sábado, 4 de setembro de 2021

GAFANHOTO

Fazer a dança dos gafanhotos, atrair a nuvem, abrir uma pequena fresta na janela, deixar que entre um e apenas um, enfeitiça-lo, entrar na máquina de miniaturização, adquirir o tamanho exato e preciso, subir no lombo do animal feroz, zunir pela sala em direção à janela, passar pela fresta, penetrar na nuvem, bradar ordens incontestáveis, tomar o rumo norte em direção a Brasília, ver a nuvem crescer durante a rota, dois milhões, sete milhões, quinze milhões de gafanhotos possuídos por um ódio descomunal, avançar pela maldita capital federal, perder altitude pouco a pouco, avistar o pequeno amontoado de humanos num cercadinho, aumentar a velocidade na direção do mais perverso brasileiro, ferir, picar, rasgar, dilacerar, arrebentar aquele corpo até restarem apenas os ossos daquele ser ignóbil, alma apodrecida que jamais voltará a emitir qualquer tipo de sorriso de escárnio que só os maiores adoradores da morte possuem.





DIA DA VACINA

Hoje na TV apareceu o presidente da Argentina falando e minha mãe disse.

- Olha só que homem bonito. Parece um ator de cinema.

É verdade. O cara é alinhado. E tem um olhar bonito. Um olhar humano. Completamente oposto a Jair, que demonstra através do olhar, sua alma fétida, repulsiva. Como li por aí; "Jair é o pior de todos os brasileiros."

Hoje fui dar uma bispada no posto de saúde pensando que haveria ali uma imensa fila, mas não. Tinha pouca gente. Foi bem rápido. Havia um ambiente esperançoso no posto modelo, onde tomei as primeiras vacinas de minha existência. Senti a euforia no ar. A galera trabalhando com alegria, com cuidado. Acho que a palavra mais exata é apreço. Gente positiva sempre te dá segurança.

Saí dali aliviado, é claro, mas também me deu tristeza. Tristeza de verdade. Tristeza pela quantidade de pessoas que não tiveram e não terão essa chance. A chance de experimentar este ambiente glorioso da vacinação . E quem sabe se salvar. E quem sabe prosseguir.

O olhar daquelas pessoas do posto tinha alegria. A alegria de quem cuida, de quem protege. O olhar da cumplicidade e da esperança. Esperança de que a peste vai retroceder e de que as almas fétidas retornarão a um mundo do qual jamais poderiam ter saído.

JACARÉ

À medida que a vacina vai operando suas transformações e vou adquirindo formato reptiliano, passo a lastimar o fato de não mais conseguir executar o sinal da cruz no final de minhas penitências que são tantas.

Isto se deve ao encurtamento dos braços, fenômeno que também impossibilita sobremaneira limpar a bunda e por sorte aqui existe espaçoso quintal com grama fofa e assim vamos nos arranjando.

Sua mente pervertida, além disso, deve estar dando risadas, quando você chega à conclusão que também estou impossibilitado de praticar o tão salutar e consagrado onanismo pandêmico.

Ontem, ainda consegui, com grande esforço, utilizando a ponta dos dedos das duas mãos.

Mas hoje já não alcança, infelizmente.

Bueno.

Pelo menos me livrei das tenebrosas tendinites.





VICIOUS

É 84 e estou em um restaurante furreca de Madrid. Já havia conferido os preços baixos na entrada e tive certeza de que a comida ali servida era bem ruim. Estou vivendo em um hostal e todas as refeições são feitas na rua. Então preciso economizar. Olho rapidamente o cardápio, faço o pedido ao garçom e vejo que ele deposita um pão à minha frente. Um cassetinho, como se diria aqui no sul. A ideia me parece boa. Vai ajudar no lastro que necessito pra não ficar de lanchinhos no meio da tarde, e assim não gasto. Com o passar dos dias vou descobrindo que as refeições na Espanha são sempre acompanhadas de pão. E saladas. Jamais falta uma salada. Salada e pão. Então lembro que meu pai possuía este hábito. Almoçar com pão. Embarquei na onda e só fui me livrar deste vício três anos depois quando voltei ao Brasil. O pão dágua na Espanha era fantástico. Muito bem feito. Só tinha um porém. Três horas depois de comprado, estava duro. Duro que nem uma pedra.

É 2011 e estou em Tiradentes fazendo o Villa Lobos in Jazz. Nos levam pra jantar, nos levam pra almoçar e depois de muitos convites, acabo aceitando provar a cachaça da área. Não sou de cachaça, mas bebo pra não ser indelicado. Provo aqui, provo ali e no dia seguinte repito os brindes, e dois meses depois voltamos a fazer concertos naquela região tão linda e alguém presenteia os músicos com garrafas de cachaça que levo para o Rio de Janeiro e passo não só a tomar cachaça todas as noites na frente do computador, como também resolvo comprar no supermercado. De repente tenho duas ou três garrafas de aguardente em casa e certo dia, ao observar que havia secado todas, me pego me lambendo por uma cachaça na frente do PC. Me ressenti da falta da pinga. Parei a função naquela noite mesmo. Viciado em canha não dá, né?

