Depois de uma ou duas experiências duvidosas, nos disseram que sim, que certamente seria no Amarelinho da Glória que poderíamos comer uma excelente Paella e lhes conto que quando o prato chegou, nos iluminamos, cheios de expectativa. Resulta que, no momento em que provei a iguaria, não acreditei e tive de chamar o garçom.
- Vem cá, meu velho. Me diz uma coisinha.
- Sim senhor.
- Por acaso esta paella foi feita com azeite de dendê?
- Claro, chefe.
Uhuuuuuuuuuu!
Vocês não imaginam a imensa honra que senti ao ser apresentado à paella axé.
Algum tempo depois fui convidado pra um almoço na casa de Maria Cristina Bogossian e o prato seria paella. Ainda não tínhamos intimidade e a Cris ficou um tantinho tensa quando contei de minhas experiências malfadadas com paella e ainda por cima disso, lhe sentenciei do alto de minha grossura:
- Olha, Cris. Sou de família espanhola e vivi na Espanha por três anos. Eu conheço muito bem o gosto que uma paella tem. Olha lá, hein?
- Ai, mel dels.
Mas lhes conto também, que neste dia de domingo, no qual fazia um sol de justiça, comemos uma paella de verdade. Paella com cara, cor e gosto de paella. A Cris, que se sentiu aliviada com minha aprovação, é uma excelente cozinheira e foi a partir deste dia que começamos a estreitar nossas amizades. Junto com Antonio Ricardo Ribeiro Cidade e Vika Barcellos consumíamos uma quantidade industrial de cerveja e assemelhados e também gastávamos nossas línguas em fantásticas tardes de calor e paisagens.
Tem gente que confunde paella com parrillada.
Parrillada basicamente é um assado de carnes e linguiças. Coisa de argentinos e uruguaios. Já a paella é um prato espanhol, onde o tempero básico é o açafrão.
Quando a paella é valenciana, é arroz com frutos do mar.
Quando é mista, vai todas as carnes. Frutos do mar, frango, porco e gado.
Quando a paella é de fideuá, o arroz é substituído por massa.
Infelizmente nunca comi uma paella de fideuá, mas isto me faz lembrar de uma data em que o Villa Lobos in jazz foi tocar em Sampa e a Anariá Corona nos levou a um chino onde tivemos a fortuna de saborear massas com peixes e camarões. Um troço de outro mundo com um preço bem barato. Além disso, pudemos assistir a um chinês na cozinha trançando a massa. Ele amassou a massa, esticou, trançou, esticou, trançou, esticou, trançou e esticou até que, num passe de mágica, ficou com um feixe de macarrão na mão, macarrão pronto pra ir pra panela.
Outra cosa que as pessoas confundem é a pronúncia. As gentes falam PAEJA. Isto seria pronúncia aqui do Plata, mas se você quiser aproximar do acento ibérico, acho que seria algo maomeno assim:
PAEILIA
Mas voltando ao Rio de Janeiro, Vika e eu moramos por alguns anos na Correa Dutra que fica a uma quadra do Palácio do Catete. Na Correa Dutra moraram Ary Barroso, Emílio Santiago, e mais recentemente vários grandes músicos cariocas como Itamar Assiere e Luciana Oliveira que me contou que o violinista Nicolas Krassik se queixou a ela que um pianista idiota estudava às cinco da matina e perturbava seu sono.
Mas voltando ainda ao assunto do rango, no Catete tem uma loucurada de movimento. Umas dez farmácias, uns dez supermercados e vários tipos de restaurantes.
Comer na rua no Rio é caro e é importante saber escolher, pois na cidade maravilhosa é muito fácil comer comida ruim. Até em restaurantes caros e finos você pode se deparar com uma comida mal feita. Acontece que minha mãe é descendente de italianos, muito talentosa na cozinha, e por isso sou meio chato e por isto também ninguém me engana nem em restaura por mais finório que seja.
Ali na rua do Catete tinha o Catete Grill. Um restaurante a quilo que pertence a gaúchos. Apesar da apresentação impecável, você podia cair na asneira de escolher um peixe ao maracujá ou um camarão no molho branco e aí era batata que você ia passar a tarde meio enjoado com aquele tempero rançoso. Caímos nesta esparrela algumas vezes, mas depois nunca mais entramos.
Tinha o restaurante do Palácio que servia uma comida regular. Depois descobrimos um pé sujo que servia uma comida bem honesta. Gastávamos entre os dois uns vinte e cinco reais e acabamos batizando o bar de “o baratinho”. Certa feita, no meio da refeição, senti um cheiro estranho e descobri que vinha dos guardanapos. Aproximei um guardanapo do nariz da Vika e perguntei.
- Tem cheiro de que?
Ela respondeu sem pestanejar.
- Cocô.
Rimos um bocado e chegamos à dura conclusão de que eram guardanapos reciclados de papel higiênico usado. Becs. Que nojo, né? Mas não deixamos de ir no Baratinho, pois nhaca de pobre é incurável.
Um das coisas que sinto falta aqui em Porto Alegre é das galeterias. No Rio, você entra numa e senta no balcão pra comer um galetinho. Ali na estação da Carioca tem uma muito boa.
E a dica imperdível é sempre o Forte de Copacabana. Tem uma confeitaria Colombo lá com vista praquela praiona linda.
SALADA SOUZA LIMA
Presunto cru, muzzarela de búfala, tomatinhos, alface e manjericão.
