Tô gripado.
Minha mãe me deu um lenço. Tô usando. Obedeço sem contestar.
Lembrei então que os homens, antigamente, tinham por costume usar um lenço no bolso de trás da calça. Um lenço e um pente. Não sei se os dois iam no mesmo bolso, mas talvez tenha sido este fato que deu origem à ideia de inventar o guméx que é pai do gel.
Bécs.
Bécs, naqueles tempos, significava "que nojo".
Eu usava lenço no colégio em gripes estratosféricas. A gurizada no inverno ficava sempre gripada e campeonato de catarradas à distância era um dos divertimentos da época.
Recordo então de uma manhã ensolarada de inverno, em que, atormentado que estava pela dor de cabeça causada pela teimosa sinusite, cheguei até à janela da sala 314, do Colégio Júlio de Castilhos..
O pátio estava vazio, pois o recreio havia terminado. De repente surge do nada o gordinho Richter. Gazeando aula. Eu achava ignóbil e mesquinho o gordinho Richter. Não sei por que.
Estava no terceiro andar, e alvejar o sinistro Richter daquela altura seria como acertar na loteria, mas achei que valia a tentativa
Então puxei o frango das mais profundas profundezas.
Sabe aquela puxada que dói o peito e deixa a cabeça latejando? Pois foi bem assim.
Fiz um cálculo rápido, pois o gordinho vinha caminhando em direção ao prédio, e squèééssshhhhh.... soprei com fúria para os ares aquele colosso multifacetado que parecia um paraquedista, cheio de braços oscilantes de medusa, e por um momento acreditei melancolicamente que erraria o alvo por pelo menos três vergonhosos metros, mas eis que a catarrada ao chegar ao primeiro andar agregou-se a uma vigorosa corrente de ventos Elísios que abundavam ali pela região e mudando bruscamente sua trajetória, triplicou sua velocidade para acertar espetacularmente a nuca do Richter. que num gestual de quem está sendo atacado por abelhas, buscou, entre tropeções, desesperado refúgio embaixo da marquise.
Eu lhes conto e lhes digo que até hoje, quando penso nisso, me entristeço. Então oro com fervor.
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