendo o que?
- Ora, o que!!?? Fazendo o virtual.
- Sério?
- Claro. Ah. Entendi. Os homens só conseguem fazer uma coisa de cada vez. Nós mulheres fazemos várias ao mesmo tempo. Enquanto converso contigo vou adiantando o assunto aqui por baixo, paixão. Entendeu?
- Acho que sim, mas...
- E tu nem pensa em fazer isso que eu te mato esgoelado!!
- E isso??!!
- kkk Nada não. É meu gato que subiu na mesa do PC. Ele sempre faz isso.
- Caramba! Que susto... todo esse ódio na voz. Por um momento até pensei que fosse comigo.
- Contigo é só tesão, meu lindo! To aqui, tu sabe, né?
- Tá aí o que?
- Sima.
- Sima?
- É. Simasturbando, não sabia?
- Ah tá.
- Até já gozei.
- Sério? Agora? Mas como foi que não vi?
- É que falta sutileza pra vocês perceberem certos detalhes. Vocês homens são tão brutos.
- Hum.
- Escuta aqui meu gostoso. Eu sei também o quanto vocês são ligados na parte visual.
- Sim. É vero.
- Então, Nor...Você gostaria que eu te mostrasse alguma parte do corpo?
- Adoraria.
- Tá. Olha.
- Hum.
- Gosta?
- Gosto...mas o que seria isso?
- Essa é minha hérnia, Nor.
- Hérnia? Não acredito.
- Verdade, querido. Olha só. Quando puxa vai quase até o joelho.
- Caraca...
- Óh... to puxando bem.
- AAaaaaaarrrrgghhhhhhhblerffffff
- O que foi, Nor?
- hummmsssggolffffff...
- Cadê você. Tás passando mal?
- Não, não.. tô bem...tá tudo certo. Caraca, man.
- Ainda bem que você apareceu. Pensei que tava até vomitando.
- Não. Que é isso... pera...e tu, sua porca, se meter a língua nesse troço, vou te jogar lá fora, porquera!!!
- Mas o que é isso, querido? Que loucura é essa!!??
- To falando, com a Dalila, a cachorra do meu filho que tá querendo comer o vom...quer dizer, a ração, que tá velha e pode fazer mal.
- Ah tá. Que susto. Mas quer saber, Nor. Este jeito ríspido que você gritou com a Dalila agora me deu um tesão bárbaro, sabia?
- Verdade, eleni?
- Puxa vida, Nor. Você usou a única parte do meu nome de que não gosto.
- Desculpe, querida.
- Nor. Tá tudo bem? Você parece abatido, pálido.
- Tá tudo bem.
- Estes olhos pela metade.
- Hum.
- Essa baba escorrendo.
- Hum.
- Puro tesão, Nor?
- Puríssimo.
- Inda bem. Pensei que tavas passando mal.
- Hum.
Até lembrei de um outro senhor aí do sul também que no meio da função, no virtual, ficou bem louco com a língua dura pra fora e eu pensando que era pra me endoidecer, morta de tesão que fiquei com aquele jeito dele, assim meio grotesco, e na verdade ele tava era tendo um derrame e acabou sumindo pra baixo da mesa que nem você sumiu agora.
- Caraca.
- Mas então é isso, querido. Vou ter de lavar uma louça que falta e depois estudar pra minha pós.
- Ué! Mas já terminou o virtual?
- Pois é, Nor. Eu to satisfeita. Gozei duas vezes.
- Sério? Seria eu indelicado se perguntasse em que momento aconteceu este segundo orgasmo?
- Claro, amor. No momento em que você gritou com a Dalila.
- Caraca, man.
- Não notou?
- Nah.
- Você tá um pouquinho disperso, Norzinho. Tá um tiquinho desconcentrado.
- Hum.
- E to sentindo você frio comigo também.
- Humpf.
- Já cansou de mim, é isso?
- Caraloes...
- Acho bom você marcar um médico, Norberto. Esse teu jeito meio turvo tá com ares de AVC se aproximando...
- Caracccccc.....
- Te cuida, Nor. Vou lá. Vou desligar. Beijos.
- Crrrr...
- 0ff
- Carac....e tu sai daí, imundície!!! Vou te botar no pátio e vai ser agora!!! Dalila, Dalila....vem cá!!! Porca!!

