sexta-feira, 28 de setembro de 2018

GASTRITE CEREBRAL

Hoje lembrei de Maria Cristina Bogossian, uma amiga carioca, que dizia que toda manhã abria o jornal O Globo só pra se irritar.

Pois eu também gosto de me irritar.

E é por isto que, de vez em quando, entro na página da Terra Plana.

Ali, você pode encontrar o supra sumo da imbecilidade humana.

Tem alguns diálogos muito engraçados. Os argumentos são estapafúrdios ao cubo e vou lendo tudo aquilo pra regar minha gastrite cerebral.

Chega num ponto, o cume da irritação, que começo a pensar que quem acredita em terra plana tinha de pegar cana.

Na hora.

- Vem cá. Me diz uma coisa. Tu acredita em terra plana?
- Acredito.
- Sério?
- Sim. E você certamente deve pensar que a terra é redonda, não é?
- Claro! Redonda como uma bola de boliche sem os furos, pô!
- Então prove.
- Que??!!
- Me prove então que a terra é redonda.
- Bah. Olha só! Vai tomar no teu cu. Tá preso, véio. Nestor! Algema esse mala!

Outra coisa. Sabe estes que dizem que o nazismo é de esquerda e inclusive entraram na página da embaixada alemã pra corrigir o vídeo que os caras fizeram?

Sabe estes?

Pois dia destes, num post, vi um dos adoradores da besta escrever uma lauda imensa provando que o nazismo é de esquerda.

Caralhas! Deviam chamar uma sumidade destas pra reescrever toda a história da humanidade. Não é não?

Eu acho que um cara destes devia pegar uma cana de, pelo menos, dez anos.

E estes que falam sempre sobre a lei Rouanet? Estes que falam sem nem saber do que se trata? Hein? Que tal estes que tem até meme pronto com a foto do Chico? Não merecem cadeia? Acho que a pena justa pra tal tipo de toupeira seria meia prisão perpétua. Meia perpetuinha ficava de bom tamanho. Parius.

E os que falam sobre os direitos humanos? Hein, hein, hein? Aqueles que dizem que direitos humanos protegem bandidos? Que que se faz com um tipo destes? Eu sei. Prisão perpétua inteira e só pode beber fanta uva.

E aqueles que condenam as cotas e tampouco sabem do que se trata? Não sabem o porquê da criação das cotas. Não sabem a quem contemplam. Não sabem como funciona. Estes que emitem opinião sem conhecer o mínimo sobre o assunto? Heiiiiiinnnnnnnn? E logo em seguida estufam o peito pra falar a palavra “meritocracia”??!!! Me fala. Heiiiiiiinnnnnnnnnnnnnnnn!!!!??? O que que a gente faz com este protozoário?

– NESTOR!!! TRAZ A CORDA QUE ESTA MALA MERITOCRÁTICA A GENTE VAI ENFORCAR UM POUCO.

E por fim....aaaaaahhhhhhhhhhhhhhh.....Me traz sete omeprazóis e quinze rivotris que a gastrite tá comendo minhas entranhas por causa destes asnos!!!! Estes asnos desidratados que dizem que há comunismo pelo país. Estes jumentos alucinados que proclamam que Lula é comunista e que seu plano é transformar o Brasil numa Venezuela. Heiiiiinnnnnn!!!!????? O que você acha? Responde!!! O que se faz com estes treponemas? Pois estes eu sei muito bem do que precisam.

-NESTOR!!! PASSA MANTEIGA NO SUJEITO E BOTA NA TORRADEIRA!!! DEPOIS DE BEM TOSTADO, CREMA!!! DEPOIS DE CREMAR, ENTERRA!!! NÃO DÁ PRA FACILITAR COM ESTE TIPO DE MULA!!!

O historiador Fernando Horta, dia destes sintetizou muito bem:

"Estamos há quatro anos sem pensar direito em nossas vidas, carreiras e etc.

Tudo porque alguns milionários cansaram de brincar de democracia e pagaram para um bando de desocupados espalhar por aí o velho medo do comunismo."