É 2014, Rio de Janeiro, talvez abril, são onze da manhã e desço até a rua do Catete pra comprar cigarro avulso na banca. Havia decidido não comprar mais maços e tampouco fumar dentro de casa. Acendo o cigarro e na primeira tragada sinto um formigamento no peito que vai descendo lentamente pelos braços. Fico fumando ali na esquina da Correa Dutra com Rua do Catete, no meio daquele tráfego de gente e carro e ônibus, a fúria dos gritos e buzinas me acompanhando naquela sensação de morte, o corpo me gritando, clamando que eu deixe de jogar veneno pra dentro, que eu pare logo de uma vez por todas, que o corpo não aguenta. Naquele domingo seguinte, toca o telefone e é minha mãe.

- Escuta, Fernando. Se tu parares de fumar te dou mil reais por mês.

Estava fumando na área de serviço e ao ouvir isto, desliguei no cinzeiro o meu derradeiro cigarro. Era uma boa grana e ao mesmo tempo fiquei realmente assombrado com a proposta que parecia ter brotado de alguma premonição. Por estes dias estávamos relembrando este fato durante a janta, e pensando nesta minha peladura pandêmica, resolvo fazer uma pequena consulta com mami.

- Escuta! Não gostarias que eu também parasse de beber?

É 2021, em Porto Alegre e tiro o pote de açaí do congelador. Sirvo uma boa porção numa cumbuca e jogo um pouco de mamão por cima. Depois um pouco de manga. E mamão de novo. Daí fica desequilibrado e tenho de meter mais açaí. Encho a cumbuca. A fruta se acaba e sirvo mais açaí. Cumbucão. Mando tudo. Levanto da mesa, chego ao balcão, e decidido a não servir mais, dou umas colheradas direto do pote. Então fico ali raspando, sabe como é? Pra ficar cremozinho. Resolvo guardar o pote, não sem antes dar uma última colheradona. Saio da cozinha. Tomo o rumo dos quartos, mas no corredor, no sétimo passo, resolvo retornar, abro novamente a geladeira, volto a retirar o pote, coloco sobre o balcão, destampo e fico olhando praquilo com olhos injetados. Algo tem de ser feito. Talvez com a chegada do frio. Quando junho assoviar, quem sabe fica mais fácil deixar disso. Ou agosto. Ou nas chuvas de setembro. Quem sabe setembro. Quem sabe.

CLÁUSULAS LEONINA

Estava eu caçando trevos de sete folhas por florestas e quintais quando avistei um pequeno grupo de Cláusulas Leoninas vindo em minha direção.

Cavalgavam com a costumeira soberba, portando seus arcos de vacinas afiadas e quando notaram minha presença, bruscamente frearam seus alazões.

Jamais pensei que nesta tarde encontraria Cláusulas Leoninas e por isso não havia escovado nem os dentes.

Eram cinco Cláusulas de beleza ímpar e a que parecia ser a mais Leonina dentre elas me dirigiu a palavra.

- Óh nobre caçador de trevos de diversas folhas! Hás por acaso visto passar pela floresta algum Pazuello?

Minha alma derreteu-se em regozijo por ser tratado com tamanha mesura e vistoso respeito e então inquiri com discreto garbo.
-
 E como seria tal Pazuello, óh nobre e Leonina Cláusula?
- Tem os olhos assustadíssos e possui abaulada gordura, nobre caçador.
- Sinto afirmar que tal Pazuello não foi por mim visto nestes bosques, óh Leonina e deslumbrante Cláusula. E por que o procuram? Se não for impertinência demais esta minha curiosidade.
- Por mentiroso.
- Mente?
- Óh, como mente!
- Mente muito?
- Muitíssimo!. Mente mais do que fala.
- E pretendem, por isto, meter-lhe poderosa vacina?
- Não, nobre e curioso caçador. Por esta conduta pretendemos apenas cortar-lhe a cabeça.
- E tal ato não iria enfurecer ao rei, óh delgada e admirável Cláusula?
- Ao rei também lhe deceparemos a imprestável capita.
- Então Renan Cadafalso terá imenso trabalho por estes dias, óh Leoniníssima Cláusula.
- Engana- te, óh nobre e pateta caçador. Quem corta cabeças em nossa vila é Omar Guilho Tina. Renan Cadafalso apenas enforca, sem, no entanto, extirpar.

Eu já sabia que Cláusulas Leoninas ficavam irritadiças por irrisórios motivos e então, com medo de acabar apanhando, resolvi encerrar o diálogo ali mesmo, prometendo emitir formidável assovio caso avistasse o convexo Pazuello por quintais e savanas.

Depois de me certificar de que os tropeis já se tornavam inaudíveis, voltei à minha atividade trevística, pensando que se por acaso encontrasse o abaulado Pazuello em meio a moitas, cortaria-lhe imediatamente os cadarsos com minha pequena foice. Se sabe que Pazuellos não caminham com sapatos desamarrados. Tampouco correm.

Talvez também lhe contasse que, antes do sol nascer, teria sua cabeça decepada a mando de voluptuosas Cláusulas Leoninas. Certamente me fitaria com olhos assustados e burros, mas logo em seguida me sorriria seu sorriso mais estúpido.

Os Pazuellos de nossa vila, de uns tempos para cá, têm escolhido, dentro de um universo infinito de mentiras, qual serão as verdades que utilizarão. O inverso também se aplica. Por supuesto.

ANNE LLOTTERRMMANN 3

O Bonner deixou aquela barba só por causa da Anne Lottermam. Ela deve ter falado em mim pra ele e ele resolveu me imitar o Bonner aquele ridículo.

Quando a Anne Lottermmann entra em cena pra dar a notícia do tempo eu sempre grito

MÃE!!! A ANNE LLOTTERMMANN, MÃE!!!

