Com minha avó era assim.
- Tu qué café?
- Não, vó. Não quero.
Café, pra minha avó, era um copão de café com leite e mais um sanduíche grande.
- Eu faço pra ti e tu vai lá na cozinha e toma.
- Não, vó. Não quero café.
Cinco minutos de trégua e...
- Por que tu não toma um café?
- Não quero.
- Um café bebido, então. Tu qué?
Café bebido significava o café sem o sanduíche.
- Não, vó. Não tenho fome.
- Eu te faço e trago aqui.
- Não, pô! Já falei que não quero!
Passados dez minutos da gente achando que a mensagem tinha sido clara, lá vinha ela da cozinha, com a bandeja na mão.
- Toma.
Daí tinha de se comer e beber tudo até o fim, afinal, nhaca de pobre vê-se por aqui.
Muitas vezes ela vinha conferir a obra.
Parava na frente da gente, observando atenta, através dos óculos, nossa dificuldade em terminar com aquilo.
- Vai...
- ...
- ...tudo!
Minha avó era descendente de italianos e se sabe que, pros italianos das priscas eras, todos os problemas de saúde se resolviam com purgante, assim como os males da alma, estes eram tratados à base de rango.
Lembro da primeira cena do filme Quatrilho.
Pires e Pilar estão tendo um diálogo, enquanto uma delas fatia um salame.
Não tenho certeza, mas é Pilar que se queixa de que está triste. Pires responde.
- Come um pouco de salame que tu vai ver que tu vai ficar melhor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário