A parreira da casa de minha mãe não deu uvas. Ou melhor. Deu. Mas quem comeu foram os sabiás.
Hoje ela estava contando que viu o sabiá aterrissando no pátio dela com um grão de uva no bico. O bicho dava uma bicada na uva e olhava de soslaio pra ela, bicava de novo e olhava pra ela novamente. Implicando, acredita?
Então comentei com mami que sempre achei que os sabiás são de uma hipocrisia tremenda. Quem é noturno sabe muito bem o quão mala pode ser um sabiá. Ele começa a cacarejar muito antes do galo. Às 4 da matina o sabiá capricha na goela pra encher o saco da gente e vai assim até o sol nascer.
Aqui tem muito sabiá gordo. Tão mais barrigudos que eu, de tanta uva. Às vezes fazem um som parecido ao das galinhas e posso jurar que dia destes escutei um sabiá laranjeira arrotando depois de mandar uma uvona. E tão sempre assustando a gente, pois às vezes saem do meio das moitas dando a impressão de que podem ser ratos.
E é assim com as lagartixas também. Nas madrugadas passam zunindo pelas paredes, e rola o maior calafrio. São lagartixas gigantes. Bem criadas. Sérias e compenetradas, quando cruzam pelo caminho, dão a impressão de que estão indo fazer algo importante.
Dia destes assisti a uma preparando o bote. O rabinho treme e ela faz um toc, toc, toc meio assustador. Volta e meia se encontra a metade de uma barata pela casa. As baratas andam preocupaditas com estes grotescos assassinatos.
Inclusive criei um ditado.
LAGARTIXA QUE SE PREZA, NÃO COME CABEÇA DE BARATA.
Não significa nada, mas pode impressionar muito bem numa conversa, não é não?
Semana passada, ao fechar a porta da garagem, uma delas se perdeu na curva e caiu no meu pescoço. Geladinha, a querida.
A sensação imediata que tive na pele foi a de um bife de fígado com pernas. Uma delícia que vocês não imaginam. O grito que soltei me deu extrema vergonha.
É por estas e por outras que detesto natureza.
Relatei estes fatos a uma amiga que tem pavor de lagartixas. Ela contou que em sua casa tem muita. No desespero ofereceu as lagartixas em troca de nossos sabiás. Quando lhe contei que as lagartixas são benignas porque comem as baratas, ela quis saber se sabiás podem comer lagartixas. Lhe respondi que sim, mas há que adestrar. Lhe comentei também que quando um sabiá come uma lagartixa, via de regra se apaixona. Ela me respondeu algo um tanto vago, mas desconfio que tivesse teor chulo. Como sei que este tipo de conversa sempre acaba em açoitamente em frente à cam, parei por aí. Sou um homem sério.
O mundo gira.
E assim vamos.
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