segunda-feira, 19 de novembro de 2018

TÔ DE OLHO

- Maria Paula. Deixa te dizer uma coisa.
- O que é, Jorge?
- O teu beijo.
- Quê que tem?
- Tá esquisito, Maria Paula.
- Esquisito como, Jorge?
- Muita língua.
- Muita língua?
- É. Você não era assim. Você beijava normal. Agora você passa a língua no meu bigode, depois faz uma exploração nas minhas gengivas...
- Sério?
- Ontem de noite tive a impressão de que você contava um a um quantos dentes tenho na boca. Quando terminou a função da contagem, deu uma pincelada nas minhas amígdalas e em seguida lambeu a campainha. Foi aí que me engasguei e tive aquele puta acesso de tosse.
- Hum.
- É uma língua atlética, que você não tinha. Você parece um tamanduá, Maria Paula.
- Puxa vida, Jorge!!
- E tem mais.
- Que?
- Saliva corrosiva.
- Saliva corrosiva?
- Corrosiva e abundante. Escorre pela cara, entra no ouvido e arde. Descolore minha barba, minhas camisas. Arde na cara. No queixo.
- Hum.
- Você não era assim, Maria Paula. Você parece um clone.
- Não inventa, Jorge.
- Na cama, roça o calcanhar na minha canela até doer bem. Assistindo filme, fica fazendo carinho circular na minha mão e meia hora depois tá um buraco.
- Hum.
- Ontem, durante a transa, você disse " isto, isto, isto..."
- E aí, quê que tem?
- Sete vezes. Daí disse " assim, assim, assim..."
- Sete vezes também?
- Nem seis nem oito, Maria Paula. Sete vezes exatas.
- Você conta, Jorge?
- Conto. E na hora do orgasmo, você veio com "que prazer, filho da puta, que prazer, filho da puta..." e me aborreci, e então no terceiro levantei dali pra ouvir o sétimo "que prazer, filho da puta" já no banho.
- Nem reparei, querido.
- Pois é, Maria Paula. Nem reparou, é claro. E ainda me chama de filho da puta.
- Não, amor. Esta vírgula não tem. É o prazer que é filho da puta. Não você!
- Sei.
- Verdade, querido.
- Sei não, Maria Paula. Você parece um drone.
- Clone, amor.
- Isso. Clone.
- Queres te separar de mim, Jorge?
- Não, querida. Mas vou ficar de olho.
- Ai, amor. Que bom. Então me dá um beijo.
- Tá. Um beijo com pouca língua, combinado? Olha lá, hein?
- Tá. Hummm...
- Parius, Maria Paula. Você lambeu meu nariz.
- Não resisti, pirulitão. Tu é muito gostoso.
- Tô de olho em você, Maria Paula. Você não era assim. Parece até um fake people.
- Fake news, amor.
- Não, Maria Paula. Li uma reportagem que diz que depois das fake news, viriam as fake peoples. Tô de olho em você.
- Jorge.
- Que?
- Escuta só.
- Manda.
- Te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo.
- Bah. Tô de olho em você.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

ME BEIJA

Eles tavam na cama e o troço tava incendiando.

- Gostoso.
- Hum...putinha.
- Tua putinha.
- Hum...delícia. Vagabunda.
- Sim... tua vagabunda.
- Tesão. Bagaceira safada.
- Hum...isto...tua safada.
- Não!
- Não o que?
- Não é minha nada! É uma putinha solta no mundo. Um traste. Uma vagaba que não vale o que come.
- Não senhor! Sou tua sim. Toda tua.
- Não é!
- Sou sim!
- Não é não.
- Vamos ter de tirar isso no par ou ímpar, então.
- Sério?
- Sério. Par ou ímpar?
- Par.
- Ímpar. Ganhei. Hoje vou ser a TUA putinha. Hoje quem vai sentir tesão sou eu.
- Tá.
- Amanhã a gente troca.
- Hum...beleza.
- Gostoso. Me beija.
- Beijo sim, minha putinha.
- Hum...delícia.
- Cachorra.
- Cachorra, não.
- Ah tá. Minha cachorra.
- Também não!
- Ué! Cavala, então.
- Não.
- Cabrita?...
- Cabrita muito menos.
- Mas por que???
- Os tempos mudaram, querido. Os animais nada têm a ver com o romance dos humanos.
- Isso é bobagem!
- Não é não.
- É bobagem sim. Vamos no par ou ímpar.
- Tá.
- Quero par.
- Ímpar.
- Ganhei.
- Tá.
- Gafanhota.
- hum...delícia.
- Lesma.
- Gostoso.
- Açucena.
- Opa, opa!
- Opa, opa o quê!!??
- Açucena não é animal.
- Claro que é!
- Não é não. Açucena é flor.
- Que nada. Açucena é uma ave do nordeste. Habita o Baixo Maranhão. É uma ave promíscua que dá pra tudo que é marreco e ganso da região.
- Seria assim, uma ave... putinha?
- Sim....uma ave bem putinha.
- Então sou TUA açucena.
- Putz. É mesmo. Bueno. Me beija, então, minha açucena.
- Não.
- Por?
- Vou ali pegar o dicionário pra ver esse açucena.
- Vamos apostar?
- Hum...valendo o que?
- ...quem sabe...alguma parte do corpo?
- Sai pra lá! Com essa você não me pega mais.
- Ah tá. Então esquece...e me beija.
- Tá...hum... gostoso.
- Dromedária.
- Que delícia...
- Centopeia louca.
- Não
- Não o quê, agora?
- Louca, não.
- Bah...então tá. Me beija.
- Hummm....