A FESTA CLANDESTINA

Resolvi fazer uma festa clandestina aqui em casa.

Vai ser no sábado.

Vou chamar de FESTA DO CEM.

Vou convidar cem pessoas.

Cada pessoa tem o direito de convidar cem pessoas.

Cada pessoa tem de trazer cem salgadinhos e cem latas de cerveja.

Agora vem a parte legau.

Ninguém pode beber ou comer salgadinho usando as próprias mãos.

Tem de pedir pra pessoa que estiver do lado direito pra levar a comida ou a bebida na boca de quem pediu.

Por isso também o cem. Cem as mãos.

Não é legau?

Quem infringir a regra vai ter de pagar uma prenda.

Vai ter de ir no posto e voltar com cem garrafas de guaraná.

Agora vem a parte mais legau.

O infrator vai pegar cada uma dessas garrafas, chacoalhar dez vezes di cum força e abrir logo em seguida.

E agora vem a parte mais legau.

Todo convidado que resvalar no guaraná e cair no chão, vai ter de ir no posto e trazer mais de cem garrafas de guaraná e sacudir não dez, mas cem vezes muito di cum força e logo em seguida abrir a garrafa sempre de dois litros.

Cada convidado que cumprir as regras completamente bem tem o direito de ligar pra convidar mais cem pessoas no meio da festa.

Não é legau?

A FESTA DOS CEM

É festa clandestina. Não é pra espalhá.

É sábado.

A mãe deixou. A mãe deixou e ela vai fazer brigadeiro bolo e cachorrinho.

Não é legau?

AS FIGURINHA

- Tás aí, Vladimir?
- Tô.
- Tá tudo bem contigo?
- Tá.
- Vladimir. Tu tá meio estranho, ultimamente.
- Tô?
- Tá sim e tu sabe.
- Sei?
- Claro que sabe, Vla! Tá monossilábico.
- Hum.
- Tá frio comigo. Tá distante.
-...
- QUE PORRA TÁ ACONTECENDO, VLADIMIR!!??
- Sabe o que é, Marilu? Vou te contar.
- Conta.
- Aprendi a fazer figurinha pro whatsapp.
- E daí, Vladimir?
- E daí? Você ainda me pergunta “e daí”?
- Pergunto sim, Vladimir!! Qual é a importância?
- Daí que minha vida mudou, Marilu.
- Hum... como assim? Mudou como?
- Minha vida é o Vladimir antes e o Vladimir depois de conhecer a técnica de fazer figurinha pro Whats.
- Mas me explica. É algo que vai melhorar tua vida? Vai incrementar tua arte, tua profissão?
- Isso não tem nada a ver com arte, Marilu.
- Mas tem a ver com o que então, Vla?
- Olha, querida. É algo muito importante, mas tão importante, tão grandioso, que fica muito difícil pra te explicar com palavras.
- É?
- É sim, Marilu.
- Bom...Vla. Então, sei lá... me manda uma destas figurinhas tão especiais pra eu dar uma olhada.
- Pera.
- Pero.
- Vou escolher uma bem significativa.
- Tá. To perando.
- Foi. Chegou?
- Chegou.
- E? Que tal?
- O que é isso, Vla?
- Como assim o que é isso?
- Não dá pra ver direito. É muito pequeno. É uma tartaruga?
- Bota os óculos, Marilu.
- Tô de óculos, querido. Não tem como aumentar?
- Figurinha não se aumenta, Marilu. Limpa estes óculos!
- Limpei bem com álcool, querido... parece uma tartaruga. Não é bagaceirada, né?...é um casal na cama? Transando?
- Marilu. Tens de ir no oculista que estes óculos não tão funcionando.
- Óculos novíssimos, Vla. Coloquei até linha em agulha hoje...deixa ver melhor. Já sei. É um ornitorrinco verde, não é?
- Por que seria um ornitorrinco, Marilu?
- Sei lá, Vla...Você gosta destas coisas de biologia...deixa eu olhar melhor. Já sei!!!
- Hum.
- É um sapo. Um sapão brabo. Destes sapos venenosos que tem na Amazônia? Acertei, Vlavlá?
- Vai à merda Marilu.
- Que é isso, querido?
- Tá me tirando, Marilu? Zombando das minhas figurinha?
- Não consigo saber que caralha é essa, Vladimir!! E por que que não dá pra ampliar a porra da figurinha?
- A figurinha de Whatsapp é considerada mais do que uma arte. Não pode ser ampliada, senão deixa de ser figurinha e torna-se uma simples foto. Entendeu?
- Entendi. Pera que vou pegar a lupa então.
- Não! Deixa pra lá. Com lupa também não tem valor.
- Ai amor! Não faz assim. Quero saber o teor da tua criação figurinhística.
- Não enche Marilu. Puta má vontade, viu? Deixa assim.
- Vladi?
- Que?
- Te amo, sabia?
- Chata.
- Tu sabe o que que tu é o meu?
- Não sei.
- Tu é o meu figurinho.
- Mala.

