sábado, 25 de agosto de 2018

UMA NOITE DE SEGUNDA

É noite de segunda feira e me sinto muito cansado.

Sento no sofá, pra quem sabe assistir a um pouco de TV e a meu lado estão meus dois cupinchas, Tato e Mana, com seus seis ou sete anos de idade.

Havíamos jantado, a novela tinha terminado e começa um filme já com uma destas perseguições que os americanos pensam que todo mundo gosta e até que estão certos, não é mesmo?


Um carro cheio de homens fortemente armados está no encalço de uma moto onde vão dois encapacetados.

A bala comendo,

e sobe viaduto,

e desce viaduto,

e voa por cima de carro e escapa de caminhão que capota e muda de pista, aquela coisa que dá uma canseira de imaginar tanta produção pra repetir um jargão tão batido,

e nós três acompanhando o pandemônio com atenção mediana, quando a moto avança por uma região de fábricas e de repente consegue dar um godot nos perseguintes, entrando num galpão.

Então, um dos motociclistas salta da moto e, num movimento vigoroso, cerra a porta de metal e os dois retiram os capacetes revelando que se trata de um casal, um casal jovem, bonito, com feições de expressão aliviada, afinal estavam salvos, haviam escapado, e seguido a isto começam a se beijar, o homem leva a mulher até uma parede e o amasso ganha sofreguidão e o cara levanta a blusa da mulher e liberta peitos generosos e não posso acreditar que toda aquela violência, num átimo, dá uma guinada fantástica e se transforma numa cena libidinosa e impura, e quando tive a certeza de que o sujeito ia mesmo começar a chupar aqueles peitos, aos gritos, levanto do sofá e inicio uma vertiginosa investida à televisão pra desligar aquela porra, e essa corrida de apenas dois metros me pareceu levar uma eternidade, esse movimento em câmera lenta com o intuito de apertar o botão e eliminar a imagem foi angustiante e com a TV por fim desligada, caminho meio sem jeito pela casa, gargalhando alto e os dois me seguem e balbucio palavras sem nexo pra disfarçar a vergonha e eles me copiam, e entrando no quarto, ao pé da cama dou meia volta, abro os braços e ainda tomado pelas risadas e gritos me deixo cair vencido, de costas, esparramado no macio do colchão e vejo que meus dois cúmplices, cada um por sua vez, imitam minha performance com perfeição e ficamos deitados, observando o branco do teto ser cortado por pequenas e coloridas gotículas de felicidade que espocavam aqui e ali nos fazendo divertida companhia naquela noite de segunda que agora lembro bem, era segunda, tenho certeza, me sentia cansado e estávamos na sala, em frente à TV numa época em que o controle remoto ainda não era utensílio corriqueiro e por isto tanta correria e é também por isto que agora lhes conto.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

cheiros do stf

Fachin tem cheiro de polvilho antisséptico Granado.

Barroso tem cheiro de naftalina.

Celso de Mello tem cheiro de hipoglós.

Gilmar tem cheiro de couro molhado.

Carmen Lúcia tem cheiro de mofo.

Dias Toffoli tem cheiro de chinelo Rider.

Lewandowski tem cheiro de um peixe chamado traíra.

Marco Aurélio tem cheiro de cachimbo velho.

Alexandre de Moraes tem cheiro de cera.

Luis Fux tem cheiro de brilhantina.

Rosa Weber tem cheiro de laquê.

Nunca tivemos tanto contato com juízes e no entanto nunca desconfiamos tanto da justiça.

Tudo fede no reino da Dinamarca.