Lembrei de um jingle que tive de fazer prum híbrido de milho de uma marca chamada Pioneer. O refrão ficou assim:
Pioneer, Pioneer
Este milho é diferente,
Este milho é Pioneer.
Alguém entrou no estúdio e ouvindo aquilo começou a dar risada. Perguntei o porquê.
- É que parece que é Pai Onir, um caboclo, um pai de santo, que é a marca de um milho diferente, especial pra trabalho, pra despacho na encruzilhada.
E não é?
Daí tocou na rádio um pagode ou sertanejo, não lembro direito, e o refrão, que repetia muitíssimas vezes, era:
A FILA ANDA
Mas o que acontece é que, cometendo uma prosódia, os caras acentuaram no A. Então ficou:
Áfila Anda.
Daí pensei. Áfila Anda fica legal. É o nome de um famoso escritor e guru indiano.
Gravei um disco muito bacana com Neto Fagundes chamado Regional Brasileiro e tinha um baião arretado que num determinado momento dizia.
Chula se dança com pé.
Mas a melodia foi fortemente acentuada no “se” e então dava a impressão de que era;
Chulacy dança com pé.
E como aquele trecho daquele poderoso ritmo nordestino tinha uma melodia forte, meio maquiavélica, já fui dizendo que Chulacy, irmão de Eracy e Doracy era um dos braços direitos de Lampião e dançava como ninguém.
Renato Guimarães, um amigo que já se foi, me deixou uma letra e coloquei melodia. Batizamos de Tango do Aterro e curiosamente é uma metáfora sobre os tempos em que estamos vivendo.
Uma das estrofes tinha a frase;
A moral inorgânica.
Acabei acentuando no “mô” e então quando se ouve fica uma coisa assim.
Amor ao inorgânica.
Daí, sei lá por que, imaginei que Inorgânica era um magrão barbudo, alto, que usava sandálias de couro e era um famigerado traficante de drogas. Como é que alguém pode ter amor pelo Inorgânica?
Brincávamos, na época, que Chulacy e Inorgânica formavam uma dupla de bandidos inseparáveis.
É o que tem. Chove muito. Acho que meus pensamentos estão úmidos.