Já deve fazer uns dois anos que fizemos o Villa Lobos in Jazz no Complexo do Alemão.
Antes de tocarmos, fomos almoçar com um líder comunitário que nos falou um pouco a respeito da mega operação de ocupação que havia sido executada pela polícia naquela área.
O cara contou que melhorou bastante a vida no complexo com a instalação da UPP, mas também comentou que a ocupação foi brutal. Disse que os policiais invadiram casas, bateram nas pessoas, roubaram computadores, TVs, abriram geladeiras e pegaram o que quiseram, barbarizando a população da comunidade.
Depois da tocata, meu colega Paulo Putini e eu fomos reconhecer a área. Ideia dele. Grande amigo que se foi prematuramente, Paulo sempre fazia o diferente, o inusual. Então fomos conhecer o famoso teleférico.
Pra quem não sabe, é um bondinho suspenso que liga, se não me falha a memória, 5 morros do complexo. Anda bem devagarinho, e nas estações você entra no vagão com ele em movimento. Em cada vagão deve caber umas 10 pessoas.
A visão era fantástica. Fazia um dia ensolarado, quente, e como as construções dali são basicamente de tijolo à vista, a paisagem se avermelhava e reverberava até o infinito. Dava a sensação de se estar num país estranho, Índia, Marrocos, um país destes, ou em outro tempo, num tempo passado ou até mesmo parecia imagem de filme de ficção científica.
O Complexo do Alemão é muito grande e ficamos realmente impressionados. O teleférico trafega bem no alto, mas quando se aproxima da estação a gente começa a ver as casas de perto e vê as pessoas também, nas áreas e pátios destas casas. É uma visão bastante insólita.
As UPPs, a princípio, melhoraram a vida nas comunidades, pois afastaram dali os traficantes, ou pelo menos atrapalharam o comércio dos caras porque já ouvi falar que apesar da polícia estar presente, o tráfico, na verdade, não parou nunca nas favelas. Apenas diminuiu.
O que parece que também é verdade é que nos últimos tempos havia aumentado muito o número de crimes na parte de baixo, ou zona sul. Acontece que o tráfico da coca era um comércio potente e isso mantinha muito bandido afastado do roubo. Como o tráfico foi atingido, os caras começaram a descer pra trabalhar. Lembro que comecei a ver estes caras caminhando pela rua do Catete. É impressionante. Você olha pra eles e vê que são diferentes. São bichos. Está marcado na cara.
Saí de lá em boa hora, pois tem acontecido cada vez mais atrocidades. O Rio é tão complicado que o governador e o prefeito são aliados do Lula e da Globo ao mesmo tempo. A Câmara dos vereadores tem vários chefes de milícia e banqueiros do bicho em seus quadros. O prefeito é playba e perverso. Na greve dos professores mandou sentar o pau. Eu estava lá. Ninguém me contou.
A Cidade Maravilhosa é uma cidade cruel. Dia destes o carioca foi eleito o terceiro pior motorista do mundo e eu entendo o porquê. O Rio é a única cidade que conheço onde o motorista acelera na sua direção quando você cruza a via.
Agora estou morando em Porto Alegre e por aqui a coisa não tá muito melhor. Dia destes fui à Cidade Baixa e me surpreendi com o mar de gente esquisita que medra por ali. Achacadores, pedintes, flanelas, caras te seguindo, te vigiando, te filmando. Muitíssimo pior que a Lapa. Não dá vontade nenhuma de voltar a este bairro que era um dos locais mais interessantes da cidade.
A classe dominante sempre pensou que poderia solucionar o problema da diferença social com polícia e presídio. Agora já era. Não há mais controle. E mesmo que pudesse, a polícia do Rio é troglodita e corrupta. Eu vi cara aceitando 10 reais pra deixar passar. E quem é que vai querer enfrentar aquele crime monstro com um salário merreca? É sabido que no Rio o cara entra pra polícia seduzido pelo grande naipe de possibilidades de propina.
Em Porto Alegre ainda não sei. Não se vê polícia na rua. E parece que o governo do estado não tem dinheiro pra pagar nem o que tem, quanto mais pra aumentar e equipar o efetivo.
Qual será o limite pra tudo isto? Haverá um momento em que as cidades vão paralisar por conta da violência? Acho que não deve existir tal limite, pois as pessoas se acostumam até com a guerra.
