1º DIA
Nada que possa trazer pânico, mas acabei de descobrir o surgimento de um pentelho branco na face rugosa da Bola Leste. Resolvi não eliminá-lo.
Tingi-o com a cor fúcsia para posterior monitoramento. Obrigado pela atenção.
2º DIA
Houve questionamento quanto à cor utilizada. Se falou em amarelo neon e magenta entre outros matizes, mas já é sabido que Fúcsia é a cor mais indicada para este procedimento por descolorir nadinha com o tempo. Além do mais, era a cor que estava mais em conta no mercado.
Depois de constatado o problema do branqueamento do pentelho na Bola Leste, foi feita uma inspeção acurada e rigorosa também na Bola Oeste e esta apresenta flora original e uma superfície pelegalinácea de excelente aspecto. Após isto, houve cuidadosa exploração no complexo situado acima do Maciço de Falus, (esta é a região mais preocupante) mas também ali não se verificou alteração da coloração pentélica.
Estes são os dados que tenho até o momento, e creio que há otimismo no ar. Qualquer modificação no quadro voltarei a informar. Grato.
3º DIA
Imagino a aflição de todos que estão à espera de notícias a respeito da evolução ou não deste quadro de empalidecimento pentelhar. Hoje não houve qualquer procedimento relativo ao problema surgido no domingo. A manhã foi ocupada por um campeonato de dominó e durante a tarde o Bingo foi a atração principal, assim sendo, só resta a noite e a noite não foi feita, por motivos óbvios, para observar (com a devida atenção que o caso merece) detalhes e modificações na Flora Pentélica. Amanhã, com certeza, estarei dando boas e alvissareiras novas sobre a quantas anda o processo que tanto está preocupando a todos. Saudações.
4º DIA
Foi com profundo amargor que hoje, pela parte da manhã, descobri um segundo caso de palidez pentélica. Isto aconteceu durante a primeira inspeção, quando ia dar a segunda demão de tinta fúcsia no pentelho doentinho, pois se sabe que um tingimento vigoroso amedronta os outros e estes tardam mais a embranquecerem. Pois ali, bem ao lado deste, pude ver claramente a melanina se negando novamente a penetrar. A covarde e preguiçosa melanina nos traindo mais uma vez. Mas não pensem que me dou por vencido. Tingi a este também. E o trabalho ficou muito bom. Reuni estes dois a um elemento sadio, um pentelho escuro como o breu, um pentelho de primeira qualidade, e com este pequeno grupo de três, fiz uma trança justa, presa em seu final por uma fita de cor amarela. O Amarelo contrasta muito bem com o Fúcsia. O arranjo ficou lindíssimo, parece a bandeira da Espanha, mas foi aí que notei que havia me descuidado muito com a poda nestes últimos tempos. A fitinha ficou situada quase na altura do joelho, o que não é nada bom, mas como estava tenso e exausto devido ao trabalho tão difícil, resolvi que deixaria para amanhã pensar em alguma solução para isto. Agora, se me dão licença, Mildred me trouxe o chá com bolachas de polvilho. Amanhã volto a documentar esta luta.
5º DIA – A exploração de hoje veio a confirmar o que já se pensava no dia de ontem. Houve um grave erro de cálculo quanto à poda pentélica. Se pode observar o quão extensa em seu comprimento está a flora pentelicular e há indivíduos medindo 17, 18 e até formidáveis 19 centímetros. A intenção inicial era, com isto, proteger todo o complexo de Meusbadalum da rigorosa intempérie invernal, mas também houve falha ao olvidar-se da importante máxima que avisa: “Pentelho gigante é pentelho fraco”. Além do mais, esta colônia pentélica de grandes proporções pode muito facilmente se enroscar e aderir à base da Chapeleta do Grande Glandum, causando estímulos que certamente vão causar modificações geográficas no Maciço de Falus. Este Maciço pode adquirir proporções continentais e com isto toda esta massa pentélica ficaria tesa e esticada até os limites que a física permite e causaria o fenômeno chamado Estrangolango.
ENTENDENDO O ESTRANGOLANGO
Quando você vê um homem na rua, caminhando inclinado para frente, com uma cara de quem vai cuspir a qualquer momento, pode ser Estrangolango. Se este homem, de repente se atirar pra trás de um muro qualquer, não importando a altura que este tenha, pode ter certeza. É Estrangolango! Ele certamente está, de forma desesperada, tentando desfazer a maçaroca sem ser visto.
Amanhã, nas primeiras horas do dia, iniciar-se-á a poda pentelicular e talvez 60 por cento seja um número aconselhável para um corte de tal magnitude. Sem mais novidades, com exceção da trança que resultou crespa devido ao tempo úmido, me despeço prometendo a todos informações precisas e de suma importância, como tem solido acontecer. Ósculos!
6º DIA
Hoje, desde muito cedo, iniciou-se a poda pentélica. Decidiu-se pelo corte de cerca de 80% da pentelhástima (esta se pode chamar de uma atitude radical) afim de evitar o enfraquecimento melanínico e o temido Estrangolango. Foi um trabalho exaustivo, pois, além da tosa da comunidade extensa em número e extensa em tamanho dos indivíduos, havia alguns dejetos espalhados pela área superior ao maciço. Se pode encontrar fragmentos de bolacha de polvilho. Mildred ainda não tem o controle sobre o polvilho e confecciona biscoitos que espalham farelos por várias áreas quando em contato com os dentes, farelos estes que se perderam, desde quarta feira quando do chá, em meio apentelhuma basta. Se pode reparar também e com preocupação que havia rastros de farinha de mandioca pela mesma área, assim como um micro pedaço de fraldinha alojado entre a Bola Oeste e a Perna Oeste. É bom que fique claro que a Bola Oeste jamais tem contato com a Perna Leste e se isto acontecer você é um homem morto. Nunca tente isto.
Voltando ao assunto principal, foi feita a limpeza destes detritos todos, e a flora pentelicular foi desbatada ao limite de 3 centímetros. Como o processo foi demorado, e com a chegada dos primeiros ares glaciais, se pode observar que tanto a Bola Oeste como a Bola Leste adquiriram uma tonalidade azulada e sua superfície aumentou muito sua característica pelegalinácea. Por fim o trabalho foi feito e tendo a flora pentélica diminuído tanto seu tamanho, agora se pode ver com clareza as colossais dimensões que o Maciço de Falus possui, assim como suas formas tão perfeitas e harmônicas. Espero que minhas informações tenham sido bastante claras para aliviar, pelo menos por algum tempo, a angústia de tantos. Confesso estar exausto e peço licença para me retirar, pois Mildred me chama para regarmos Cactus. Amplexos a todos.
DESASTRE PENTÉLICO – Descanso no fim de semana
Depois de uma semana tensa e exaustiva, decidi não pensar sobre o grave problema iniciado no domingo passado. Todos sabem que o surgimento do primeiro pentelho pálido abala as estruturas de qualquer ser. Sendo assim, eu e Mildred decidimos dedicar nosso sábado às petúnias e nenúfares e no domingo levamos os bisnetos de Mildred ao cinema. Os meninos são fãs de John Torturro, que por sua vez é fã de Woody Allen e por isto o convidou para trabalhar como ator em “Amante a Domicílio”, a maior barbada, porque Allen fez papel dele mesmo neste filme que tem momentos muito humorados, belos instantes poéticos, algumas cenas falsazinhas e uma fotografia bacana, acho que analógica, sei lá. Tem um momento que aparece um microfone numa cena e claro que foi de propósito, mas acho que o filme não vai se tornar um cult.
Depois de deixar os meninos em casa fomos visitar a avó de Mildred que está sofrendo de gastrite cerebral, pois a velha fica muito irritada com os assuntos sobre política que aumentam na pauta conforme a aproximação do pleito. Seu médico foi chamado às pressas em casa e lhe receitou Omeprasol, e a proibiu peremptoriamente de assistir ao Jornal Nacional. Parece que o tratamento já faz seu efeito, pois a velhinha quase não baba, quando fala do Bonner.