domingo, 12 de julho de 2020

O TARADO DO CHAMBRE

Já são mais de cem dias de isolamento, e é pensando nisso que o tarado do chambre esgueira-se claudicante pela escuridão da casa fria.

Leva numa mão um guaraná fruki aberto há dois dias e na outra carrega um gigantesco pacote de doritos.

Num dos cantos da sala de estar retira com exagerada cautela o celular do bolso e no momento em que é acionado, o aparelho passa a reproduzir o mesmo filme pornô das últimas semanas.

Irremediavelmente tomado por todo tipo de vírus, o smart do tarado do chambre perdeu todas as funções e apenas transmite em looping uma suruba de modestos e encardidos pigmeus com mulheres altas e levemente azuladas.

O homem do chambre já assistiu dezenas de vezes à tal epopeia, mas jamais se cansa, e mesmo apoiando-se com imenso cuidado na poltrona central, no momento em que o líder dos nativos passa a vara geral e fala um dialeto incompreensível, não resiste ao orgasmo duplo que o acomete, e tomba com ruído em meio à sala, levando poltrona e mesa e abajur e tudo, o que faz sua mãe deixar a cozinha às pressas, e contrafeita sujeitar-lhe com mão italiana e vigorosa pelas alças do chambre para fazê-lo deslizar pelo parquet, berrando a velha que “ma que coza, Fausto, tá de novo na maztorba, eze sambre tá todo suzo de pora, escore pora por tudo, olha zó, má que nozo!!, vai pro banhero e te mete no suvero, porco zio!, má que merda isso!!!, Fausto, que porcatión que tu é, Dio mio!” e a velha, com extremo esforço, consegue deixar Fausto dentro do banheiro que levanta-se, retira o capuz e repara nos olhos injetados que tem, e vai despindo o chambre, mas Fausto detesta fluídos, e grita com asco toda vez que seu corpo encosta na meleca, os vizinhos já reclamaram dos berros na madrugada, e no momento em que Fausto enxerga seu próprio corpo nu na imagem do espelho, sobrevem repentina e irresistível excitação seguida de orgasmo avassalador que faz com que perca o equilíbrio, bata com a cabeça no bidê e perca os sentidos e surjam delírios de que está no campo e repentinamente passa por ele Bo Derek nua, montada num alazão, e Fausto os persegue com fúria e faz com que parem e come Bo, e come o cavalo, e come o cavalo e come Bo, e no momento em que beija o cavalo com sofreguidão, Bo perde a paciência e prende-lhe um coice que faz com que Fausto perca os sentidos dentro do próprio desmaio e a cena que vê é uma cama e em cima desta cama está Bia Kicis desnudando-se mas Fausto interrompe a função.

- Ôooooo!!! Parô, parô, parô!!!
- Mas o que foi???
- Tudo tem limite. Até os tarados de chambre possuem um fio de ética.
- Mas que ética? No outro desmaio você comeu até cavalo!!!

Neste momento, o tarado do chambre desperta dos dois desmaios com o choque da água fria. Na porta do banheiro, tá a mãe com seu grande balde vermelho.

- Vai, Fausto!!! Banho!!! Zá!!!