Lembro de uma crônica do Veríssimo em que ele falava a respeito de um carteiro de Berlim no meio do século passado, que seguia desempenhando normalmente seu trabalho, apesar dos terríveis bombardeios.
FC - maio - 15 - pOa
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sábado, 30 de maio de 2015
sexta-feira, 29 de maio de 2015
O AMOR IMAGINADO
Era noite, era fevereiro, fazia calor e eu estava em boa companhia. Caminhávamos por entre mares e bares. Estávamos famintos e escolhemos um restaurante com boa cara, pegamos uma mesa afastada, já na areia, pertinho da água e pedimos nossos pratos que demoraram muito, e talvez pela fome extrema ou pela qualidade da cozinha, ou quem sabe pela noite serena, ou por tudo isto junto, desfrutamos soberbamente de nosso repasto até a última gota e grão.
Ficamos por ali cerca de duas horas e durante este tempo, pude reparar num menino que estava sentado ao nosso lado. Estava sozinho numa mesa, de costas para toda a agitação mediana que havia no local. Teria seus vinte e poucos anos e estava completamente imerso em seu celular. Enviava e recebia mensagens, e sua expressão aflita me chamou a atenção. Só levantava os olhos do aparelho para olhar em direção ao mar e por isto então não tive dúvidas. Era dor de amor e era dor que doía muito, muito forte.
Aquilo não parecia ser a preocupação de quem cometeu um grave erro e viu seu romance ficar por um fio e tampouco era uma discussão sobre comportamentos que devam ser modificados, para que as coisas andem nos trilhos. Era o pior. O pior que pode haver. Era a dor de quem mergulha na desesperança. Por trás daquela linha de mensagens havia uma pessoa que digitava com clareza que o amor havia acabado e a terrível palavra “fim” certamente estaria solta dentro de alguma frase.
No momento em que estávamos tomando o café que arrematava nosso modesto banquete, vi o menino depositar o celular sobre a mesa, como um boxeador que atira a toalha. O telefone à sua frente, os braços estendidos e ele ainda dividindo o olhar entre o aparelho e o negro mar. A remotíssima esperança de que alguma luz brilhasse, algum sinal, algum toque. Nada. O silêncio de um visor morto, porque o amor já não estava mais do outro lado. O amor foi passear por outras bandas. E eu ali, já de pé, ainda torcia para que aquele celular gritasse logo de uma vez e iluminasse o rosto do rapaz. Quando saímos, ele ficou naquela mesma posição. Vencido.
Voltamos a caminhar por entre mares e bares e fiquei pensando que amor bom é aquele que não acontece. O amor sonhado. O amor imaginado que fica na gente pra sempre como uma foto ou um filme de que somos o diretor, e decidimos que nunca será exibido nas telas. O amor que não oferece perigo algum de deixar tão tristes os olhos de um menino.
Era noite, era fevereiro, fazia calor e eu estava em boa companhia. Arriscando.
Fernando Corona - 14 - RJ
Ficamos por ali cerca de duas horas e durante este tempo, pude reparar num menino que estava sentado ao nosso lado. Estava sozinho numa mesa, de costas para toda a agitação mediana que havia no local. Teria seus vinte e poucos anos e estava completamente imerso em seu celular. Enviava e recebia mensagens, e sua expressão aflita me chamou a atenção. Só levantava os olhos do aparelho para olhar em direção ao mar e por isto então não tive dúvidas. Era dor de amor e era dor que doía muito, muito forte.
Aquilo não parecia ser a preocupação de quem cometeu um grave erro e viu seu romance ficar por um fio e tampouco era uma discussão sobre comportamentos que devam ser modificados, para que as coisas andem nos trilhos. Era o pior. O pior que pode haver. Era a dor de quem mergulha na desesperança. Por trás daquela linha de mensagens havia uma pessoa que digitava com clareza que o amor havia acabado e a terrível palavra “fim” certamente estaria solta dentro de alguma frase.
No momento em que estávamos tomando o café que arrematava nosso modesto banquete, vi o menino depositar o celular sobre a mesa, como um boxeador que atira a toalha. O telefone à sua frente, os braços estendidos e ele ainda dividindo o olhar entre o aparelho e o negro mar. A remotíssima esperança de que alguma luz brilhasse, algum sinal, algum toque. Nada. O silêncio de um visor morto, porque o amor já não estava mais do outro lado. O amor foi passear por outras bandas. E eu ali, já de pé, ainda torcia para que aquele celular gritasse logo de uma vez e iluminasse o rosto do rapaz. Quando saímos, ele ficou naquela mesma posição. Vencido.
