sábado, 2 de junho de 2018

HOMÚNCULO

O pequeno sujeito está no salão íntimo, em frente ao espelho, ajeitando a gravata, alinhando o terno. Repara que tem a fisionomia desfigurada, e não poderia ser de outra forma, afinal de contas a causa de tudo isto é a impertinência desta gente que grita por alguns poucos centavos a mais que a gasolina e o óleo tiveram nestes últimos dias. "Chora por tão pouco, esta gente chata", vai pensando o homem que alguns chamam de presidente.

Michel, que é assim que a mãe resolveu batizar, sente-se esgotado, mas acredita que obteve sucesso para resolver esta pendenga toda. Enquanto limpa as unhas com a chave do cofre, experimenta um certo alívio e põe-se inclusive a cantarolar uma melodia simples.

Nota então que está sendo observado pelos assessores, e estes carregam expressões de espanto.

Esfregando as mãos, o pequeno homem gira sobre o corpo e fingindo simpatia, abre um sorriso. Pergunta.

- Que houve pessoal? Não posso cantar? Não posso me sentir satisfeito com o desenlace dos fatos?

Como resposta, apenas o silêncio.

- Que que há minha gente? Fala, Aurélio!!! Por que esta cara de bezerro desmamado?

O assessor responde com voz vacilante.

- É que... essa música, meu senhor....
- O que que tem?
- É que...
- Fala logo de uma vez? O que é que tem a porra dessa música, Aurélio!?

Aurélio despejou tudo como uma metralhadora.

- Esta música que o Sr está entoando é o jingle do Lula, Senhor Presidente. Pronto, falei!!

O desprezível homúnculo, tomado pela ira, se atira a pontapés e socos às paredes e à mobília governamental, gritando que "matem aquele corneteiro filho duma puta, tragam-me a cabeça daquele corno infeliz" e foi contido a custo pelos asseclas que com presteza conduziram aquele corpo franzino e empertigado até o sofá mais próximo e lhe administraram a bombinha de asma, pois a tosse sobreveio com tamanho vigor do fundo dos brônquios irritados que sua pele já ia adquirindo uma tonalidade violeta.

Passado o repentino acesso, o que sobrou foi uma dor enjoada no peito do pé, fato que obrigou o ignóbil espécime a manquitolar o dia inteiro pelo palácio, assim como  também  forçou-o a mentir com desfaçatez aos curiosos perguntões, dizendo que aquilo não era nada, que não passava de uma simples lesão causada pelo frenesi do badminton.


PS. Pra quem não sabe, há um trompetista que anda infernizando o planalto e as matérias da Globo. Toca o jingle de Lula e grita a todos pulmões. GOLPISTA!!!

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