domingo, 23 de setembro de 2018
A NOITE DO SEU FRANCISCO
Estávamos bebendo e brindando uma linda noite e o assunto caiu no Chico, no concerto que ele fez em Porto Alegre, e ela disse que não vai esperar que o Chico venha aqui em outro lançamento, ela disse que vai atrás, que vai viajar pra ver o Chico novamente em outro lugar, em qualquer lugar, pelo menos mais uma vez e lhe contei que, no Araújo lotado, me debulhei em lágrimas durante todo o show do cara, foi um convite que a mana me fez, que é uma pessoa gigante que me orgulha tanto, minha colega de copo e conversa a mana, e bebemos antes, durante e depois, gigante que ela é, gigante como ele, o Seu Francisco que me acompanha faz meio século, Seu Francisco que me dá norte e referência, e chorei que nem bezerro pela beleza que é aquilo tudo, pelas novas canções que parecem clássicos e pelas velhas que caem como uma luva nestes novos e pontudos tempos, chorei no Sabiá que diz que “vou voltar” e voltar é sempre bom, pois eu voltei, depois de perambular um pouco por aí, voltei pra quem sabe fechar a tampa por estas cinzentas bandas sulistas e chorei por notar um fio de fragilidade na voz daquele homem que já passa dos setenta e pra mim que agora estou vivendo a juventude da velhice nos meus sessenta, estes momentos começam a ganhar ares de despedida, e chorei também minha raiva por ver a injustiça medrando por todo canto, por descobrir que existe tanta perversidade misturada a tanta ignorância de muitas pessoas que acham que a verdade é uma palavra que está fora de moda, pessoas de alma danificada, e chorei porque sabia que havia gente importante para mim naquelas três noites de música genial e que depois comentaríamos o fantástico evento e celebraríamos a vida, a nossa imensa sorte, e agora lhes conto que derrubei um rio de lágrimas por tudo isto, lhes conto que no fim desta noite, embriagado, cheguei em casa aos tropeções, fui ao berço e dormi completamente vazio de tudo, não sonhei nadinha, e nem precisava, pois depois de se assistir a Seu Francisco tenho certeza que ninguém carece de sonhos, uma noite rara que foi, destas noites em que a vida parece normal e bela.
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