Voltamos a caminhar por entre mares e bares e fiquei pensando que amor bom é aquele que não acontece. O amor sonhado. O amor imaginado que fica na gente pra sempre como uma foto ou um filme de que somos o diretor, e decidimos que nunca será exibido nas telas. O amor que não oferece perigo algum de deixar tão tristes os olhos de um menino.
Era noite, era fevereiro, fazia calor e eu estava em boa companhia. Arriscando.
Fernando Corona - 14 - RJ
quarta-feira, 27 de maio de 2015
A expressão "FILHO DA PUTA" vai cair?
Isto aconteceu quando eu tinha 4 ou 5 anos de idade e descobri que falar "merda" aliviava a raiva e dava prazer. Daí a Dona Magali me sapecou pimenta. Era nessa hora, com a boca muito dolorida, que seria o momento mais exato pra soltar um "merda", mas me recordo que tinha de substituir "merda " por "droga", pra não levar mais pimenta, e lembro também que falar "droga" em lugar de "merda" era uma merda porque não servia de droga nenhuma.
Depois, escutei alguém dizer "puta que pariu" e achei legal mas quando fui usar não conseguia lembrar do fim. Fiquei pensando. "Como é mesmo o fim daquele nome feio tão legal que começa com puta? Ele tem um fim fininho". Eu achava que "quiuspariu" tinha uma sonoridade aguda. Mais tarde ouvi de novo e assim fui aprendendo. Agora já sei de cor.
Mudando de assunto mas continuando no mesmo, tenho visto que tem rolado uma conversalhada a respeito do "filho da puta". Esta expressão está se tornando politicamente incorreta e dentro de pouco tempo deve ser condenada à extinção. Será? E pelo que entendo, isso vai acontecer por duas razões.
Primeira. É uma expressão machista. A Dilma ser chamada de piranha é machismo puro. Piranha seria aquela que se relaciona sexualmente com variadas pessoas. Isso não serve pra ofender uma presidenta. Se fosse um homem do mesmo partido que estivesse na presidência seria chamado de que? De comedor? Claro que não. Seria chamado de filho da puta. Machismo também. Neste caso, sobra pra mãe do homem a característica de ser promíscua. Acaba sempre sobrando pra mulher. M A C H I S M O .
Segunda razão. As profissionais do sexo não querem mais que "puta" seja ofensa. Puta é profissão e se é profissão não pode ser ofensa. Ninguém chama o outro de "seu político" embora a imensa maioria dos políticos seja de uns grandes filhos da puta. Eita. To me complicando.
Mas voltando ao fio da meada, as prostitutas ficam putíssimas da cara (puto da cara vai cair também?) quando alguém diz; O EDUARDO CUNHA É UM BAITA FILHO DA PUTA. Ninguém quer ser a mãe daquela figura! Chamar ele assim é um gigantesco ultraje à toda uma categoria. Então não se deve mais chamar aquele cara desta forma. Que pena, né? É uma expressão que enche a boca da gente, quando a gente fala de um tipo como aquele.
Desgraçado? Fica simplório. Canalha? É pouco. Filho da puta é que ficava na medida certa. Mas não vai mais poder.
Então quem sabe...já sei. O EDUARDO CUNHA É UM FILHO DE UMA JUMENTA...legal né? O EDUARDO CUNHA É UM FILHO DE UMA CAMELA HISTÉRICA. Parece bom também.
Mas pensando bem, bem, bem...
Putz. Coitados dos bichinhos. Né?
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sábado, 9 de maio de 2015
Hora da Sopa
É maio e já faz frio. To caminhando na ESEF. To calçando o melhor tênis que já tive em toda minha vida. Nada demais. Pouco mais de 100 pila. Mas é uma luva. Vou bem faceiro com ele, caprichando no ritmo que é pro sangue circular e limpar as veias. Estas coisas que inventam pra gente ver se chega até os 100.
Na minha direção vem um gordinho. Tem mais juventude que eu mas também tem mais banha. Vem correndo. Passa por mim bufando e a expressão do rosto é de extremo sofrimento. Certamente vai morrer antes de completar a próxima volta. Nunca consegui descobrir como estes gordos conseguem correr tanto. A cara é de um sofrimento atroz. Sempre que vejo um gordinho destes correndo, acelero o passo. É uma reação natural e intuitiva, sei lá o porquê. Talvez nessa hora tente demonstrar minha invejável agilidade.
