segunda-feira, 2 de abril de 2018

REFLEXOS

Existe uma frase que muito me impressiona. Diz que é do Galeano.

"A PRIMEIRA CONDIÇÃO PARA MUDAR A REALIDADE CONSISTE EM CONHECÊ-LA."

Em cima disto, tempo destes, publiquei a seguinte coisinha:

"SOU RACISTA.
SOU HOMOFÓBICO.
SOU MACHISTA.
SOU XENÓFOBO.
SOU UM CRENTE EM DEUS.

MAS TODOS OS DIAS, ATRAVÉS DA REFLEXÃO, VOU DEIXANDO DE SER UM POUQUINHO."

Algumas pessoas, distraídas, preguiçosas, ou toupeiras mesmo, não entenderam, não gostaram, me bloquearam e deram the end na amizade.

Bah! O que que se pode fazer?

Só estava chegando à conclusão de que estes preconceitos estão muito enraizados na gente. Fazem parte de nossa estrutura.

Assim como a crença num deus. É algo que está incutido. É muito difícil ser ateu. Millôr brincava com isso. "Você é ateu quando está muito bem de saúde" ou "Você consegue ser ateu até o momento em que dá uma pane no avião".

De uns tempos pra cá começo a sentir desconfiança por pessoas que utilizam muito a palavra "deus". Nestes novos tempos de perversidade e ignorância é assombroso assistir tantas pessoas gritando seu ódio aos quatro ventos e citarem deus ao mesmo tempo. Pessoas que são preconceituosas em nome de deus. Pessoas que vibram com a tortura e entoam salmos. É bem assustador.

Existe um diálogo de Saramago que se tornou famoso.

Perguntou-se a José Saramago:

– Como podem homens sem Deus serem bons?

Sua resposta foi:

– Como podem homens com Deus serem tão maus?

É difícil ser ateu.

Eu tinha quatro anos e meu primo mais velho foi incumbido por minha mãe a ir à padaria. Eu quis ir junto e minha mãe não deixou. Meu primo saiu, minha mãe foi pro quarto e resolvi cometer o mais grave pecado:

DESOBEDECER.

Destranquei a porta, caminhei sozinho duas quadras, atravessei ruas e no momento em que estava entrando na padaria reparei que um menino, a uns cinco metros de distância, girava uma antena presa a um barbante. Quando cruzei a entrada senti o golpe na nuca e logo o sangue quente escorrendo pelo pescoço.

Obra de Deus, é claro.

Anos depois, num domingo, minha vó repara que dormi com a blusa do avesso, e não sei o porquê, fica nervosa com aquilo e me ordena que eu desvire a roupa, que este tipo de coisa não é boa e eu quero saber a explicação pra isto e ela grita para que eu obedeça logo que o fato pode trazer algum mal e, cético, caio na risada e pego uma bola e começo a fazer embaixadinhas, caminhando de costas, eu era craque, e me desequilibro no degrau e acabo rasgando meu dedo do pé.

Obra do Senhor. De novo. Tá sempre de olho na gurizada que desobedece.

E aí?

E agora? Me diz uma coisa.

Como é que um cara consegue ser ateu com tamanhas provas?

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