Muito cansados chegamos em casa e logo estávamos adormecendo. Sonhei com uma casquinha que simulava a casquinha de sorvete, mas não era gelada. Era uma casquinha que tinha uma maria mole em cima e se não me engano vinha sempre um brinde espetado. Acordei sobressaltado com o antiquíssimo gosto na boca. No meio daquela escuridão só pude ver os azulados e arregalados olhos de Mildred em minha direção.
- Você me assustou. Me acordou com este pulo.
- Desculpe. Estava sonhando com a casquinha de maria mole.
- Eu estava sonhando com o Cauã Reymond.
- Mas você sempre sonha com o Cauã Reymond.
- Humpf.
Voltamos a adormecer e voltei a sonhar. Não era mais com a casquinha. Era um sonho bastante nebuloso. Dele fazia parte Sildred, a irmã mais velha de Mildred.
sábado, 22 de abril de 2017
quinta-feira, 20 de abril de 2017
9 VERDADES E UMA MENTIRA
Nove verdades e uma mentira. É uma praga, um feitiço, uma doença que vai nos levar ao abismo final. Não resisti.
1- Consegui, em julho de 1830, chegar até Simon Bolivar com algumas caixas de penicilina, mas seus pulmões estavam irremediavelmente tomados pela tuberculose. Tarde demais. Deixei os medicamentos com seu exército que lutava bravamente contra doenças venéreas de todo tipo. Depois das explicações, ficaram me olhando. Se tomaram, não sei.
2- Na cidade do Rio de Janeiro, num sábado de São Sebastião, possuído pelos mais fervorosos sentimentos religiosos, alcei voo e flutuei junto às fragatas. Naquele sol e céu de um verão magnífico, uma delas se aproximou e me perguntou com ar divertido, no mais claro fragatês.
- Você é um drone?
3 – Ela tinha um olho verde e o outro azul. Era bela e se chamava Silvana. Tínhamos quinze anos e nos beijamos quinze vezes. Semana passada, quarenta anos depois, em meio à multidão da Rua da Praia, nos cruzamos e ela me reconheceu. Me piscou o olho. O verde. Tenho certeza. Ou terá sido o azul? Bah. Agora me perdi.
4 – Era uma teia de aranha perfeita, brilhando contra o sol. Por ser idiota, juntei uma formiga do chão e atirei na teia. A aranhinha veio correndo e em meio segundo imobilizou com seu veneno a formiga que se contorcia. Depois de observar que aquilo não era rango decente, a aranha levou a formiga até à beira da teia e jogou-a no vazio. Repeti a operação. Depois de despachar o terceiro cadáver, a aranhinha colocou as seis patas na cintura e me fulminou com olhar colérico. Saí dali mais assustado do que aborrecido.
5 – No ano passado fui escolhido o melhor pianista do meu prédio. Ganhei por WO, pois resulta que Dona Odete não pôde comparecer à grande final. Padece de gota a pobre velha. Ainda bem.
6 – É através do Senhor que toco, componho e arranjo. Muitas vezes estou fazendo um solo e quando vou executar determinada nota, escuto a voz Dele retumbando pelo cosmos com uma ponta de celestial irritação:
- Não, Fernando. Esta não. Esta sim. Assim vamos bem, Fernando.
7 – Depositei um pequeno punhado de açúcar no balcão da cozinha. Depois de alguns segundos apareceram duas formigas. Elas pararam ali, confabularam algo e comeram um pouco. Logo em seguida se retiraram pra certamente avisar azamigas. Então peguei um pano e limpei o açúcar dali, pras formigas passarem por mentirosas. Devem estar brigando até agora.
8 – Tive um cachorro ao qual consegui ensinar a cantar a primeira frase da canção Don’t cry for me Argentina. Minha família, a partir deste dia, nunca mais foi a mesma comigo. Rolou um mal estar que perdura até hoje.
9- Tive uma namorada que tinha metades de orgasmo. Conheci um cara que foi condenado a meia prisão perpétua. É depois da meia noite que meu motor chega à máxima velocidade e não há sabiá que me atrapalhe, não há culpa que me desassossegue e é neste horário que o medo das mortes vai passear por outras bandas.