Agora vem na minha direção uma mulé. Toda paramentada de academia, vem caminhando acelerada. É jovem. Vai se revelando bonita. Gostosa também. Quando passa por mim vejo que é linda. E me fulmina com o olhar. Epa. Chego a ficar com as pernas bambas e já vem uma hipoglicemiazinha junto. Tem alguma coisa errada aí. Algum engano. Morei anos no Rio de Janeiro e nem as velhas caolhas e mancas me olhavam. Já to bem acostumado com o desprezo. Deve ter me confundido com o pai de algum amigo, ou talvez seja amiga dos meus filhos. É uma deusa. Recupero um pouco a lucidez e o ritmo dos passos e procuro pensar em alguma outra coisa, como se isso fosse possível.
Lá vem o gordinho de novo. Caraca. Não morreu. Tá bem ele. O ritmo é o mesmo. Vem correndinho. A fisionomia segue crispada. A cara suada é de um tom rosáceo. Está à beira de uma síncope, não há dúvida, mas passa trotando. Respira com desespero. Dou mais uma aceleradinha e acabo tropeçando em mim mesmo. Assustado, corro 10 metros olhando em volta. Ninguém viu. Então volto à minha passada original!
A mina aponta lá na frente agora. Vem vindo. Acelero ainda mais o passo e encolho a barriga tudo o que dá. Quero ver se me gruda o olho de novo. Ela vai se aproximando, se aproximando e quando passa por mim, nadícolas de nada. Parius! Sabia que era um engano. Respiro aliviado, afinal agora sim, as coisas estão em seu devido lugar. Já pensou se ela me fuzila novamente? Eu seria obrigado a chegar junto. Já pensou? Não dá, meu! Tem gente em casa me esperando com uma sopa quente. E não to falando de uma sopa qualquer. É uma sopa de catega. Só de lembrar disso meu estômago emite uns queixumes ruidosos. E tem mais essa. É hora de janta e se chego na mina, minhas tripas vão querer participar do diálogo também.
Então decido dar por terminada minha caminhada. Já tá de bom tamanho. Vou me aproximando da saída e vejo o gordinho parado, com as mãos na cintura e olhar no infinito. A cara ainda é um rictus. Pra quem não sabe, rictus é a expressão em forma de sorriso que aparece nos cadáveres; boca semi-aberta. Pesquisei e tudo. No momento que passo por ele vejo que leva a mão ao rosto e cobre uma narina.
Além de correr, o gordo ainda consegue fazer uma coisa que sempre tentei e nunca consegui na vida inteira. Baita recalque. O cara cospe pelo nariz. Acredita? Taquiuspa!
Quando cruzo o portão a deusinha está alongando. Repara na minha presença e abre um sorrisão.
- Tem horas, tio?
Respondo com um gesto vago e negativo. Meu estômago dá um gritinho e isto me faz acelerar o passo pela calçada. Vou pensando com meus botões;
Hora da sopa, lindinha... hora da sopa.
FC - maio - 15 - pOa
Na minha direção vem um gordinho. Tem mais juventude que eu mas também tem mais banha. Vem correndo. Passa por mim bufando e a expressão do rosto é de extremo sofrimento. Certamente vai morrer antes de completar a próxima volta. Nunca consegui descobrir como estes gordos conseguem correr tanto. A cara é de um sofrimento atroz. Sempre que vejo um gordinho destes correndo, acelero o passo. É uma reação natural e intuitiva, sei lá o porquê. Talvez nessa hora tente demonstrar minha invejável agilidade.
Agora vem na minha direção uma mulé. Toda paramentada de academia, vem caminhando acelerada. É jovem. Vai se revelando bonita. Gostosa também. Quando passa por mim vejo que é linda. E me fulmina com o olhar. Epa. Chego a ficar com as pernas bambas e já vem uma hipoglicemiazinha junto. Tem alguma coisa errada aí. Algum engano. Morei anos no Rio de Janeiro e nem as velhas caolhas e mancas me olhavam. Já to bem acostumado com o desprezo. Deve ter me confundido com o pai de algum amigo, ou talvez seja amiga dos meus filhos. É uma deusa. Recupero um pouco a lucidez e o ritmo dos passos e procuro pensar em alguma outra coisa, como se isso fosse possível.
