terça-feira, 25 de novembro de 2014

O MAR E A PRAÇA



Acho que sempre tive vontade de viver junto ao mar e acho também que essa é uma característica que todo porto alegrense tem. Não conheço porto alegrense que não adore uma praia.

O pessoal do interior já é um pouco diferente. Muitas vezes vi gente dizendo.
- Não sou muito de mar. Prefiro a beira de um rio, na fresca da tarde, mateando com os amigos.

Mas o porto alegrense gosta demais. É doido pela orla e pode passar os maiores sacrifícios só pra botar os pés na areia, mesmo que tenha o maior ventão castigando.

Eu fui viver no Rio de Janeiro e fiquei 12 anos ali, junto ao mar. Morei basicamente no Catete, a 5 minutos do oceano.

Comprei carretilha e tudo. Pescava nas tardes. Do lado direito o Pão de Açucar, do esquerdo o Santos Dumont. Boeings pra lá e pra cá.

Sempre achei assombrosos os aviões e ali podia vê-los em profusão, aterrissando e decolando, enquanto tentava pegar papa terras e corvinas.

Muitas vezes desci no Santos Domont e da janelinha via os pescadores e o parque. Me fazia bem chegar ao Rio de Janeiro. Por um bom tempo o Rio foi minha casa de verdade.

Gostava também de caminhar no Aterro do Flamengo, no parque que tem a vegetação escolhida a dedo por Burle Max. Pra quem não conhece, a Aterro é um lugar muito arborizado e amplo, frequentado por todas as classes sociais e certamente por ser assim tão democrático, tem a simpatia de toda gente.

Caminhava com a Baía de Guanabara na minha cara e assim compus umas cançõezinhas, bem no ritmo de meus passos. O Aterro do Flamengo é muito inspirador e quando chega o outono se torna mágico.

Amigos sulistas vez por outra me perguntavam se eu ia muito à praia. Acredita que não? A gente acaba esquecendo de ir à praia. Saber que o mar tá ali perto já é o bastante. Bastante pra dar um bom na alma, e de toda forma, a maresia sempre me alcançava pelas janelas do apartamento.

Agora to de volta à minha cidade natal. Fim de veraneio, tchê.

Gosto muito destas palavras sulistas. Veraneio, veranista, banhista... Banhista é muito engraçado, não é? Acho que ainda se usa o termo “banhista” no jornal, na época de verão. Este termo dá saudades.

Aqui até que tem rio, mas quase não serve. O rio que banha Porto Alegre é lindo, mas só pra olhar. Aconselhável não tocar nele, mas na Praia do Flamengo também nunca fui banhista e mesmo nos dias mais quentes não entrei. Tal como o Guaíba, a Baía é poluída.

Agora estou perto deste rio, que dizem que não é rio e escrevo isto tudo bem longe do mar, na frente de uma praça de Petrópolis, o lugar onde agora vivo.

É uma praça linda, que conheço desde guri , que agora tem árvores gigantes, e descobri que, surpreendentemente, os sabiás de Porto Alegre cantam muito mais loucamente do que os sabiás da Cidade Maravilhosa. Sabiás gordos que passam pela gente caminhando ansiosos e até nos assustam um pouco, porque nos dão a impressão de ratos. Quem é notívago como eu, sabe muito bem que um sabiá pode até encher o saco. Eles começam a cantar às 4 da matina.

Estou longe do mar, que gosto tanto, mas daqui a pouco vou tomar chimarrão sentado no banco da praça, exatamente no lugar onde joguei intermináveis partidas de futebol depois da aula. Isto, pensando bem, não deixa de ser uma espécie de mar. Né?

FC Novembro/14



https://www.facebook.com/pages/Cor%C3%B4nicas/1408993059364173?ref=hl

sábado, 22 de novembro de 2014

DEPOIS DE TUDO

Cara. Não vi nenhuma pessoa fazendo qualquer defesa do Lobão. Nenhuma. Nenhumazinha. Isto parece ser a única unanimidade das eleições.

A expressão "ditadura bolivariana" ficou bem consagrada. A pessoa enche a boca pra falar. DITADURA BOLIVARIANA. Experimenta dizer. Até que é bom. Vou experimentar depois com farinha.

A expressão "COXINHA". Eu não gostava no começo, mas depois acabei acostumando. Pensando bem, deve ser ruim ser chamado de coxinha. Será que alguém se sente coxinha? Vi gente se enganando e chamando o outro de CONCHINHA. Meigo, né?