10 – Também acabei sendo envolvido no escândalo de lavagem de dinheiro. Como prova, foram apresentadas minhas cédulas de 2 reais. Tão desbotadas e descoloridas, coitadas.
sexta-feira, 14 de abril de 2017
MOQUECA PERIGOSA
Não costumo fotografar comida, mas o sucesso formidável da moqueca me incentivou a levar a cabo esta ridícularidade.
Acho que há um deus, certamente aquele mesmo que protege os bêbados, que algumas vezes alcança uma mão a alguns cozinheiros ocasionais. Hoje ocorreu este pequeno milagre numa panela de ferro.
Posso contar?
Piquei cebola e um pimentão vermelho e refoguei com azeite de oliva.
Quando estavam se dirigindo a desmanchar, adicionei uma porção de tomates e manga também picados. Manga a fruta, sim. Pode acreditar. E junto com isso, uma boa colher de geleia de pimenta.
Tás com medo? Me disseram que é assim que se vai à Índia sem pegar avião e não é a primeira vez que me arrisco a empreender este tipo de turismo.
Deixei carburar bem. Adicionei o leite de coco e umas pitadas de uma mistura de ervas, sais e pimentas, mas bem pouca coisa.
Salguei. Deixei mais um pouco e ficou um molho bacana, vermelho, amarelo, laranja. Então depositei cuidadosamente o peixe. Um kg de tilápia que por sorte encontrei muito fresca e firme.
Atenção. Como não sei esta parada de deixar o peixe temperar no dia anterior, no momento em que coloco na panela, dou uma salgadinha nele direto, pois o peixe custa a aceitar o tempero.
Deixei ali cozinhando uns 10 minutos em fogo baixo e o molho cresceu bastante.
Nos meandros e canais daquela piscina fumegante mergulhei o camarão. Era um camarãozinho duvidoso, pequeno, sem cabeça, com casca, que eu tinha embebido em limão e alho. Dei uma salgadinha nele também neste momento, como tinha feito com o peixe, e o cara acabou se revelando um campeão.
Fechei a panela e deixei mais uns 5 minutos.
O sucesso foi de tal monta que hoje não precisei lavar a louça. Acredita?
Acho que há um deus, certamente aquele mesmo que protege os bêbados, que algumas vezes alcança uma mão a alguns cozinheiros ocasionais. Hoje ocorreu este pequeno milagre numa panela de ferro.
Posso contar?
Piquei cebola e um pimentão vermelho e refoguei com azeite de oliva.
Quando estavam se dirigindo a desmanchar, adicionei uma porção de tomates e manga também picados. Manga a fruta, sim. Pode acreditar. E junto com isso, uma boa colher de geleia de pimenta.
Tás com medo? Me disseram que é assim que se vai à Índia sem pegar avião e não é a primeira vez que me arrisco a empreender este tipo de turismo.
Deixei carburar bem. Adicionei o leite de coco e umas pitadas de uma mistura de ervas, sais e pimentas, mas bem pouca coisa.
Salguei. Deixei mais um pouco e ficou um molho bacana, vermelho, amarelo, laranja. Então depositei cuidadosamente o peixe. Um kg de tilápia que por sorte encontrei muito fresca e firme.
Atenção. Como não sei esta parada de deixar o peixe temperar no dia anterior, no momento em que coloco na panela, dou uma salgadinha nele direto, pois o peixe custa a aceitar o tempero.
Deixei ali cozinhando uns 10 minutos em fogo baixo e o molho cresceu bastante.
Nos meandros e canais daquela piscina fumegante mergulhei o camarão. Era um camarãozinho duvidoso, pequeno, sem cabeça, com casca, que eu tinha embebido em limão e alho. Dei uma salgadinha nele também neste momento, como tinha feito com o peixe, e o cara acabou se revelando um campeão.
Fechei a panela e deixei mais uns 5 minutos.
O sucesso foi de tal monta que hoje não precisei lavar a louça. Acredita?
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