Era noite, era fevereiro, fazia calor e eu estava em boa companhia. Caminhávamos por entre mares e bares. Estávamos famintos e escolhemos um restaurante com boa cara, pegamos uma mesa afastada, já na areia, pertinho da água e pedimos nossos pratos que demoraram muito, e talvez pela fome extrema ou pela qualidade da cozinha, ou quem sabe pela noite serena, ou por tudo isto junto, desfrutamos soberbamente de nosso repasto até a última gota e grão.
Ficamos por ali cerca de duas horas e durante este tempo, pude reparar num menino que estava sentado ao nosso lado. Estava sozinho numa mesa, de costas para toda a agitação mediana que havia no local. Teria seus vinte e poucos anos e estava completamente imerso em seu celular. Enviava e recebia mensagens, e sua expressão aflita me chamou a atenção. Só levantava os olhos do aparelho para olhar em direção ao mar e por isto então não tive dúvidas. Era dor de amor e era dor que doía muito, muito forte.
Aquilo não parecia ser a preocupação de quem cometeu um grave erro e viu seu romance ficar por um fio e tampouco era uma discussão sobre comportamentos que devam ser modificados, para que as coisas andem nos trilhos. Era o pior. O pior que pode haver. Era a dor de quem mergulha na desesperança. Por trás daquela linha de mensagens havia uma pessoa que digitava com clareza que o amor havia acabado e a terrível palavra “fim” certamente estaria solta dentro de alguma frase.
No momento em que estávamos tomando o café que arrematava nosso modesto banquete, vi o menino depositar o celular sobre a mesa, como um boxeador que atira a toalha. O telefone à sua frente, os braços estendidos e ele ainda dividindo o olhar entre o aparelho e o negro mar. A remotíssima esperança de que alguma luz brilhasse, algum sinal, algum toque. Nada. O silêncio de um visor morto, porque o amor já não estava mais do outro lado. O amor foi passear por outras bandas. E eu ali, já de pé, ainda torcia para que aquele celular gritasse logo de uma vez e iluminasse o rosto do rapaz. Quando saímos, ele ficou naquela mesma posição. Vencido.
Voltamos a caminhar por entre mares e bares e fiquei pensando que amor bom é aquele que não acontece. O amor sonhado. O amor imaginado que fica na gente pra sempre como uma foto ou um filme de que somos o diretor, e decidimos que nunca será exibido nas telas. O amor que não oferece perigo algum de deixar tão tristes os olhos de um menino.
Era noite, era fevereiro, fazia calor e eu estava em boa companhia. Arriscando.
Fernando Corona - 14 - RJ
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