Não sei como, de repente ficamos frente a frente no balcão de um bar, falando sobre política.
Ela, uma coxinha juramentada, não podia ser mais linda, com uns olhões de fada de desenho animado japonês. Por falar nisso, coisa que nunca entendi é que a principal característica dos personagens destes desenhos seja os olhos grandes.
Mas voltando ao fato, eu estava indo bem, argumentando com bravura:
- Olha só! De um lado estão nazistas, fascistas, Bolsonaros, Kimtacategorias, evangélicos fanáticos, racistas, homofóbicos, tudo do que há de pior na sociedade brasileira. E do outro lado, presta bem atenção...
Depois de fazer uma pausa de cinema pra sorver um gole de cognac, segui o raciocínio com uma entonação lenta e arrasadora.
-...do outro lado, só pra dar uma mostra, Chico Buarque e...eu...
Em resposta a este duvidoso míssil argumentativo, a bela moça se pôs estática, me olhando com ares de pirilimpimpim e seu rosto se iluminou lindamente por um breve instante.
Foi aí que imaginei que a batalha estava duplamente vencida, mas pra minha decepção ela logo se recompôs e voltou a seu padrão coxogolpista, utilizando as frases feitas de sempre de princesa globotomizada.
Varamos a noite bebendo com fúria e falando sobre políticas e afins. Apesar de meus esforços de Hércules nessa longa batalha, ela não virou a casaca, não mudou de lado. Suas convicções não sofreram qualquer arranhão.
Ah, já sei. Quer saber se teve beijo, né?
Pois é.
Beijo também não rolou.
Ela bem que implorou.
Mas me mantive firme em minha posição, de joelhos, em frente ao edifício dela, recusando até o fim.
Quer dizer...não lembro direito se foi bem assim que aconteceu a coisa.
Ah...sei lá.
Esquece.
Fernando Corona - julho - 16
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