Oi, Nina. Resolvi procurar teu endereço de email na página do facebook para te enviar algumas linhas. Evitei manda-las por mensagem e te explico o porquê. Não quis correr o risco de você não tecer qualquer resposta ou comentário, mesmo tendo visualizado o que escrevi. Quis evitar a possibilidade deste silêncio, que seria constrangedor. Então optei pelas águas turvas onde são jogados todos os e-mails pois eles sempre podem tomar a direção de alguma caixa que nunca será aberta. É mais confortante para mim imagina-lo repousando intocável no lixo eletrônico. Mas queria te contar que nesta noite passada sonhei contigo. Estava eu em uma viagem de trem e quando parei em alguma estação que parecia ampla, iluminada e com suaves cores de tijolo predominando, você, repentinamente vinda do nada, apareceu em minha frente. Tinha um sorriso na boca, que me pareceu tão familiar, e me entregou algo. Para este objeto que recebi de suas mãos ainda não consegui achar a palavra adequada em nossa língua cotidiana. Então o denomino paquete e sei que isto é bastante inusual, mas não posso chamá-lo de outra maneira. É a palavra que me vem à cabeça. Tinha a forma de um tablete, ou quem sabe uma barra de ouro dentro de um estojo. É o que diz minha memória que ainda está fresca, pois isto aconteceu há alguns minutos, e minha memória também indica que aquele momento em que você me entregou o paquete foi por demais precioso, pois meu corpo todo vibrou com uma sensação de profundo agradecimento. Surpreendentemente, seguido a isso, você se aproximou e beijou minha boca e foi um beijo terno e efusivo, e neste momento pude ver de perto e de forma muito clara as formas tão belas de seu rosto, seus olhos gigantes de fada que você sabe que tem quando espalha generosas fotos pela rede, com a vaidade que já conheço, pois também a possuo, e intuo que seja um animal que nós dois sabemos muito bem como domesticar. Não acredito que exista alguém no mundo que consiga beijar durante o sonho por largo tempo e comigo não foi diferente. O beijo sempre nos faz acordar e como já não sou tão criança, desta feita também não tentei reembarcar na cauda do sonho, apesar de ter pensado nisso. Então tentei me conformar com meu pobre despertar, mas não posso deixar de dizer que restou uma sensação de rosetas na cama. Devo confessar também que tive dúvidas em relatar a você este evento que parece tolo, afinal de contas, sempre apenas trocamos fortuitos likes e tivemos um par de diálogos entrecortados e vagos, mas pensei que não há mais tempo para deixar de fazer as coisas. Então resolvi te contar. Pensei também que este sonho talvez tenha sido sonhado por você. Ou quem sabe você possa ter sonhado algo que complemente, ou pelo menos explique meu sonho desta noite, algo que revele o significado que ele tem e agora vou mais longe ainda. Estou imaginando que este meu relato possa fazer você sonhar a parte que falta, se existir realmente uma parte que falta. E por que não? Nos últimos tempos tenho adivinhado pensamentos, reações e frases e posso jurar que a porta da garagem tem se aberto frações de segundo antes de eu acionar o controle remoto. Por que não posso acreditar também que as pessoas se relacionem em seus subconscientes e os novos tempos nos farão descobrir um outro mundo? Um mundo inconsciente e mais harmônico, um mundo paralelo onde amores e amizades são mais fluídos, mais líquidos, um mundo com menos histórico e assim também com menos culpa? Talvez meu e-mail não se perca e você clique, abra e leia e quem sabe tenha algo bom a dizer sobre meu devaneio. Quem sabe até tenha algo a sonhar em cima de tudo isto e depois me conte. Agora me vou. Vou almoçar que logo tenho o que fazer. Daqui vejo que voltou a chover. Porto Alegre tem andado triste. Bem mais triste do que eu. Bjs.
15 - OUTUBRO - pOa
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