domingo, 23 de setembro de 2018

A NOITE DO SEU FRANCISCO

Estávamos bebendo e brindando uma linda noite e o assunto caiu no Chico, no concerto que ele fez em Porto Alegre, e ela disse que não vai esperar que o Chico venha aqui em outro lançamento, ela disse que vai atrás, que vai viajar pra ver o Chico novamente em outro lugar, em qualquer lugar, pelo menos mais uma vez e lhe contei que, no Araújo lotado, me debulhei em lágrimas durante todo o show do cara, foi um convite que a mana me fez, que é uma pessoa gigante que me orgulha tanto, minha colega de copo e conversa a mana, e bebemos antes, durante e depois, gigante que ela é, gigante como ele, o Seu Francisco que me acompanha faz meio século, Seu Francisco que me dá norte e referência, e chorei que nem bezerro pela beleza que é aquilo tudo, pelas novas canções que parecem clássicos e pelas velhas que caem como uma luva nestes novos e pontudos tempos, chorei no Sabiá que diz que “vou voltar” e voltar é sempre bom, pois eu voltei, depois de perambular um pouco por aí, voltei pra quem sabe fechar a tampa por estas cinzentas bandas sulistas e chorei por notar um fio de fragilidade na voz daquele homem que já passa dos setenta e pra mim que agora estou vivendo a juventude da velhice nos meus sessenta, estes momentos começam a ganhar ares de despedida, e chorei também minha raiva por ver a injustiça medrando por todo canto, por descobrir que existe tanta perversidade misturada a tanta ignorância de muitas pessoas que acham que a verdade é uma palavra que está fora de moda, pessoas de alma danificada, e chorei porque sabia que havia gente importante para mim naquelas três noites de música genial e que depois comentaríamos o fantástico evento e celebraríamos a vida, a nossa imensa sorte, e agora lhes conto que derrubei um rio de lágrimas por tudo isto, lhes conto que no fim desta noite, embriagado, cheguei em casa aos tropeções, fui ao berço e dormi completamente vazio de tudo, não sonhei nadinha, e nem precisava, pois depois de se assistir a Seu Francisco tenho certeza que ninguém carece de sonhos, uma noite rara que foi, destas noites em que a vida parece normal e bela.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

O CARALHO, PRA QUEM NÃO SABE

é a palavra com que se denominava a pequena cesta que se encontrava no alto dos mastros das caravelas, de onde os vigias perscrutavam o horizonte em busca de sinais de terra.

O CARALHO, dada a sua situação numa área de muita instabilidade (no alto do mastro) era onde se manifestava com maior intensidade o rolamento ou movimento lateral de um barco.

Também era considerado um lugar de castigo para aqueles marinheiros que cometiam alguma infração a bordo.

O castigado era enviado para cumprir horas e até dias inteiros no CARALHO e quando descia, estava tão enjoado que se mantinha tranquilo por um bom par de dias. Daí surgiu a expressão:

- Vai pro caralho!

A ponta do mastro fazia parte do CARALHO e esta possuía forma cilíndrica. Não se pode ter certeza, mas talvez por esta razão, o CARALHO passou a ser relacionado ao órgão sexual masculino.

O termo encontra correspondente no castelhano carajo, no galego carallo, e no catalão carall. Em Madrid, se você entrar num café e pedir um carajillo, eles te servem café com conhaque e o motivo nunca descobri.

Faz já um bom tempo, minha mãe de tanto nos ouvir falar, e sem imaginar do que se tratava, resolveu incorporar a palavra a seu repertório. Num domingo de almoço com familiares mandou.


- Bah. Esta lasanha tá do caralho.

As tias ficaram incrédulas.
Marilice Corona estava passando uns dias no Rio de Janeiro e fomos visitar o Forte de Copacabana. Ali no forte se come muito bem e barato. Servem uma salada mista com presunto Parma e só isto já é uma refeição. Depois do almoço fomos ver o mar desde a grande platibanda, onde há canhões. Quando retornávamos, conversando sobre a beleza da paisagem, à nossa frente emergiu das escadarias uma menina lindinha, toda arrumada e de bolsa à tiracolo. Teria nove, dez anos. Quando se deparou com o oceano magnífico, a fisionomia se iluminou, e com os olhos arregalados e voz fininha, num forte sotaque carioca, proferiu com clareza a palavra que não podia ser outra.
- Caralho!!!

Nestes tempos felpudos e farpantes, quando andamos puteando e reputeando sem parar, já é usual utilizar até no feminino. No tratamento de minha gastrite cerebral, falar palavrões é importante medicina e de vez em quando sai.

- Para com esta caralha aê, pô!

E também já virou verbo.

DESCARALHAR. Significa desajustar, esculhambar, perder o prumo.

Exemplo. “Esta extrema direita é formada apenas por patetas, e por isto é vital evitar-se que cheguem a qualquer tipo de poder, sob pena do país descaralhar de vez.”

Meu filho tinha uns dois anos quando entrou pela primeira vez numa lotação. No momento em que o o veículo se pôs em marcha e ganhou velocidade, todos puderam ouvir sua vozinha entusiasmada.


- Bah, vó! É du calalou.

Baita assunto, né?

É o que tem,
é o que tem,
é o que tem,
é o que tem,
é o que tem meu bem.