sexta-feira, 2 de junho de 2017

GENERALIDADES SOBRE PROSÓDIAS TOLAS EM UM SÁBADO CHUVOSO

Lembrei de um jingle que tive de fazer prum híbrido de milho de uma marca chamada Pioneer. O refrão ficou assim:

Pioneer, Pioneer
Este milho é diferente,
Este milho é Pioneer.

Alguém entrou no estúdio e ouvindo aquilo começou a dar risada. Perguntei o porquê.

- É que parece que é Pai Onir, um caboclo, um pai de santo, que é a marca de um milho diferente, especial pra trabalho, pra despacho na encruzilhada.

E não é?

Daí tocou na rádio um pagode ou sertanejo, não lembro direito, e o refrão, que repetia muitíssimas vezes, era:

A FILA ANDA

Mas o que acontece é que, cometendo uma prosódia, os caras acentuaram no A. Então ficou:

Áfila Anda.

Daí pensei. Áfila Anda fica legal. É o nome de um famoso escritor e guru indiano.

Gravei um disco muito bacana com Neto Fagundes chamado Regional Brasileiro e tinha um baião arretado que num determinado momento dizia.

Chula se dança com pé.

Mas a melodia foi fortemente acentuada no “se” e então dava a impressão de que era;

Chulacy dança com pé.

E como aquele trecho daquele poderoso ritmo nordestino tinha uma melodia forte, meio maquiavélica, já fui dizendo que Chulacy, irmão de Eracy e Doracy era um dos braços direitos de Lampião e dançava como ninguém.

Renato Guimarães, um amigo que já se foi, me deixou uma letra e coloquei melodia. Batizamos de Tango do Aterro e curiosamente é uma metáfora sobre os tempos em que estamos vivendo.

Uma das estrofes tinha a frase;

A moral inorgânica.

Acabei acentuando no “mô” e então quando se ouve fica uma coisa assim.

Amor ao inorgânica.

Daí, sei lá por que, imaginei que Inorgânica era um magrão barbudo, alto, que usava sandálias de couro e era um famigerado traficante de drogas. Como é que alguém pode ter amor pelo Inorgânica?

Brincávamos, na época, que Chulacy e Inorgânica formavam uma dupla de bandidos inseparáveis.

É o que tem. Chove muito. Acho que meus pensamentos estão úmidos.