segunda-feira, 29 de abril de 2019

SÓ NÃO PODE BUNDA



Este país virou uma chatura do caralho.

E esta rede social é cheia de toxinas. Quem discorda te irrita. Aquele que concorda vem com mais dados alarmantes, daí te dá uma gastrite na nuca e te irrita mais ainda.

Eu mesmo, me transformei num ser asqueroso, num musgo, um plâncton da internet.

Sempre repetindo as mesmas coisas.


Dddddddddddddãããããããããããñnnnnnnnnnnnnnnnnnnn

Chega num ponto que toda postagem te dá nos nervos.

Acho que vou fazer uma rede só com quem posta flor, gato e paisagem.

Não. Paisagem não.

Gato também não.

E flor muito menos.

Vou me dedicar aos salmos.

Às motos.

Ao surf.

Bah.

Chatura.

Fui postar umas mulé pelada e me deram 24 horas de cabide.

Nessa bosta pode tudo, só não pode mulher pelada.

Até assassinato rola, mas quando aparece uma bunda, o Zuck fica todo griladão.

Tomanocu.

Acho que a única coisa que não pode nesse país é mulé pelada no Face. O resto tudo pode. O governo e os homens da lei formaram um puteiro gigante, na cara do planeta. Tá tudo liberado. Mas se você inventa de postar uma bunda te mandam pro limbo.

Te afastam da sociedade.

Chatura do carai.

Vou tomar um chá de camomila com meio rivotril flambado..

quarta-feira, 3 de abril de 2019

PAPO CUECA NA AVENIDA - a associação

- Fala, Nestor.
- Fala, Varley. Tudo certinho?
- Na correria, meu. Fim de ano pegando.
- É. Tô indo pro shopping ver se compro os últimos presentes.
- Mas e aí? Me conta. E a Licinha?
- Quê que tem a Licinha?
- Te vi com ela no Barbatana no sábado. Tás pegando?
- Tô não.
- Como não?
- Não tô.
- Ah, para! Que papo é esse, Nestor? A Licinha é uma linda. E parecia toda sorridente pro teu lado.
- Mas não tô.
- Hum. Tô te estranhando, parça.
- Sabe o que é, brother? Vamos caminhando que te conto. Tens tempo?
- Tenho. Manda.
- Eu não sabia que a Licinha tinha namorado o Jonas.
- E aí? Qual é o defeito? Acho que não tão mais juntos, e faz um tempinho.
- Sabe o que é, parceiro? O Jonas faz parte das peladas do Bola7 nos domingos.
- E?
- A galera andou comentando que viu o cara nu no vestiário depois do jogo.
- Comentando o que?
- Calçado.
- É?
- É.
- Pauzão?
- Yap.
- Muito?
- Diz que é assim tipo uma coca cola litro e meio.
- Credo!
- Daí enfraquece, bro.
- Ah. Mas isso é bobagem, porque o que conta...
- Sei, sei. Tamanho não é documento. O que conta mesmo é o talento que a gente tem na hora do vamuvê e estas coisas que se fala por aí.
- Então?
- O problema não é esse!
- Qual é o problema?
- O problema é a associação, véio.
- Que associação?
- Quando eu sair com ela eu vou pensar: “sentando no restaurante com a Licinha do Jonas pauzão”.
- Hum.
- Quando for na casa dela vou pensar; “chegando na casa da Licinha do Jonas pauzão”.
- Humhum.
- Quando for tirar a calcinha dela vou pensar; “tirando a calcinha da linda da Licinha do Jonas pauzão”.
- Putz. É verdade. A associação. Quando a Licinha passar por mim vou pensar exatamente a mesma coisa: " Aí vai a gostosa da Licinha do Jonas pauzão".
- E não é?
- É. Mas tem coisa pior.
- O que?
- Vai que você resolve conferir e fica floxo.
- Que floxo, véi? É frouxo.
- Nesse caso, a palavra justa é floxo mesmo. Já pensou?
- Parius.
- Daí é ela quem vai fazer a associação.
- Qual?
- Nestorzinho bota floxo.
- Bah. E vai espalhar, é claro..
- Com certeza.
- Por isto então é que eu não respondo mensagem.
- ...fica na tua...
- Fico quietinho. Ela manda cartão de bom dia e eu respondo com um joinha bem broxante.
- ...piano...
- Não dou like nos posts dela.
- Hum. Mas que pena, né? Aquelas pernas.
- Aqueles peitos... e a cara mais linda.
- Será que não vale o risco?
- Vale não. Ainda mais que você me criou mais uma associação.
- Eu?
- É. Agora, se eu por acaso estiver beijando ela, vou logo pensar; “ Nestorzinho bota floxo dando umas bicotas na maravilhosa Licinha do Jonas pauzão”.
- Bah. Desculpe, mano.
- Agora ficou complicado, véio.
- Caraca! Olha só quem vem vindo na nossa direção!
- Quem?
- Baita coincidência. O Jonas.
- Putz. É mesmo. Eu é que não vou apertar a mão dele, brother.
- Associação?
- Yap.

QUÉ CAFÉ?

Com minha avó era assim.

- Tu qué café?
- Não, vó. Não quero.

Café, pra minha avó, era um copão de café com leite e mais um sanduíche grande.

- Eu faço pra ti e tu vai lá na cozinha e toma.
- Não, vó. Não quero café.

Cinco minutos de trégua e...

- Por que tu não toma um café?
- Não quero.
- Um café bebido, então. Tu qué?

Café bebido significava o café sem o sanduíche.

- Não, vó. Não tenho fome.
- Eu te faço e trago aqui.
- Não, pô! Já falei que não quero!

Passados dez minutos da gente achando que a mensagem tinha sido clara, lá vinha ela da cozinha, com a bandeja na mão.

- Toma.

Daí tinha de se comer e beber tudo até o fim, afinal, nhaca de pobre vê-se por aqui.

Muitas vezes ela vinha conferir a obra.

Parava na frente da gente, observando atenta, através dos óculos, nossa dificuldade em terminar com aquilo.

- Vai...
- ...
- ...tudo!

Minha avó era descendente de italianos e se sabe que, pros italianos das priscas eras, todos os problemas de saúde se resolviam com purgante, assim como os males da alma, estes eram tratados à base de rango.

Lembro da primeira cena do filme Quatrilho.
Pires e Pilar estão tendo um diálogo, enquanto uma delas fatia um salame.

Não tenho certeza, mas é Pilar que se queixa de que está triste. Pires responde.

- Come um pouco de salame que tu vai ver que tu vai ficar melhor.