sexta-feira, 16 de setembro de 2016

O PIQUETE

Ela entrou em casa na maior euforia. Tava elétrica. Encontrou o marido nervoso e preocupado.

- Puxa vida. Quanta demora. Que manifestação comprida esta!
- É querido. Não é fácil protestar. Tem de ter fôlego. Hoje estava lindo. Todo mundo no maior "Fora Temer".
- E este cabelo molhado?
- Ah, ah! E a polícia respeita a gente?
- Tacaram água em vocês?
- Ohhh...Muita!
- Mas vem cá. E este cheiro?
- Ah sim...eram baldes dágua.
- Peraí...este cheiro eu conheço.
- Sim. Fascistas colocam sabonetes de motel dentro dos baldes dágua.
- Como?
- Sim. Os fascistas estão cada vez mais perversos.
- Mas não era a polícia?
- Infiltrados.
- Fascistas infiltrados no meio da polícia jogaram em vocês baldes de água com sabonete de motel dentro?
- Ahã.
- Pra que???
- Minar a confiança das famílias. Semear a discórdia. Mas não passarão.
- Sério? Sei não. Parece meio demais isso. E esta marca no pescoço?
- Cassete.
- Cassete?
- Não!... quer dizer...cassetete.
- A polícia também bateu em vocês?
- Ohhhh...e como! Meteram o pau.
- Mas querida...estas manifestações estão ficando muito perigosas.
- Amanhã tem de novo.
- Ué. Não vi nada anunciado.
- Manifestação secreta. Pra não atrair polícia.
- Onde vai ser?
- No Botafogo.
- Que Botafogo?
- Quer dizer...na esquina, isso....na esquina democrática. Amanhã vamos tacar fogo.
- Vou contigo.
- Vai não.
- Por que???
- Você não tá preparado pra tanto movimento.
- Muita coisa?
- Ahã...te falei que em certo momento ele me deixa completamente sem ar.
- Ele quem?
- O piquete?
- Que piquete?
- Ai....a manifestação, amor... a manifestação.

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