TV E PINHÃO

- Oi
- Oi
- que ta fazendo?
- vendo uns curtas
- hum
- sobre confinamento
- na gaúcha?
- não. no netflix
- aqui só pega a gaúcha. e a piratini
- hum
- às vezes pega a difusora quando o tempo tá seco
- hum
- se não, fica muito chuvisco
- por que não muda a posição da antena?
- tá um pouco frio pra subir na casa
- hum. melhor não mesmo
- e meu dedo tá doendo
- por?
- martelada
- do que?
- fiz pinhão
- e?
- dentadura tá duvidosa
- pra abrir pinhão?
- é
- daí tá abrindo no martelo
- é
- e martelou o dedo
- três
- três dedos?
- é
- por que não parou quando machucou o primeiro?
- gosto muito de pinhão
- ah tá. comeu bastante?
- uns duzentos
- tá louco
- gosto muito. te falei
- bah. não vai te fazer mal?
- to bem enjoado
- tem remédio?
- tem hepatovis
- tá louco? de que ano é esse troço?
- é a metade do que tomei no porre do tri
- bah. remédio múmia
- antiguinho sim
- vai acabar de te matar
- hum
- bom. se a coisa piorar, tu bota o dedo na garganta e vomita
- se tivesse espaço pro dedo eu comia mais um pinhão
- bah
- te falei que gosto muito de pinhão?

MARILU, VLADIMIR, KKK E HUM

- olha só, Vladimir.
- q?
- to cheia
- cheia de que?
- cheia de tanto kkk
- como assim, Marilu?
- vc coloca kkk em tudo
- coloco?
- se te conto algo, é kkk, se te faço uma pergunta, é kkk, se pergunto se está disponível, é kkk
- hum
- ou então é esse hum. O hum tb. To cheia.
- hum
- vai a merda, Vladimir
- com crase?
- sei lá eu se é com crase. Por que isso?
- porque se for sem crase significa que talvez você jogue cocô em mim. fico com medo. Seria uma insanidade, Marilu
- vai te catar, Vladimir.
- kkk
- agora disfarça, parece abobado
- hum
- e se não for abobado, sabe o que parece?
- hum
- parece que você sempre fica querendo ganhar tempo com esse kkk. sempre com essa mesma bosta
-
- fala, Vladimir!!! É isso?
- ggg
- tomanocu
- hum
- vai à merfa, Vladimir!!!
- tá doifa. Mav pelo menov botou crave
- Idi8ta
- l8uca
- te am8
- te am8 maid
- vj
- vjs

MARILU, VLADIMIR E A FANTASIA

- Vladimir.
- Hum
- sabe o que?
- que?
- to tendo umas fantasias contigo.
- tá mesmo?
- tô
- conta
- a fantasia é assim. eu venho pela frente e te beijo e daí eu desabotoo tua blusa
- mas isso não é fantasia, Marilu.
- não é, Vla?
- não. isso vc faz sempre.
- hum. Mas deixa te falar
- deixo
- nessa hora a fantasia sempre empaca
- por?
- vc nunca usa camisa. só usa camiseta
- e aí?
- aí não consigo imaginar direito...desabotoar os botões...sabe?
- e?
- se vc colocasse aquela camisa francesa, tão bonita que é
- hum
- mas vc nunca faz isso
- aquela camisa é pra usar com uma calça boa, Marilu. é camisa pra usar com um sapato bom, pra ir numa recepção, um batizado, uma vernissage
- ah tá. mas eu posso botar na fantasia?
- pode sim, Marilu.
- daí desabotoo só um pouco
- três botões?
- isso. e daí lambo
- lambe os botões?
- não, né? lambo o pescoço
- ah tá. lambe todo?
- todinho
- meu pescoço tem uma imensa superfície, hein? é um tronco de árvore
- lambo todo.
- é um troço grosso. sabia até que o botão não fecha?
- mas abre
- mas se não fecha não abre, né Marilu?
- ah tá. igual lambo tudo. e mordo tudo também.
- é bom eu levar mertiolathe então
- medo?
- claro. tétano
- ai, Vla. como tu é chato
- sou?
- é. então não lambo, nem mordo
- hum
- nem desabotoo
- tá
- Vla
- que?
- será que aquela camisa sai por cima?
- sem desabotoar?
- é
- tá meio esturricada. pode ser que emperre na cabeça
- hum
- daí me sufoco. posso ficar nervoso e sair batendo nas paredes
- sério?
- sério. tenho trauma de um acampamento em que entrei num saco de dormir, puxei o zíper até em cima e quando fui querer mijar no meio da noite, o zíper emperrou e comecei a surtar e o pessoal do camping ficou assombrado com aquele saco de dormir que se debatia dum lado pro outro até tomar a rumo da ribanceira e quase cair no rio. fui salvo por pescadores
- hum. coitado.
- humhum. melhor esquecer isso de tirar a camisa por cima
- tá
- tá
- mas Vla?
- que?
- tu me ajudou muito na minha fantasia
- foi?
- vou te imaginar com aquela camisa bonita, tá?
- tá
- sabia que te amo?
- também te amo, Marli.
- to aqui pensando
- o que?
- será que é bom lamber os botões daquela camisa tão linda?
- bah. agora tu me pegou
- bom. isso eu vejo depois
- tá.
- bj então
- no botão?
- bobo
- bj