Esquerda caviar. É o coxinha ao contrário.

Hoje fui chamado de fundamentalista. Uau. Até fiz um selfie e não é que to com uns traços meio mouros, mesmo? Ai que meda. Fundamentalista. Isto as pessoas também adoram dizer.

E o medo do comunismo? Eita! É de chorar de rir. Dá vontade até de assustar, botar lenha na fogueira.

Agora, convenhamos. Nunca vi tanta gente preocupada com a educação e a saúde pública. As pessoas se tornaram atentas e bondosas e se preocupam até com o salário dos médicos cubanos que trabalham sem parar enquanto o malvado Fidel vê TV e fuma charutos em Havana. Estamos melhorando nossa compaixão, os brasileiros.

Foi pancadaria pra caramba. Estamos engatinhando na nossa democracia, meio aos tropeções, estamos um pouco atrapalhados,desajeitados, mas hora destas pegamos o jeito.

A Rede Social foi o ponto diferente. Fez a guerra. Informação boa e ruim inundaram o país. Dizem os especialistas que se não houvesse a rede social, a Dilma teria perdido. Eu não tenho certeza disto. Facebook, pra mim é Deus e o Diabo de mãos dadas. Ainda não conhecemos todas suas faces.

Tenho um sentimento, depois da apuração final. Todo mundo acabou esta eleição meio chateado e me invade a impressão que nada mais vai ser como antes. Como se tivesse ficado uma marca.

Se vamos fazer política, acho que vamos ter de deixar o orgulho de lado, e coxinhas e esquerdas caviar, todos, vamos precisar um pouco mais de sabe o que? LIVRO.

FC - Outubro, depois das eleições presidenciais de 2014 



sexta-feira, 7 de novembro de 2014

INDIRETAS NO FACEBOOK





Os ânimos andam acirrados no Face. Tenho visto muitas discussões e até andei participando de algumas delas.

Ficamos por aí pela rede como verdadeiros Black Blocs da palavra, argumentando com rudeza, procurando as verdades que, caprichosamente, estão sempre mudando de lugar. A raiva vai temperando tudo.
Mas o que está aumentando, mais do que tudo no Face, são as indiretas. A rede tá cheinha de indiretas de todo tipo.

Muitas delas terminam com esta expressão: “Pronto, falei”. Acho tão bacana quando alguém fala isso. Nunca consegui um momento certo pra utilizar o “Pronto, falei”!

Outra coisa que acho engraçado é aqueles que postam uma frase e no final tem o “fui”. Daí você pensa que a pessoa foi dormir ou trabalhar. Mas você nota que ela continua conectada e daí a pouco até posta outra coisa. Ué? Mas ela não “foi”?

Perguntinha: a indireta é mais utilizada pelas mulheres? Ou só pelas mulheres? Calma, gurias! É só uma perguntinha.

O que eu gostaria de dizer é que detesto indireta, sabe por que? Porque penso que são todas pra mim. Sou o Ubaldo Paranoico (Personagem muito engraçado das tirinhas do Henfil) dos tempos de agora. Mesmo quando a indireta não parece fazer sentido (texto confuso mais erros de concordância e excesso de abreviaturas) eu leio e logo penso. Ih...acho que tem algo aí que é comigo...não sei não, mas devo tá envolvido. 


Paranoia gigante.

Isto me fez lembrar, e já tem algum tempo, eu estava numa festa e lá pelas tantas uma mulher entra na sala com um defumador (era uma das atrações da festa uma limpeza de maus fluídos) e vai passando pelos convivas fazendo fumacinha, meio que rezando, e de repente estanca na frente de uma moreninha e diz a ela

– Você vai ter de tirar os sapatos.

A menina, que tinha uma carinha de santa, constrangida começa a se descalçar e eu vendo aquela cena pensei: Putz, isto vai dar merda. Quando ela parar na minha frente e ler a quantidade de imundícies que passeiam na minha cabeça não vão me sobrar nem as meias. Me toquei pro banheiro. Fiquei lá escondido meia hora até terminar a função.

Outra parecida aconteceu na semana passada na fila da farmácia. Uma das meninas do caixa levanta a cabeça e, na ponta dos pés, fala em alto e bom tom:

- Tem alguém com gazes!

