sábado, 11 de março de 2017

A LAGARTIXA MARLEY & O PINGUIM LASANHA

Dois espécimes raros de animais têm sido vistos pelas florestas e orlas flamengas. Digo que são raros por haverem migrado das terras do sul e também por estarem em extinção. Um deles é a Lagartixa Marley.

Marley tem predileção pelas árvores e montanhas e total adoração pela lua. Quando esta surge no horizonte, Marley sempre lhe aponta o dedo fino e branco e emite pequenos ruídos de aprovação. Lânguida por natureza, atrai a cobiça de machos e fêmeas de outras raças, mas a isto quase nunca vê, pois seu olhar está sempre descansando sobre imagens e sonhos. Apesar do nome sugestivo, não tem atualmente qualquer relação com a planta canabis seativa, e nem necessitaria , já que leva um jardim florido junto ao cérebro. Lagartixa Marley pertence à classe dos leves.

O outro animal a que me refiro é o Pinguim Lasanha. Lasanha tem sempre os pensamentos com alguns minutos de atraso, o que o faz nunca estar no lugar onde deveria estar. Devido a isto, apesar do porte avantajado, adquire a fantástica característica da invisibilidade, e se pode dizer que tal fato lhe traz o importante benefício do “corpo fechado”, mas também sérias desvantagens de toda ordem, afinal de contas, quem não é visto nunca é lembrado. Este indivíduo tem forte ligação com o oceano e não é raro vê-lo comunicando-se com as salgadas águas nos momentos em que besouros e nóias silvestres dão-lhe alguma trégua e não o picam tanto na cabeça. Pinguim Lasanha pertence à classe dos densos.

Os dois espécimes, apesar das grandes diferenças químicas e biológicas, se protegem mutuamente, e tem sido encontrados sempre juntos, brincando brincadeiras tolas e repetidas, mas parecem muito satisfeitos com isto. Vez por outra, surge uma pequena desavença, mas esta é logo superada, pois os dois sempre acabam lambendo as feridas um do outro.

É nos momentos em que estão roubando peixes do mar que aparecem as nuvens, então eles deixam tudo que estão fazendo para jogar sua atenção a estas nuvens carregadas que vêm das terras frias. Sempre tentam ler o que dizem as gordas nuvens, mas as mensagens nunca são o bastante claras e seus olhos se cruzam e se tocam logo após elas passarem. Geralmente, é neste instante que os dois desconfiam que, por suas extremas diferenças, se aproxima o momento de procurarem por seus iguais, porém , talvez por uma defesa natural, logo em seguida esquecem disto, afinal de contas há muitos peixes bonitos no mar. Peixes lindos. Pedindo para serem roubados.

Fernando Corona

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