quarta-feira, 6 de junho de 2018

RENATINHA

Já faz bem uns quinze anos que entrei no teatro São Pedro e no palco estavam o saudoso Geraldo Flach e Ivan Lins.

Naquele momento, eu padecia de extrema melancolia. Estava fazendo a ponte para o Rio de Janeiro e via como incerta a possibilidade de ficar por lá. Profissionalmente, era imperativo sentar praça na cidade maravilhosa.

Além do mais, havia conhecido alguém por aquelas bandas e se podia dizer que este alguém não estava na palma de minha mão.

Então, o desassossego ia me corroendo enquanto assistia àquele concerto tão bonito, e num determinado instante Ivan pegou a palavra e contou que sempre teve vontade de fazer uma parceria com Chico Buarque e que nunca tinha rolado.

Contou também que Chico, num encontro casual, havia lhe prometido que fariam uma canção juntos a partir do momento em que Ivan se tornasse avô. Ivan tornou-se avô e Chico enviou-lhe uma letra. Ivan compôs a melodia e batizaram de RENATA MARIA.

Ivan então cantou, em primeira mão, a Renatinha, prum teatro São Pedro lotado e emocionado.

Que puta canção!

É uma canção masculina, no que pode haver de mais puro e belo nesta palavra.

Muitas vezes nos deparamos com alguém que, por sua beleza, ou seu brilho, ou seu carisma, nos deixa tão embasbacados que não temos a mínima condição ou coragem de entabular um contato.

A chance se vai, jamais volta a se repetir e o fato vira apenas uma pedra na memória, que vez por outra damos uma polidinha.

A letra fantástica fala disso e tem um verso que nunca para de me assombrar.

“Dia após dia na praia, com olhos vazados de já não a ver.
Quieto como um pescador a juntar seus anzóis,
ou como algum salva-vidas no banco dos réus.”

Não é o must?

Talvez eu esteja mentindo e tenha sido o inverso. Pode ser que Ivan tenha enviado a música pro Chico e este fez a letra em cima, o que é uma tarefa muito difícil. Não sei ao certo. De toda forma, os dois são gênios.

Por força dos direitos autorais, alguns vídeos sumiram do YouTube.

Havia um vídeo desta canção que começava com a introdução de FUTUROS AMANTES como fundo, e a voz do Chico, em off, falando que às vezes sai pra caminhar e as pessoas acham que ele está fazendo footing, mas na verdade ele caminha pra encontrar soluções pra suas letras. Chico ia contando estas coisas e várias imagens ensolaradas da cidade maravilhosa iam passando até entrar a canção propriamente dita. Num determinado momento, eu podia jurar que uma menina jogando frescobol era a RENATINHA.

Putz.

Do outro mundo!

Renata Maria faz parte do cd CARIOCA e acho que este disco é uma coisa muito séria. Penso que é um disco antológico feito na era moderna. Coisa rara. Canções fantásticas e arranjos de primeira linha. Transborda.

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