Eu não entendia aquelas maneiras brasileiras de falar alto pra ser notado. Ficava me perguntando o porquê de nos acharmos tão especiais. Além disso, eu sentia que os brasileiros demonstravam um certo desprezo pelos lugares aos quais estavam visitando, algo tipo:
ISTO AQUI É LEGAL, MAS LÁ NO BRASIL É QUE ...
Ou
OS ESPANHÓIS SÃO BACANAS, MAS NÃO TEM A ALEGRIA QUE A GENTE TEM E NEM...
O turista brasileiro acha que é a estrela máxima de sua própria viagem. Eu ainda não tinha 30 anos, mas lembro que achava aquilo bastante babaca.
Dentro de nosso país vejo isso acontecer com os gaúchos.
Gaúcho, quando viaja, sempre fala alto pra ser notado. Achamos que somos uma especialidade rara dentro do Brasil. Dá vergonha também. Por falar em especialidade, estamos nos especializando em fascismo, é bom que se diga.
Mas muda a cena.
Um tempo depois, no ano de 92, já no Brasil, liguei a TV pra assistir ao futebol num domingo de tarde.
Havia acontecido alguma coisa fora do previsto, pois o locutor lamentava algo. Estava na Globo e quem narrava era o Vanucci, aquele que entrava bebum no ar. Lembro que ele estava dizendo algo parecido com:
SÓ MESMO O BRASILEIRO, COM SUA IRREVERÊNCIA, CONSEGUE SUPERAR ESTE TIPO DE COISA.
Era um Fla- Flu lotado. 150 mil pessoas. Fui descobrindo que um dos parapeitos do Maracanã tinha se rompido e as pessoas começaram a cair pro andar de baixo.
Acabei de rever as cenas no YouTube agora mesmo. Foi terrível.
4 mortos e mais de 100 feridos. A tragédia aconteceu por falta de manutenção. A mureta estava frouxa e cedeu. As pessoas caíram em cima de outras pessoas de uma altura de 8 metros. Um pesadelo. Quando a coisa ruiu, aquela multidão ficou de cara para o vazio e havia o risco de haver uma avalanche humana.
Mas toca o barco e segue o jogo. Não pararam a partida. Impressionante.
E nossa irreverência basta para que passemos por cima disso?
4 mortos numa tarde de futebol?
Lembro que aquela frase do comunicador me incomodou muito. Como assim? Nossa irreverência faz com que não nos indignemos quando acontece uma tragédia destas?
Sabe o que eu acho?
Acho que nossa imagem, nosso perfil, a maneira como nos enxergamos, foi moldada pela rede Globo. Eu acredito piamente nisso.
Somos o país do futebol porque a Globo assim o disse. E acreditamos nisso até hoje, apesar de apanharmos de qualquer seleção menor.
E é assim que nos vemos: Irreverentes, simpáticos, criativos.
Somos os melhores do planeta.
Somos uns presunçosos que andamos pelas ruas da Europa falando que legal mesmo é o Brasil.
Além de afáveis, somos também pacíficos. Nos disseram que somos bonzinhos e acreditamos. Na verdade, somos otários. Somos comandados por uma rede de comunicação que traçou o nosso perfil e nos fez acreditar que somos muito especiais. Os europeus adoram vir ao Brasil, pois somos uns bobo alegres. Mas vai ser bobo alegre em Berlim, pra ver se os alemães não te dão uns paratequieto.
Estamos sendo moldados faz décadas, e acho que agora chegamos ao ponto de maturação que eles queriam. Nos tornamos um número imenso e irreversível de idiotas.
O Congresso brasileiro tem nossa cara. Nosso idiotismo está ali espelhado. Nossa torpeza, nossa vilania.
Há demanda para que Davi Coimbra, Kimtacategoria, Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi, e outros tantos, escrevam suas sandices irresponsáveis e perversas em jornais tendenciosos e por isto sejam aclamados. Há demanda pra estes caras.
Há demanda para que haja centenas de duplas sertanejas tocando a mesma música incessantemente pra deseducar mais e mais os ouvidos das pessoas.
Agora somos muitos. Somos uma gigantesca legião de idiotas. E precisamos alimento pra nossa alma pequena e nosso cérebro atrofiado.
Fazer este tipo de abordagem negativa tem sido taxado de complexo de vira-latas, eu sei, mas não tem outro jeito.
A coisa ficou insana demais.
Não passamos de um imenso aglomerado de idiotas formatados por uma empresa de comunicação.
FC - setembro - 16 - pOa
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