Daí eu e a mãe comentamos o feitio das calças da Anne Lotterrmmann, as cores e o bom gosto dela tão impecável pra falar a notícia do tempo sem fazer um errinho sequer e enquanto a mãe comenta, eu penso que tem tudo a ver aquela barriga tão côncava da Anne Llotterrmmann no encaixe mais do que perfeito com a minha barriga que é levemente convexa e a mãe dia desses disse que a Anne Llotterrmmaann é feia, a mãe tem ciúmes e inveja dela, a mãe é recalcada porque a Aanne Llotterrmmaann tem um metro e noventa e cinco de altura e a mãe é uma anã e faz dois dias que não falo com ela por causa disso.

Eu gosto da Aannee Llootteerrmmaann é porque ela tem umas letras dobradas no nome eu acho tão legal.

COVIDÃO

Nos conhecemos numa destas festas clandestinas e a moça era uma moça simples. Simples e encantadora. Ficou muito impressionada com meu sobrenome e passou a noite me chamando de vírus. Falava pras pessoas em volta que tinha pego o Corona duas vezes e repetiu isso trocentas vezes, mas quando a gente casa na festa e tá bêbado como um camelo, a gente não se importa nadinha com estes detalhes pequenos e só fomos interrompidos às três da matina com a chegada da poliça que deu fim ao proibitivo festerê. 

Nos trataram com a maior cortesia. 

Quando é professor ou estudante se manifestando, eles sentam o braço, mas festa clandestina, poliça só falta dar brinde. Não sei como fomos parar num motel, mas depois de nos lambuzarmos bem com álcool gel e usarmos calcinhas e cuecas à guiza de máscara, demos início aos trabalhos e pude notar que a menina era possuidora de notório talento e perturbadora volúpia e fui administrando o troço como dava até o momento em que ela retirou a cueca, quer dizer, tirou a cueca da cara pra poder falar alguns impropérios e fiquei assombrado com o repertório interminável de palavrões e chulices que a moça murmurava que chegou num momento que ela ofendeu minha mãe e até meus tios e percebendo que se aproximava formidável orgasmo me segurei na cama com todas as unhas e foi nesse momento de estrondo vulcânico que a moça gritou a todos pulmões;

- VAI, COVIDÃOOOOOO!!!

Bueno.

A parada se desmanchou como um pneu furado.

Levantei da cama e deixei ali a mina orgasmeando sozinha.

Depois de entornar minha caipira de álcool gel cloroquinado de um só gole, me aproximo da janela e passo a gargalhar em direção à lua.

Impressionante.

Gargalhadando e chorando ao mesmo tempo. Lágrimas de crocodilo? Não. Lágrimas de jacaré, por supuesto.

- Vem cá, minha pandemia. Vem de conchinha.

Reparei que a moça tava recomposta.

- Tá. Já tô indo.
- Vem me dar um pouco mais desse tratamento precoce, vem?
- Hum.
- Virusão.
- Bah.

Anne Lotteerrmmaann



Aqui em casa o ambiente continua tenso. A mãe teima em implicar com a Anne Lotterman.

Por falar nisso, a Anne Lotterrmmann não apareceu hoje pra dar a magnifica previsão do tempo. No lugar dela surgiu aquela baixinha ridícula.

Isso é coisa daquele também ridículo do Bonner que até deixou a barba crescer pra ficar parecido comigo. É capaz até de querer prejudicar a Anne Lotterrmmann na empresa por causa dessa inveja peçonhenta que ele sente por mim o Bonner esse ridículo.

Não vejo a hora de encontrar aquele mulherão da Annee Llotterrmmann e subir nela. Vou ficar bem encarapitado no ombro da Anne Llotterrmmaann e vamos passear por todo o Rio de Janeiro e até no zoológico nós vamos no zoológico que tem zebra leão e camelo fedorento e depois até cachorro quente ela vai me pagar a Aannee Llootteerrmmaann eu acho que gosto dela por causa das letras duplicadas que ela tem no nome a Aannee Llootteerrmmaannn e até triplas eu acho.






HOMO MINIONS

Diz que levou cem mil anos até que o homo sapiens conseguisse eliminar completamente o homo minions do planeta.

Espero realmente que nosso problema não dure tanto.

Mas deixa contar de uma matéria que li a respeito de pesquisa que foi feita em pinturas rupestres de cavernas de Altamira de onde foi traduzido o seguinte diálogo.

- Pô, Sapiens. Não consigo entender esta obsessão louca que vocês têm por nos extinguir.
- Sabe o que é, véi? Vocês, os Minions, são irritantes pra caráleo.
- Por?
- Vocês não entendem metáforas.
- É?
- E tampouco entendem ironia.
- Mas me explica, então.
- Seria pura perda de tempo.
- Com tamanha intransigência vou acabar te metendo a clava.
- Óh o lindinho que ainda quer posar de racional. Já se vê.
- Como assim?
- Viu?
- Que?
- Não consegue entender ironia.
- Hum. E a metáfora? Me explica.
- Vou te dar um exemplo.
- Tá.
- Presta bem atenção nessa frase.
- Vai.
- Mais vale um pássaro na mão do que dois voando.

Naquele momento, o Homo Minions, com o rosto turvado pela dúvida, olhou para o alto afim de vislumbrar a possibilidade de haver alguma ave, ou até mesmo duas, voando sobre sua cabeça, e foi naquele exato momento que o Sapiens, possuído por incontida fúria, lhe aplicou uma surra bem dada de clava, dando assim seguimento ao lógico processo de extinção do concorrente tão pateta.

