quarta-feira, 21 de março de 2018

NÃO TÔ SUPORTANDO AS PESSOAS

Bah. Tá brabo. 

Não tô suportando as pessoas. 

Tá uma chatura do caralho. 

E se você vier me dizer que “quanto mais conhece as pessoas, mais gosta dos animais”, vou te colocar na lista dos malas também, porque este bordão já multimega encheu o saco, pois bicho também maleteia, cachorro arranha, pula, tem bafo, minha mãe tinha uma cadela gorda que deitava aqui do lado de onde agora estou escrevendo e soltava uns peidos insuportáveis, gato solta pelo e te olha com petulância, já tive um porco da índia que tenho certeza de que cagava mais do que comia, talvez por isso aquele aspecto sempre de à beira de um ataque de nervos, as lagartixas aqui de casa são de uma antipatia atroz, sempre com aquelas caras sérias de gerente de banco que está indo resolver alguma urgência,  os sabiás idem,  começam a chatear com seu canto às quatro da matina, gordos e lustrosos da supersafra de uvas de nossa parreira, sempre carregados de empáfia com tamanha fartura e mordomia, e as baratas então, particularmente asquerosas neste verão, porém devo dizer que prefiro dar um beijo na boca de uma barata do que apertar a mão do Perondi, mas voltando aos humanos, dia destes encontrei um colega num bar, e fomos tomando uma cerveja e conversando e a cada frase, uma cutucada em minha barriga, cutucadinha, mas depois de quinze minutos de papo e dedaços, tava doendo bem e reparei que tinha surgido um buraco no lado direito da pança que dava pra ver a fígado funcionando, mas pergunto, por quê que tem de tocar no ente que tá a seu lado com tanta insistência? Uma mão no ombro de leve muito raramente não vai mal, um tapinha nas costas também é de bom gosto, mas dia destes encontrei um trio e um tinha um bafo de tigre louco do mé que vou te dizer, um barril de vinho pelo menos, cheirava a faraó embalsamado, o outro tinha um bafo de estômago, aqueles bafos de suco gástrico que tu tem de ficar respirando só no contrafluxo pra não desmaiar de repente e o terceiro, cada coisa que falava comigo, segurava meu pulso com dedos unhudos e passado algum tempo, claro que começou a dar tétano no meu braço, e depois de eu conseguir escapar dali com desculpas tolas, dirigindo, ainda podia sentir a irritação do braço machucado e penso que daqui a pouco vou me tornar um ermitão, porque to perdendo o saco também com pessoas que não te deixam falar, cheio de pessoas por aí que não te escutam, que interrompem tua frase pra contar algo que tua frase lembrou a ela e é claro que o que ela tem a dizer é muito mais interessante do que a tua história, farto de gente que não tem um ritmo respeitoso numa conversa para que todos possam se expressar, bah, as relações são difíceis, dia destes li e consegui quase entender que Nietszche disse que não suportamos nossa solidão e por isto queremos ter amigos, para que estes amigos digam o quanto legais somos, porque não acreditamos que sejamos legais e não suportamos nossa própria companhia, e Hemingway, por sua vez, dizia que bebia para suportar as pessoas, quem sabe seja esta a solução, viver sempre encharcado,  e depois disso tudo me vou daqui, paro de escrever estas merdas que estoy hasta los cojones, não estou aguentando nem minha própria presença, vou jogar um dominó comigo mesmo pra relaxar a agora neste exato momento só me deparo com uma única e exclusiva certeza: Eu não me represento.