Hoje chove um pouco em Porto Alegre e a manhã é fresca. O céu tem nuvens carregadas, mas se pode ver nesgas de azul aqui e ali.
Então, acho que faz um lindo dia feio por estas bandas.
Isto me fez pensar que tenho sorte, pois nestes dias, pedaços meus andaram por aí, passeando pelo planeta e dividiram comigo fantásticas amostras celestes.
Um amor antigo me mandou imagens do D'oro, em Portugal, e Laura, por sua vez, me alcançou várias paisagens solares do deserto do Atacama. Nos dois casos são impressionantes azuis e amarelos que inspiram a gente a tirar a camisa, fechar os olhos e respirar a vida devagarinho, e nos dois casos sei que elas ficaram felizes pela fortuna de presenciar tudo isto e a coisa toda me deixou assim, com uma rarinha sensação de paz.
Esta profusão de cores me fez também lembrar de uma manhã de junho em 84 na cidade de Madrid em que me vesti pra enfrentar dez graus en la calle e ao abrir o portão do folclórico hostal de Dona Hortênsia, situado perto da Gran Via, levei um soco no peito. O verão havia chegado na península, sem avisar os incautos clandestinos.
Assombrado, voltei à habitação, dispensei blusas e jaquetas, coloquei uma camiseta e me mandei pra rua, pra descobrir que aquela cidade podia ser ainda mais viva do que eu pensava que pudesse ser.
Na Espanha o verão chega repentinamente.
Daí você pode guardar os agasalhos no fundo do armário, porque os próximos noventa dias terão temperaturas acima dos trinta e cinco com quase nada de chuva.
Durante o verão espanhol, você pode ficar muitos dias sem enxergar qualquer nuvenzinha branca no céu azulíssimo e quando se vislumbra, à distância, o perfil da capital sendo acachapada pelo sol, Madrid parece uma cidade de ficção científica que tanto pode estar no passado como no futuro.
Depois, o verão se despede lentamente, a partir de setembro, mas até aí, muitíssima cerveja desceu pela goela, pois o verão europeu é época a ser celebrada com a devida fúria e as razões são óbvias.
Todo este assunto também me trouxe à cabeça o famoso céu de Brasília, tema que Toninho Horta usou para compor uma linda canção, mas Brasília me deixa um tanto que mareado atualmente. Então deixa assim que assim tá de bom tamanho.
Voltando a Porto Alegre, repito que hoje faz um lindo dia feio e fico pensando que estes nebulosos tempos, (e agora me refiro à tragédia pela qual estamos passando), talvez sirvam para ajudar a moldar um pouco nossas almas e assim, quem sabe, possamos descobrir belezas que andam escondidas por aí.
Algo vamos aprender no meio de tanto desalinho. Celebremos, pois.