Se pensava que os Homo Minions haviam sido completamente eliminados, mas, surpreendentemente, foi observada a existência de três indivíduos da espécie na CPI da Covid. Passados milênios, os queridos continuam não entendendo metáforas e ironias e agora, ainda por cima, deram pra mentir. Mentem mais do que falam, os bonecos.

Agora, se me dão licença, vou vou dar um lustro na minha clava que acabou de chegar da marcenaria.

Bah. Esta última frase é pra rachar cachola de Homo Minions.

É uma ironia metafórica. Ou seria uma irônica metáfora?

O DERRADEIRO SOLUÇO

Conta-se que, em antiga data, na formosa província de Braziléia, o mais perverso entre tantos homens perversos, acabou por se tornar rico e poderoso.

Este homem era odiado pela grande maioria da população das aldeias, no entanto ainda era celebrado por um menor contingente de birutas que teria sido possuído por potente e inacreditável feitiço e, com o passar do tempo, tal súcia logrou transformar o fabuloso paraíso de Braziléia num acinzentado amontoado de mentiras, injustiças e demência.

Riaj, mais do que tudo, matou.

Riaj matou cinco e sentiu prazer.

Matou então cinquenta.

Não contente com isso, matou quinhentos e celebrou o feito com seus filhos que ululavam e ovulavam de regozijo. Tal prazer não bastou e então Riaj matou cinco mil e logo matou cinquenta mil e não tardou a eliminar quinhentas mil almas que se foram desta vida sem ter chance nem clemência.

Este homem era possuidor de insaciável ganância e, através de seus quatro filhos, pretendia disseminar suas infâmias e perversões pelos quatro cantos da terra que acreditava ser plana como uma bolacha Maria e quadrada como uma Cream Cracker.

O nome deste homem?

Riaj.

Certa noite, num agudo sobressalto, Riaj despertou com a sensação de que não estava só em sua habitação. Pôde vislumbrar através da penumbra que realmente havia alguém que o acompanhava.

- Quem está aí e por que aí estás?

Riaj acompanhou o movimento do vulto que aproximou-se um tanto, revelando que se tratava de uma bela mulher que emanava serenidade e exibia um sorriso generoso.

Riaj então odiou, pois odiava toda e qualquer mulher, odiou o sorriso, pois Riaj jamais aprendera a sorrir mas, acima de tudo, odiou a tonalidade trigueira da pele daquela intrusa.

- Afasta-te daqui, ou será aqui mesmo que te darei morte.

A mulher aproximou-se mais e inclinou-se para que Riaj pudesse ver os detalhes de seu rosto.

- Não podes me matar, Riaj
- E por que não, vil assombração?

Riaj fez menção de sacar a adaga da bolsa do catre, mas a frase seguinte lhe fez paralisar.

- Não podes me matar porque já me mataste uma vez, Riaj.
- Dizei então como te chamas, fantasma das trevas.
- Sou Arielle. Não te recordas?

O olhar de Riaj perdeu-se no vazio em busca do que este nome podia lhe recordar e este lapso durou alguns segundos até que o pérfido homem saiu do transe e sua resposta veio acompanhada de um inocente soluço que lhe fez engasgar levemente.

- Lembraste, não é Riaj? Posso ver que lembraste claramente de mim. Vim aqui especialmente para te deixar este pequeno presente.
- Que presente, nefasto ser?

Esta indagação de Riaj foi colocada entre uma impertinente moldura de dois soluços.

- Os soluços, Riaj. Os soluços.

Riaj gargalhou frente a tamanha afronta e bradou insandecido.

- E que dano pensas que me faria um simples acesso de soluços, óh alma penada? Não vês que sou Riaj, o poderoso!?

Seguido a isso, Riaj, num rápido movimento, empunhou a afiada adaga e golpeou com fúria, mas Arielle, num gracioso gesto, agilmente esfumaçou-se e desapareceu nas filigranas da noite, deixando no ar um suave odor de amêndoas e mel que Riaj também odiou, pois Riaj odiava toda e qualquer boa fragrância. O cheiro da chuva, da maresia, o cheiro do sexo, Riaj sabia, como ninguém, odiar.

A partir daquele momento, Riaj nunca mais deixou de soluçar. Os espaços entre os soluços foram diminuindo e a intensidade aumentando. A partir do quinto dia, as frases de Riaj já não se completavam. No décimo, o malvado homem não mais podia alimentar-se. Foi na trigésima noite que Riaj já não conseguia adormecer e foi na jornada de número cinquenta que Riaj, em seu leito de morte, diante de seus ignóbeis descendentes, emitiu seu último soluço em vida, quando a derradeira e brutal contração rompeu pele, músculos, nervos e órgãos e as vísceras foram lançadas com violência em direção a janelas, paredes e tetos, e aromas fétidos espalharam-se pelo povoado que clamou que o cadáver fosse enterrado imediatamente, cadáver este que continuava soluçando, mesmo depois de ter sido colocado dentro do caixão, que os agora solitários filhos da besta, cada qual com a mão em sua respectiva alça, iam carregando com extrema dificuldade, pois os espasmos tornavam-se cada vez mais violentas e pelas frestas do ataúde via-se com assobro escorrer a putrefata lava que vertia das entranhas do corpo que pertencera a Riaj e, neste instante, nuvens negras repentinamente tomaram os céus. um vento ventou com fúria e os soluços do vil defunto se tornaram gritos que ecoavam pelas montanhas como tambores japoneses e no momento em que o caixão seria, entre tropeções, por fim depositado sobre a cova, a terra se abriu, tragando em direção às suas profundezas primeiramente o sepulcro e logo em seguida a prole toda, que manteve intacto o costumeiro olhar apatetado até desaparecer por completa da vista dos abutres que assistiam a cena com vivo interesse e não esconderam sua decepção com desfecho tão inapropriado.