DIÁLOGOS

Lembro de quando era guri e comecei a me interessar por leitura. Eu sempre abria os livros pra saber se tinham diálogos.

Eu gostava mais quando os livros eram recheados de conversa.

Mais tarde descobri que a literatura de primeira linha é um tanto avessa a chats e acabei esquecendo do assunto.

Tempo desses reencontrei diálogos em profusão nos livros do Buckovski que é um autor que não conhecia. Me causou estranheza. Mas achei legal.

Vi por aí textos que colocam Buckovski na mesma prateleira de Henri Miller e, vejam só, Hemingway. O próprio autor disse em entrevista que isso se tratava de uma grande bobagem e notei que ele esforçou-se bastante pra não deixar escapar que achava mala aqueles outros dois.

Acho que Buck é pop. É um outro departamento. É quase história em quadrinhos. Buck, o velho safado, gostava de diálogos.

Lembrei disso tudo porque tenho gostado de escrever diálogos.

É bacana escrever e ir ajeitando, arrumando. Tornando verdadeiro e rítmico. No dia seguinte leio de novo e descubro que ainda necessita ajustes aqui e ali. Vou indo assim até achar que ficou exato. Que ficou perfeito.

Diálogos que me impressionam?

Tarantino.

Já faz algum tempo, assisti a uma entrevista muito boa com a atriz portuguesa Maria Medeiros que participou de uma cena antológica com Bruce Willis em Pulp Fiction.

Aquele diálogo é maravilhoso.

O casal está abraçado na cama de um hotel barato e Medeiros diz a Willis que gostaria de possuir uma barriguinha bonitinha e vai solando sobre o assunto, toda meiga, e Willis vai assentindo com a cabeça com aquela boquinha de Bruce Willis, aquele baita contraste entre a doçura dela e a extrema violência contida nele que havia acabado de matar a pancadas um homem num ringue de box e estava sendo perseguido por mafiosos assassinos, pois naquela luta ele havia sido pago para perder.

É quase um monólogo, mas a expressao de Willis é a cereja.

Nesta entrevista, Medeiros contou que o diretor não deixa os atores alterarem nenhuma fala. As palavras tem de ser exatamente aquelas que estão no texto.

Os diálogos de Tarantino são fantásticos. O assunto, por mais corriqueiro que seja, ganha sempre uns ares de magia.

TUBARON

Imitando a cara que meu avô fez, no verão de 76, na praia de Atlântida, fumando um cigarrinho e nos contando que tinha ido assistir ao filme TUBARÃO.

- Fui assistir ao Tubaron. Era apenas un. Y artificial.

Mesmo depois de cinquenta anos de Brasil, nunca perdeu o forte sotaque espanhol.

O C do artificial era com a língua bem entre os dentes. Tipo Cazuza.

Eu era pequeno e tinha esse lance Cazuza, mas com tanta galhofa, acabei consertando.

Outra coisa que tinha também era o érre duplo lingual, como minha mãe tem até hoje. Tarcísio Meira fala assim também. A gurizada fazia mofa. Daí comecei a tentar emitir gutural, acho que é assim que se fala. O érre ficou égue por uns tempos, mas fui aprimorando.

