É noite de segunda feira e me sinto muito cansado.
Sento no sofá, pra quem sabe assistir a um pouco de TV e a meu lado estão meus dois cupinchas, Tato e Mana, com seus seis ou sete anos de idade.
Havíamos jantado, a novela tinha terminado e começa um filme já com uma destas perseguições que os americanos pensam que todo mundo gosta e até que estão certos, não é mesmo?
Um carro cheio de homens fortemente armados está no encalço de uma moto onde vão dois encapacetados.
A bala comendo,
e sobe viaduto,
e desce viaduto,
e voa por cima de carro e escapa de caminhão que capota e muda de pista, aquela coisa que dá uma canseira de imaginar tanta produção pra repetir um jargão tão batido,
e nós três acompanhando o pandemônio com atenção mediana, quando a moto avança por uma região de fábricas e de repente consegue dar um godot nos perseguintes, entrando num galpão.
Então, um dos motociclistas salta da moto e, num movimento vigoroso, cerra a porta de metal e os dois retiram os capacetes revelando que se trata de um casal, um casal jovem, bonito, com feições de expressão aliviada, afinal estavam salvos, haviam escapado, e seguido a isto começam a se beijar, o homem leva a mulher até uma parede e o amasso ganha sofreguidão e o cara levanta a blusa da mulher e liberta peitos generosos e não posso acreditar que toda aquela violência, num átimo, dá uma guinada fantástica e se transforma numa cena libidinosa e impura, e quando tive a certeza de que o sujeito ia mesmo começar a chupar aqueles peitos, aos gritos, levanto do sofá e inicio uma vertiginosa investida à televisão pra desligar aquela porra, e essa corrida de apenas dois metros me pareceu levar uma eternidade, esse movimento em câmera lenta com o intuito de apertar o botão e eliminar a imagem foi angustiante e com a TV por fim desligada, caminho meio sem jeito pela casa, gargalhando alto e os dois me seguem e balbucio palavras sem nexo pra disfarçar a vergonha e eles me copiam, e entrando no quarto, ao pé da cama dou meia volta, abro os braços e ainda tomado pelas risadas e gritos me deixo cair vencido, de costas, esparramado no macio do colchão e vejo que meus dois cúmplices, cada um por sua vez, imitam minha performance com perfeição e ficamos deitados, observando o branco do teto ser cortado por pequenas e coloridas gotículas de felicidade que espocavam aqui e ali nos fazendo divertida companhia naquela noite de segunda que agora lembro bem, era segunda, tenho certeza, me sentia cansado e estávamos na sala, em frente à TV numa época em que o controle remoto ainda não era utensílio corriqueiro e por isto tanta correria e é também por isto que agora lhes conto.
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