Neste exato instante, por toda Braziléia, o silêncio se fez.

As nuvens se foram.

O vento desventou.

O sol veraneou.

Logo gramíneas surgiram aqui e ali por sobre a cova em direção a todos vilarejos.

Quem por ali passasse, poderia assistir a duas pequenas margaridas que haviam nascido lado a lado e entrelaçavam-se com alegria. A cena era assim como um beijo daqueles beijos bem abraçados de quem celebra o fim de uma sangrenta guerra. Acho que vi tal imagem numa foto em branco e preto de uma revista velha e não tenho certeza de que fosse Paris. Talvez Nova York, não sei ao certo. O homem era marinheiro. A moça era bela e beijava sorrindo o sorriso de Arielle.

Anne Lotteerrmmaann 4

Elas tavam treinando a notícia do tempo quando a Annee Llotterrmmann criou coragem e acabou contando pra Maju que tamos de rolo, com noivado marcado salgadinho e tudo.

Como se pode ver na foto, Maju sofreu este baque e ficou bastante nervosa a ponto do Bonner, todo aflito, ter de trazer água com açúcar pra ela beber e ela bebeu com goles de passarinho e só assim conseguiu se acalmar um pouco pra poder dar o noticioso com a clareza que lhe é tão peculiar.

Por aqui por casa, a mãe continua com pressões pra acabar com o romance. Dia desses teimou comigo que o tailleur que a Aannee Llootteerrmmaann tava usando era cor majenta, a mãe não sabe nada a roupa da Annee Llotterrmmann era fúcsia uma cor tão bonita e colorida linda a cor e perfeito feitio.

Por sua vez, a megera da minha irmã fica imitando o gestual da Annee Llotterrmmann como se ela fosse um robô e também aproveitou pra inticar com a mãe que adora o Tralli, dizendo que o Tralli parece um espermatozoide perneta com aquela cabeça de Tralli que ele tem e a mãe embrabeceu e atirou um chinelo nela que pegou na orelha e bateu no lustre que quebou a lâmpada e eu só varrendo, varrendo, a culpa não foi minha.

Orgasmos e espirros

Com o avançar da idade, espirros e orgasmos vão se tornando, a cada dia que passa, mais prazerosos. É claro que devo dizer que, enquanto uns rareiam, outros aumentam seu número em proporção astronômica.

Considero que seja uma extrema sorte quando são concomitantes. Isto é. Quando os dois fenômenos ocorrem  exatamente ao mesmo tempo. Se trata realmente de um mar de volúpia. Tenho até pensado em comprar rapé para usar nestes momentos H.

Me sinto obrigado também a comentar que, quando acontece este fato, que eu chamo de "a pororoca dos prazeres", é bastante necessário prestar o máximo de atenção e manter a concentração no topo, para que não haja outras irrupçoēs de variadas ordens, que são deveras indesejáveis e que se tenha, como na última quarta-feira, de buscar rodo e panos, e entrar madrugada a dentro lavando tetos e paredes, tarefa que se cumpriu solidariamente, e penso que as razões para isso são óbvias.

Afora isso, Nestor do 501, que é síndico e cínico, com seus olhos de raposa velha, veio me perguntar se eu teria ouvido um estouro precedido de gritos na madrugada de quinta, pois os moradores estavam bastante irritados com o que ele resolveu chamar de putaria lamentosa. Não sei de onde Nestor tirou essa ideia, mas sei que ele sabe muito bem que há apenas uma pessoa neste grande condomínio de assexuados que realizaria este tipo de atividade numa madrugada de quinta. Aqui neste prédio só se trepa nos domingos, nos intervalos do Fantástico. Vez por outra escuto algum suspiro desanimado, e por mais que eu coloque um copo na parede pra acompanhar o movimento, resulta que sempre chego atrasado e a função terminou e penso que meus vizinhos todos não passam de coelhos adestrados.

- Não, Nestor. Nesta madrugada de quinta, estava eu estudando e não ouvi qualquer tipo de ruído pelo edifício.
- Esperamos que não se repita, é claro, meu rapaz. As multas são tão pesadas e seria bastante constrangedor que tal punição acontecesse.

Depois de esboçar um sorriso de hiena, Nestor se foi pelos corredores em direção a seu apartamento.

Acompanhei seu trajeto até abrir a porta e pude ver um tanto de sua sala. A quantidade de móveis que havia ali era inacreditável.





Paulo Mário, o dentista

Paulo Mário é um dentista que possui consultório em bairro bom.

Paulo é também protético talentoso e por isto possui uma clientela numerosa e fiel. Além de toda competência, Paulo Mário é dono de uma paixão desenfreada pela política e, via de regra, no calor destas horas brasileiras, bate uma bola animada com seus pacientes.
Dona Lourdes foi a primeira cliente a chegar ao consultório naquela manhã de terça. Enquanto o doutor preparava o equipamento, já foi soltando.