Eu pensei logo. Eita que já me descobriram. Olhei pra trás e tinha um baixinho com olhar concentrado, sorvendo o ar, pra ver se a afirmação procedia. Ao lado dele, uma senhora gordota com uma cara de “não fui eu”. A menina, sem ter resposta, repete a frase, agora em tom de pergunta:

- Tem alguém aí com gazes?

Eu ia falar qualquer besteira quando ela complementa:

- Gazes, aquele curativo de ferimentos. Tem alguém? 


Então respiramos todos aliviados. Literalmente.

Só pra terminar, aí vai um pequeno recado aos navegantes. Quem posta indiretas vai me acertar de qualquer jeito. Dirigidas a mim ou não. Sou para raio de indireta.

Mas agora o que eu queria mesmo era criar uma indireta bem legal pra atingir aqueles que mandam indireta. Ah, Já sei. Boa!

Olha só! Presta atenção! É. É com você. Você mesmo. Não disfarça. Olha pra cá. É um recado pra você, ô pessoa indireteira. Aí vai!

“Quem com ferro fere, confete pedacinho de saudade”.

Pronto, falei!

Fui.

Helôou, to aqui ainda.

Fui de novo. Hehehehe.

Agora fui mesmo.





Fernando Corona

sábado, 1 de novembro de 2014

DEPOIS DO TSUNAMI

Cara. Não vi nenhuma pessoa fazendo qualquer defesa do Lobão. Nenhuma. Nenhumazinha. Isto parece ser a única unanimidade das eleições.

A expressão "ditadura bolivariana" ficou bem consagrada. A pessoa enche a boca pra falar. DITADURA BOLIVARIANA. Experimenta dizer. Até que é bom. Vou experimentar depois com farinha.


A expressão "COXINHA". Eu não gostava no começo, mas depois acabei acostumando. Pensando bem, deve ser ruim ser chamado de coxinha. Será que alguém se sente coxinha? Vi gente se enganando e chamando o outro de CONCHINHA. Meigo, né?

Esquerda caviar. É o coxinha ao contrário.

Hoje fui chamado de fundamentalista. Uau. Até fiz um selfie e não é que to com uns traços meio mouros, mesmo? Ai que meda. Fundamentalista. Isto as pessoas também estão adorando dizer.

E o medo do comunismo? Eita! É de chorar de rir. Dá vontade até de assustar, ameaçar, botar lenha na fogueira.

O bolsa família foi heroi e demônio. Como falam no bolsa. Apelido é que não falta pra este benefício. E sabe o que? Falam do bolsa e nem sabem direito do que se trata. Preguiça total de procurar alguma informação na internet. Saco, né? Mão de obra. Mais fácil meter o pau. E compartilhar bastante.

Tem de dar o peixe, ensinar os vagabundos a pescar. Então pergunto.

- Mas vem cá? Quem é que tá com os caniços e as redes?

Agora, convenhamos. Nunca vi tanta gente preocupada com a educação e a saúde pública. As pessoas se tornaram atentas e bondosas e se preocupam até com o salário dos médicos cubanos que trabalham sem parar enquanto o malvado Fidel vê TV e fuma charutos em Havana. Estamos melhorando nossa compaixão, os brasileiros.

Por falar nisso, me mandaram muitas vezes pra Cuba. Adoraria ir. Espero conhecer Cuba, antes que os americanos consigam meter a mão e transformar aquilo num Haiti.

E agora, nos últimos dias, tenho sido mandado pro Nordeste. Tenho paixão pelo nordeste. Até o interior, que tive a sorte de conhecer, tem uma energia maravilhosa. Acho que o Nordeste é o grande futuro do Brasil. Há muita coisa por fazer ainda. É um território virgem.

Mas voltando à campanha, foi pancadaria pra caramba. Estamos engatinhando na nossa democracia, vamos meio aos tropeções, estamos um pouco atrapalhados, desajeitados, mas hora destas pegamos o jeito.

A Rede Social foi o ponto marcante. Foi o palco da guerra. Informação boa e ruim inundaram o país. Facebook, pra mim é Deus e o Diabo de mãos dadas. Ainda não conhecemos todas suas faces.

Tenho um sentimento, depois da apuração final. Todo mundo acabou esta eleição meio chateado e me invade a impressão que nada mais vai ser como antes. Como se tivesse ficado uma marca.

Se vamos fazer política, e parece que não temos outra alternativa, acho que vamos ter de deixar o orgulho de lado, e coxinhas e esquerdas caviar, todos, vamos precisar um pouco mais de sabe o que? LEITURA!!!

FC

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