Lá vem o gordinho de novo. Caraca. Não morreu. Tá bem ele. O ritmo é o mesmo. Vem correndinho. A fisionomia segue crispada. A cara suada é de um tom rosáceo. Está à beira de uma síncope, não há dúvida, mas passa trotando. Respira com desespero. Dou mais uma aceleradinha e acabo tropeçando em mim mesmo. Assustado, corro 10 metros olhando em volta. Ninguém viu. Então volto à minha passada original!
A mina aponta lá na frente agora. Vem vindo. Acelero ainda mais o passo e encolho a barriga tudo o que dá. Quero ver se me gruda o olho de novo. Ela vai se aproximando, se aproximando e quando passa por mim, nadícolas de nada. Parius! Sabia que era um engano. Respiro aliviado, afinal agora sim, as coisas estão em seu devido lugar. Já pensou se ela me fuzila novamente? Eu seria obrigado a chegar junto. Já pensou? Não dá, meu! Tem gente em casa me esperando com uma sopa quente. E não to falando de uma sopa qualquer. É uma sopa de catega. Só de lembrar disso meu estômago emite uns queixumes ruidosos. E tem mais essa. É hora de janta e se chego na mina, minhas tripas vão querer participar do diálogo também.
Então decido dar por terminada minha caminhada. Já tá de bom tamanho. Vou me aproximando da saída e vejo o gordinho parado, com as mãos na cintura e olhar no infinito. A cara ainda é um rictus. Pra quem não sabe, rictus é a expressão em forma de sorriso que aparece nos cadáveres; boca semi-aberta. Pesquisei e tudo. No momento que passo por ele vejo que leva a mão ao rosto e cobre uma narina.
Além de correr, o gordo ainda consegue fazer uma coisa que sempre tentei e nunca consegui na vida inteira. Baita recalque. O cara cospe pelo nariz. Acredita? Taquiuspa!
Quando cruzo o portão a deusinha está alongando. Repara na minha presença e abre um sorrisão.
- Tem horas, tio?
Respondo com um gesto vago e negativo. Meu estômago dá um gritinho e isto me faz acelerar o passo pela calçada. Vou pensando com meus botões;
Hora da sopa, lindinha... hora da sopa.
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quinta-feira, 7 de maio de 2015
VIVI, A PROFE BACANINHA
Profe Vivi dá aulas de música pros pequeninos de 0 a 5. São interessadíssimos. Ou quase.
Eram 6 da tarde, hora de ir embora, e a Profe Vivi deu uma passadinha pelo refeitório pra dar um tchau. Ali estavam as cerca de 80 crianças da creche, todas esperando pelos pais para também irem pra casa.
Duas ou três delas viram a Profe na porta e começaram então a bater na mesa e a fazer um simpático corinho.
- Vivi! Vivi! Vivi!
Logo, a onda se propagou e a gurizada toda aderiu a plenos pulmões.
- Vivi! Vivi! Vivi!
Vivi, sentindo a pressão, saiu do local e encostou as costas na parede. Lá dentro, o coro das 80 vozezinhas continuava firme.Vivi colocou a mão no peito para sentir o coração acelerado. Era muita emoção. E junto com esta emoção, um certo assombro. Havia um tiquinho de Hitchcock em tudo aquilo.
Na semana seguinte fazia friozinho em Porto Alegre e a Profe Vivi chegou na escola com uma bonita echarpe verde. Profe Vivi dá aulas de música pros pequenos de 0 a 5. Como já falei, a piazada é interessadíssima, porém, às vezes, também indomável.
Vivi estava em seus primeiros dias nesta escola e nessa manhã, enquanto tentava organizar os pensamentos no meio da piazada ensandecida, sentiu que alguém puxava sua echarpe com as duas mãos. Era a Jéssica. Com a vigorosa determinação de quem acabou de completar 3 anos de idade, consciente da boa possibilidade de estrangulamento, com os pés nas canelas da professora e o corpo inclinado, Jéssica virou a cabeça para trás e gritou a plenos pulmões.
- Davi! Vem! Me ajuda a puxar!!!
Outro dia, eram 6 da tarde quando Vivi, que já estava na porta de saída, reparou num miúdo que vinha em sua direção de braços abertos e sorriso bonito.
Depois do abraço de despedida, o pequeno, com expressão concentrada, disse;
- Tchau, profe...Cuidado quando chegar em casa pro teu namorado não te bater.
A escolinha tem histórias lindas. Outras nem tanto.
FC - pOa - 2015
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