- E estas pesquisas que tão dando vitória do Lula em 22? Hein , Paulo? Estas pesquisas compradas. Já não chega o Lularápio estar solto e ainda vai concorrer!!! Não é o fim?
- É o fim sim, Dona Lourdes. Lula acabou com o país. Tinham de prender de novo e jogar a chave fora.
- E a Globo apoiando, como sempre.
- Plim plim. Comunismo se vê por aqui.
- Que ódio.
- Agora. Deixa eu lhe contar.
- Hum.
- A senhora tem conhecimento de que o Lula sabe muito bem esconder seus ganhos. Não é?
- Certamente.
- Pois fiquei sabendo que o danado também comprou muito ouro e até colocou nos dentes.
- Nos dentes??
- Nos dentes.
- Mas não vejo nenhum dente de ouro na boca daquele ladrão.
- Ouro interno.
- Ouro interno?
- Sim. Mais porcelana chinesa.
- Na cobertura?
- Exato. E por cima de tudo, uma fina camada de esmalte de titânio, que é dez vezes mais caro que o ouro. Coisa que veio da Nasa.
- Certamente presente do Biden.
- Claro. Chefes de estado comunistas se dão agrados.
- Que nojo.
- Sabe quanto cada peça?
- Diga.
- Vinte mil.
- Cada dente??
- Cada dente. Os caninos mais um pouco. Uns vinte e cinco.
- Tinham que prender e arrancar tudo sem anestesia.
- Eu faria esse trabalho com o maior gosto, Dona Lourdes. Mas vamos a este nosso trabalho aqui.

Dona Lourdes abriu o bocão e Paulo Mário começou a limpeza que era tártaro de montão, tinha tártaro na língua e até na amígdala e o doutor foi metendo o instrumento com gosto nas cavidades e reentrâncias e a velha trançava as pernas pra lá e pra cá que o troço tava sofrido demais, ares e jatos de água geladinha naqueles pontos exatamente críticos que o Doutor conhecia tão bem, excelente profissional que era.

O paciente seguinte, professor Raimundo, com ar cansado, acomodou-se na cadeira, e desabafou.

- Paulo Mário, olha só. Não dá mais pra suportar este Bozolóide aprontando uma por dia e fica todo mundo só na moçãozinha de repúdio. Algo tem de ser feito. É urgente.
- Calma, meu bom professor. Lula tá vindo aí. Vai dar Lula no primeiro turno, vais ver só.
- Será, Doutor?
- Vai, sim. Daí vão pegar o Bozo, vão meter na cadeia por todos os crimes cometidos e vão jogar a chave fora pra nunca mais. Lá dentro o cara vai se ver com uma ala da milícia que ele surrupiou e vai ter vingança pesada. Vão torturar ele com o método Ustra. Vão enfiar ratazanas de porte médio no rabo do cara, vão extirpar as unhas devagarinho...

O doutor foi vaticinando enquanto examinava a dentadura do professor que ficou deveras impressionado com o "porte médio" que teriam os ratos e aquela espuma no canto da boca do protético que seguia inventando tenebrosos castigos também lhe causou um certo desassossego, ser examinado assim por alguém possuído por tamanha fúria talvez não fosse muito bom, mas os tempos caminham desta forma, a política anda comendo as entranhas dos viventes, nada mais se pode fazer, estamos navegando ao sabor da violenta correnteza que vai nos dando caldos homéricos dia sim e no outro também.

Depois que o professor se foi, entrou esbaforida na sala, Lidinha. 

Lidinha, toda bem feitinha, empresária de joias e bijus, muito fitness, tinha recém vindo da academia. Ficou em silêncio todo o tempo. Doutor Paulo teve de cutucar um pouco a fera, enquanto fazia efeito a anestesia.

- E essa polarização que vai aumentando a cada dia? Não tá uma loucura?
- Tá sim, Paulo. Não suporto mais isso. Vamos ter de encontrar logo de uma vez esta terceira via porque Lula e Bozo não dá pra querer, né?
- Estes dois tinham de atirar no fundo da mesma cadeia e jogar a chave fora. Que ficassem lá dentro mordendo o pescoço um do outro até o fim dos tempos.
- Acho que o Moro seria um bom nome, você num aicha?
- Moro é excelente nome. Mandetta...
- Isso. Goixto do Mandetta também. Inteligeinte.
- Huck.
- Huck? Pode ser sim. Também goixto. E de vice? Quem seria?
- Ivete.
- A Sangalo?
- Com certeza. Empresária fantástica. É disso que precisamos. Gestão!
- Hum. Num sei não.
- Datena, Romário. Aquela do magazine Luiza. Qualquer dupla com estes nomes poderia compor muito bem.

O restante da consulta seguiu neste plano de encontrar a chapa mais perfeita e até o nome de Juliette e Anitta foram aventados.

O paciente seguinte era um tratamento de canal. Era cliente novo. Primeira consulta. Se chamava Valdemar e vinha com um abcesso no molar do tamanho de um navio. Depois de meio litro de anestésico e infindáveis brocagens o troço veio a furo e uma maresia fétida se espalhou pelo consultório. Depois das cusparadas, Paulo perguntou.

- Tá tudo bem?
- Tudo bem sim. Pelo menos a dor aliviou.
- Que bom.
- Mas me diga uma coisa, Doutor.
- Digo.
- E as políticas?
- As políticas estão fervendo.
- E Bolsonaro?

Paulo Mário ficou olhando praquele alemão sem saber o que dizer. Pra ganhar tempo, mandou.