sábado, 11 de julho de 2020

NAUTILUS, FÉLIX E A CHUVA INTERMITENTE E RIDÍCULA

Nautilus e Félix estão sentados no tapete da sala com olhares aborrecidos postos na janela fechada.
- Que saco, Nautilus. Esta chuva não para. Poderíamos estar por aí, nos aventurando pelos telhados...
-...ou caçando baratas gordas e crocantes, Félix. Mas é muita água que cai. Já faz três dias que chove sem parar. Completamente ridículo.
- Nada disso, Nautilus. Faz seis dias que a chuva começou.
- Não diga bobagens, Félix. Tá chovendo há oito dias. Tenho certeza.
- Táz completamente enganado, Nautilus. No máximo dois dias.
- Agora...mudando de assunto, olha só, Félix. Você viu a mulher no quartinho?
- Vi sim, Nautilus.
- E você viu o que ela tá fazendo. Félix?
- Vi muito bem, Nautilus. Vi com estes mesmos olhos que agora tão te olhando. A mulher tá com aqueles dois palitos fininhos na mão.
- Não são dois, Félix. São cinco palitos.
- Táz enganado de novo, Nautilus. São mais de sete palitos.
- Bom. Esquece isto, Félix. Isto não é o mais importante.
- Sei muito bem sobre o que você tá falando, Nautilus. §
- Sabe, Félix? Sabe mesmo?
- Sei perfeitamente, meu bom amigo Nautilus.
- E o que você pensa disso, Félix?
- Penso que gatos modernos e articulados como nós não caímos nestas tentações baratas e antigas, Nautilus.
- Perfeito, Félix. Correr atrás de novelos é uma coisa por demais ultrapassada, não é? É um clichê muito, muito, muito ridículo.
- Perfeitamente ridículo, Nautilus. Eu é que não vou me atirar naquele novelo vermelho e fofo.
- Nem eu, Félix. Não me interessa nada aquele novelo gordo e vermelho que vai sair girando pra todo lado com nossas muitíssimas patadas.
- Isso, Nautilus. Seria ridículo metermos nossas unhas naquele novelo fofinho e lindo.
- Opa, opa!, Félix.
- O que foi, Nautilus?
- Você chamou o novelo de lindo, Félix!
- Chamei, Nautilus? Nem notei. Que ridículo da minha parte.
- Olha só, Félix! A mulher entrou no banheiro.
- To vendo, Nautilus. Será?
- Ouviu isso, Félix? Ouviu bem o barulho da água?
- Ela vai tomar banho, meu bom amigo Nautilus.
- Você tá pensando o mesmo que eu, Félix?
- Tô, Nautilus. Teremos uns vinte minutos.
- Nada disso, Félix. Teremos mais de quarenta minutos.
- Táz novamente enganado, Nautilus. O banho dela dura sempre oito minutos.
- Chega desta perda de tempo, Félix. Eu não resisto.
- Nem eu, Nautilus. É mais forte do que nós, não é? Tão ridículo.
- Bora atacar novelo vermelho, Félix. §
- Bora atacar novelo fofinho, Nautilus.§§
- Bora já, Félix. O último a chegar lá é mulher do rato. §§§

NOTA DO AUTOR

Como os felinos tem, por natureza, a testa achatada, a parte frontal do cérebro resultou bastante reduzida e é esta região que seria responsável pela exatidão dos cálculos matemáticos. Devido a esta relevante diminuição de área, se pode muito bem notar na narrativa que os gatos fazem notória confusão com os números.

Outro ponto importantíssimo a ser desmistificado é o de que gatos enxergam em preto e branco. O texto contrapõe esta crença de forma definitiva.

MAIS NOTA DO AUTOR

Como os felinos riem com a alma e assim seu riso não tem propriamente nem som nem forma, resolveu-se estipular um signo para cada risada.

O signo é este: §

Quanto mais riso, mais §

§§§ significa que o gato está a um passo de gargalhar, o que seria possivelmente impossível.

Também, à guisa de informação, é significativo dizer que se trata de uma praxe felina o fato dos gatos colocarem o nome do interlocutor em toda frase.

Outro dado marcante.

Os nomes dos gatos são escolhidos por eles mesmos e é por isto que de nada serve você tentar dar nome a um gato. Ele jamais atenderá.

Tenho certeza também de que você se surpreendeu com a repetição sistemática do termo “ridículo” em meio à conversação.

Explico.

Para os felinos, quase tudo neste mundo é ridículo. Sempre que você enxergar um gato sentado com o olhar perdido no vazio não tenha dúvidas de que ele está pensando que o universo que está ali, revelando-se a sua frente é, no mínimo, ridículo.