sexta-feira, 4 de outubro de 2019

A PILHA

Há uma pilha de roupas em meu quarto.

Uma pequena montanha que quase não se equilibra. Se jogar uma meia em cima, implode.

Logo urge arrumar.

Embora pareça, não é uma tarefa fácil e explico.
Seria tranquilizador que houvesse absoluta certeza de que tudo ali estivesse imundo e assim três levas de máquina mais meio OMO solucionariam o problema.

Só que não.

É preciso deixar-me levar pela responsabilidade e estudar caso a caso com todo o cuidado.

Iniciando a função, escolho aleatoriamente alguma  camiseta na pilha e se esta se revelar realmente fétida, meu coração se enche de alegria e, inundado por este novo entusiasmo, jogo a danada ao chão imaginando que logo ela terá companhia.

Possuído por tal otimismo, sigo com a tarefa. Então experimento cheirar outra camiseta e a apreciação da devida nhaca se mostra inconclusiva. Isto significa que já tinha usado a roupa em algum outro dia e a havia separado na categoria "roupas em observação", com a possibilidade de vesti-la novamente e isto certamente não aconteceu por ela ter desaparecido sob a pilha. Este fato me causa uma grande confusão na cabeça pois acho injusto lavar uma peça tão pouco suja.

Ela pode então continuar em observação e isto é um tanto desanimador, pois sei que na próxima vez que for cheirada, à esta nhaca mediana será adicionado o conhecido cheiro de mofo e aí não haverá escapatória e a decisão será dolorosa. Máquina.

Fico cheio de dúvidas.

Então surge uma camiseta impecável do meio da montanha. Está limpa e nada amarrotada. Entro no youtube, aprendo uma forma prática e rápida de dobrar camisetas e a coloco na prateleira. De uma distância média concluo que a dobradura ficou aceitável. Não parece tão embolada. Isso volta a me alegrar.

Então surge um problema grave e insolúvel.

Descubro com assombro que no bolo há uma camiseta limpíssima e completamente amassada. Chego a me imaginar com o ferro elétrico na mão e a cena me faz rir até doer a pleura.

Não, não. Isso é que não. Da última vez que tentei abrir a tábua de passar, ela beliscou meu dedo e a partir daí guardo distância segura da espertinha. Um pianista não pode correr tais riscos.

Daí, para colmo da exaustão, surgem no meio da cordilheira, as camisetas de dormir. São quatro ou cinco. Estão fedorentinhas, mas nada que seja um escândalo digno de máquina. O que se deve fazer numa hora destas? Tentar programar um rodízio sustentável das queridas até ficarem nauseabundas? Mais dúvidas. São tantas dúvidas.

Ia entrar no capítulo blusões, mas o desânimo que me causa este redemoinho de encruzilhadas acaba me levando de volta à cama, onde me atiro à prática enfurecida do sudoku killer e assim acabo deixando tudo como está.

Se você leu até aqui e tiver alguma ideia prática para solucionar estas questões, gostaria de ouvi-la. Grato.

Nenhum comentário:

Postar um comentário