- Bolsonaro é o Bolsonaro.
- É sim. Mas me diga sinceramente.
- Digo.
- O que o senhor acha dele?
- Do Bolsonaro?
- Isso.
- Como assim? Você tá falando do presidente?
- Claro, Doutor! De quem mais seria? O presidente, sim!
Possuído por irresistível furor, resolveu arriscar.
- Canalha.
- Como assim, canalha? Jair Messias Bolsonaro veio varrer toda a corrupção deixada pelo PT, doutor!!!
- Calma! Você não entendeu direito. Canalha é quem fala mal desse homem. Bolsonaro é nosso mito, pô!!!
- Puxa vida!!! Por um momento pensei que você fosse um esquerdopata, Doutor. O PT acabou com o País. E ainda querem eleger de novo aquele ladrão do Lula.
- A Polícia tinha de meter a mão nele de novo, Valdemar.
- É sim, Doutor. Enfiar ele numa cadeia e jogar a chave fora.
- Bueno. agora ao trabalho. Bocão.

Paulo Mário foi experimentando os canais com as agulhas e pensando que não havia reparado nos detalhes, a camisa polo, o pochetão, tava na cara que o cara era minion, mas deu pra contornar. Essa tinha sido por muito pouco, mas agora era questão de limpar os canais, escarafunchar bem com a agulha mais grossa, quem sabe cutucar um pouquinho o cerebelo, não é? quem sabe o cerebelo não se enrosca todo na agulha e a limpeza não fica absolutamente perfeita pra depois quem sabe acimentar tudo até o topo, tudinho, até esterilizar por completo este inesgotável criadouro de infâmias, isto sim seria o must, não é não?

Façamos

Os sabiás invadiram o mundo. Tão por todo lugar e andam animadíssimos.

Quando eu era pequeno não havia sabiás. Tinha bentevi e uma profusão de pardais.

Bentevi quase não se vê mais e os pardais desapareceram completamente. Mas sabiá tem. E como tem! Começam com a cantoria no meio da madrugada e soltam o berro o dia inteiro.

Dá uma felicidadezinha ouvir um sabiá cantando num fim de tarde de verão, principalmente se for no fim de semana, quando as pessoas se vão e deixam a cidade deserta. Algum sábio disse que a melancolia é a felicidade de estar triste. Talvez seja mais ou menos isso. É bom saber que tem alguém que descriminaliza um pouco a tristeza.

Por falar em melancolia, outro canto que sempre me assombrou é o canto da Alma de Gato.

A Alma de Gato é um pássaro predador, de uns cinquenta centímetros de altura que pia durante o voo. Voa lá em cima, bem alto. Emite um piado único, faz um intervalo breve, pia de novo e assim, no momento em que ela vai se afastando, as leis da física fazem com que os piado subsequente soe mais grave que o anterior, criando uma sequência lenta de piados que vão decrescendo em direção às frequências mais baixas. Puta dificuldade de explicar, mas o piado do Alma de Gato é tão melancólico quanto o barulhinho do formão que algum homem bate, lá numa obra distante, no meio de uma ensolarada manhã de abril com aquela nevoazinha que vai se aproximando querendo aquarelar nossa existência.

Pois tempo desses, antes da pandemia, fomos na churrascaria Barranco, aqui perto de casa. Sentamos do lado de fora, e no arvoredo acima de nossa mesa, reparei que havia movimento. Tinha ali um casal de Alma de Gato, com suas caras invocadas. Ficamos observando a função daqueles pássaros bonitos até que alguém comentou.

- Eles ficam aí esperando restos de carne que as pessoas dão.

Não acreditei muito, mas não é que o bicho desce da árvore e abocanha um pedaço de picanha?

Caraca!

Picanha salgadona. Já deve ter pressão alta e tudo, e com aquela cara de mau humor, pode muito bem empalmar acometida por fulminante infarto.

Mas diz que mandam picanha, maminha e até salsichão. O Valdemar, o garçom mais antigo, jura que viu um bicho daqueles dando umas bicadas num chope que tinha sido esquecido na mesa.

Mas voltando ao sabiá, eles tão bem loco com a aproximação da primavera. Sabiás e sabiôas querem namorar muito. Por isso piam sem parar.

Pensei então que talvez tenha sido o sabiá que inspirou Cole Porter a compor aquela fantástica canção chamada “Let´s do it”, sobre a qual Carlos Rennó fez uma versão à altura, incluindo algumas referências brasileiras muito divertidas.

“Os rouxinóis, nos saraus, fazem
Picantes pica-paus fazem
Façamos, vamos amar
Uirapurus, no Pará, fazem
Tico-ticos no fubá, fazem
Façamos, vamos amar.”

Dia destes prestei atenção a esta canção na voz de Elza e Chico, e emocionado, a ouvi várias vezes, no carro. Um baita antídoto pra este veneno que vamos inoculando diariamente. Aqui vai mais uma estrofe, chegando na sessão dos peixes.

“Dourados, no Solimões, fazem
Camarões, em Camarões, fazem
Façamos, vamos amar
Piranhas só por fazer, fazem
Namorados por prazer, fazem
Façamos, vamos amar”

No final, diz:

“Leões ao léu, sob o céu, fazem
Ursos lambuzando-se no mel fazem
Façamos, vamos amar
Façamos, vamos amar.”

No momento em que a Elza entra rasgando nos “Leões ao léu” é como se de repente rolasse uma ventania pra sacudir com tudo. E logo:

“Sob o céu”. Aí, é como se a justiça estivesse sendo definitivamente feita e:

“Ursos lambuzando-se no mel fazem” é pra gente terminar gargalhando. A relação entre as sílabas escolhidas pelo Rennó é magnífica e dá um prazer imenso de cantar mesmo quando a gente não canta nada.

É isso. O recado do sabiá é muito claro. É claro e vai ficar por aí todo o tempo até o fim do verão, que é pra gente não esquecer:

Façamos.

Sobre bestiário



A Besta disse que é;

IMBROCHÁVEL

IMORRÍVEL
e
INCOMÍVEL

A besta se entrega sempre.

Quando ele postou aquele golden shower argentino dizendo que era carnaval brasileiro já deu pra perceber que o cara tem especial atração pelo assunto.

Não é?

Do nada!!! Vem com aquilo.

A besta, na ocasião, criticou a pouca vergonha. Mas por que caralha então publica?

Publica porque gosta.

Agora vem com isso.

Imbrochável e imorrível são fatores individuais. Individuais e involuntários. Todo mundo chega uma hora que brocha. Brocha e depois morre. Às vezes a ordem é inversa, eu sei, mas dessas duas cosa ninguém foge. Tô certo?

Já o "incomível" não. O "incomível" coloca na pauta uma outra pessoa. Um alguém que se interesse e tenha a devida coragem de querer comer aquela tralha. Tás acompanhando?

Então. O recado que está ali é;

- No tocante ao sexo da pouca vergonha disso daí, ninguém vai me comer porque eu não deixo.

Isso faz a gente pensar que o cara tem uma vontadezinha de dar a bunda, mas se segura nos canecos.

Dizem que a besta não bebe. Talvez seja por puro medo de soltar a franga de vez.

Dia desses li por aí que o Caetano, certa feita, chamou Paulo Francis de bixa enrustida e alguém cobrou Caetano pela frase preconceituosa. Ele respondeu.

- A ofensa tá no "enrustida ".

Olha só! O autoritarismo tem tudo a ver com as bixas enrustidas.

Prestatenção!!!

Exército, polícias, motociatas.

Um mar de peludos.

Hoje deu na TV que os Talibãs não se rebaixam indo pra cama com seres inferiores como as mulheres.

Tá parecido.

Alargando um pouco a alma

Suellen adora Anitta. Pra Suellen, Anitta é tudo. É muito mais do que Ivete e é até mais que Britney ou Shakira e Suellen acha que esta última música da Anitta, Girl from Rio, é a mais irada que a cantora já cantou e numa tarde de sábado, Suellen chegou em casa apurada pra ir ao banheiro, mas antes ainda teve tempo de abrir o youtube no smarth, clicar na canção e jogar o aparelho em cima da cama enquanto saia voando do quarto e então já sentada, aliviando aquele prazer todo, descobriu que a clicada tinha sido errada e vinha do quarto aquele som estranho, um homem entra cantando, que engraçado aquilo, a mesma música da Anitta, só que com outra letra, uma letra em português, uma voz de homem esquisita e no momento anterior a puxar a descarga, Suellen ouviu uma outra parte que o homem perguntava porque estava tão sozinho, uma parte ainda mais esquisita que não tem na música da Anitta, ah, não tem mesmo, então Suellen buscou o celular, e pra acabar com aquilo, clicou no exato link que possui um bilhão e meio de visualizações e satisfeita com o sucesso daquele ato, foi pra cozinha lavar a louça que tinha ficado do almoço, ouvindo a girl, esta sim, a girl da Anitta que foi cantando junto um inglês bem inventado, até o fim, mas logo em seguida entra de novo aquele homem cantando olha que coisa mais linda e pra não molhar o celular, Suellen foi ouvindo, foi ouvindo, e de noite com azamigas mostrou aquela versão mais ridícula, que todas concordaram que era sim, bem ridícula!, e entre ices e aperóis, Suellen e azamigas cantarolaram, a plenos pulmões, aquela segunda parte, caprichando nas caras teatrais e foi Kathiellen que, com expressão severa, disse que “olha só como as pessoas são, as pessoas querem se agarrar no sucesso dos outros, esse cara quer ganhar algum em cima do talento da Anitta, não é não?” e foi nesse momento que os meninos chegaram e a noite então ganhou outros rumos, mas deixa eu contar que foi na terça de noite que Suellen, como sempre, clicou na girl da Anitta e entrou no banho e nem se importou quando a música terminou e Jobim, com aquela voz áspera, cantou logo em seguida, Suellen acompanhou bem, cantou junto sim, pois já tinha até decorado aquela letra esquisita e foi até o fim quando depois do silêncio entra um sonzinho também esquisitinho com uma mulher cantando uma coisa repetida,que é isso, que é aquilo, que é aquilo outro, mas o que é que é? que ela nunca diz o que é? e daí entra um homem cantando que é o nó na madeira, caraca!, é aquele mesmo homem que canta a música da Anitta, e Suellen escuta a cantora voltar a cantar e pensa que parece que é de cristal, dá a impressão de que tá sorrindo e o homem entra de novo, até que ele não canta tão mal, mas a mulher, sim, essa mulher tem uma voz irada, que sonzinho tão maneiro e Suellen, sem pressa alguma, passou creme no cabelo e dançou uma dancinha miúda, de olhos bem fechados ali mesmo embaixo do chuveiro, experimentando uma sensação gostosa no peito, aquilo que a gente sempre sente toda vez que a gente dá uma alargadinha na alma.