PENNE AOS QUATRO QUEIJOS
RAVIOLLE AO ROSSO
Massa recheada com queijo, molho de tomate e manjericão.
Esta é a minha definitiva sugestão de almoço de primeira no RJ.
Ah. Preço bom também.
Nhaca, né?
Ah!
Ainda lembrei que foi em outubro passado que dei uma subida pra tocar o Villa Lobos na casa do seu Otavio Garcia e o cara fez uma feijoada prumas quarenta pessoas que depois assistiram entusiasmadas à tocata. Como sublinhou um amigo naquela ocasião, a feijoada do Otávio seria uma feijoada autoral e tive de concordar com ele, pois não tinha aquele gosto da feijoada tradicional, mas possuía uma personalidade forte e estava dos deuses. Além disso, a curiosidade era os dentes de alho inteiros que vinham junto e juro que vi as pessoas botarem tudo pra dentro. Eu declinei, pois sabia que os gases me fariam doer as omoplatas.
Nhaca de novo.
Bah.
sexta-feira, 10 de janeiro de 2020
À BEIRA DE
Carácoles.
Tenho uma colega de Face que é uma figura.
Ela é de esquerda e super atuante. Atuante na rede, diga-se. Que eu saiba.
É de esquerda, é atuante e parece estar sempre à beira de um.
O que acontece é que ela não lê direito o que tá escrito.
Não repara na importância das vírgulas ou, pela ansiedade, pula a palavra "não" e isto lhe faz entender tudo ao contrário.
Daí o que que ela faz?
Cai no meio do post dando voadora, soco e pontapé.
O agredido, que é aliado, não entende nada e, atônito, também adere à concepção matacobra. Possuído por extrema ira, enche a menina de osso.
Até se desfazer o mal entendido vai um bom tempo.
Sempre quando vejo que vai acontecer, preparo pipoca.
Mas olha só.
A coisa tá incandescendo e não é só política.
É qualquer questão trivial e as gentes tão se espinafrando.
O ódio escorre por este Facebook que a gente achava que ia ser libertador, agregador, cultural. Porra nenhuma. Virou pancadaria mais do que tudo.
A rede tirou nossa vaidade do armário e deu um lustro. Qualquer senão se torna insulto. E como tamos raquíticos de espírito, os insultos calam fundo e a raiva fica em volta, aconselhando.
Tamos à flor da pele, véi.
A rede é cosa do capeta.
A rede foi ferramenta maquiavélica pra colocar os danificados da alma no poder e a pancadaria que eles querem é atômica.
Os deformadores da realidade têm urgência em destruir.
Tenho uma colega de Face que é uma figura.
Ela é de esquerda e super atuante. Atuante na rede, diga-se. Que eu saiba.
É de esquerda, é atuante e parece estar sempre à beira de um.
O que acontece é que ela não lê direito o que tá escrito.
Não repara na importância das vírgulas ou, pela ansiedade, pula a palavra "não" e isto lhe faz entender tudo ao contrário.
Daí o que que ela faz?
Cai no meio do post dando voadora, soco e pontapé.
O agredido, que é aliado, não entende nada e, atônito, também adere à concepção matacobra. Possuído por extrema ira, enche a menina de osso.
Até se desfazer o mal entendido vai um bom tempo.
Sempre quando vejo que vai acontecer, preparo pipoca.
Mas olha só.
A coisa tá incandescendo e não é só política.
É qualquer questão trivial e as gentes tão se espinafrando.
O ódio escorre por este Facebook que a gente achava que ia ser libertador, agregador, cultural. Porra nenhuma. Virou pancadaria mais do que tudo.
A rede tirou nossa vaidade do armário e deu um lustro. Qualquer senão se torna insulto. E como tamos raquíticos de espírito, os insultos calam fundo e a raiva fica em volta, aconselhando.
Tamos à flor da pele, véi.
A rede é cosa do capeta.
A rede foi ferramenta maquiavélica pra colocar os danificados da alma no poder e a pancadaria que eles querem é atômica.
Os deformadores da realidade têm urgência em destruir.
SE DAR OU NÃO SE DAR O RESPEITO
Um colega contou que outro colega, músico famoso, no meio de uma festa, com forte sotaque gaudério mandou;
- Tchê. Vou te dizer uma coisa. Estes caras que andam por aí dando a bunda, estes caras fazem isso porque não se dão o respeito...
Daí fez uma pausa, deu um talagaço na ceva e seguiu o raciocínio.
- Porque se essa galera se desse mesmo o respeito, não andava por aí dando a bunda.
Bah.
Me admirei com a lógica.
E também com a confissão sem luz na cara.
E já me lembrei duma boa que é correlata.
Os amigos gaudérios tavam comendo um churrasco e de repente o assador para com o que tá fazendo e proclama pra roda;
- Gurizada. Tamo tudo aqui reunido, amigos de longa data, amigos de infância. Agora me digam com toda sinceridade. Quem é que com seus quatorze, quinze anos, não andou dando a bunda?
O Lindomar quase saltou do banquinho.
- Tá loco, meu!!! Daonde tu tirou essa ideia? Claro que não!
O Valmir arregalou os olhos.
- Tás alucinando, rapaz??? Jamais, tchê!!!
O Siqueira se engasgou com a farinha e chegou a cuspir a picanha.
- E eu muito menos!!! O que que é isso???
Então Norisney, o grande assador, agora ciente das negativas, limpou as mãos no pano de prato e deu o assunto por encerrado.
- Bueno. Já que é assim, eu também não.
- Tchê. Vou te dizer uma coisa. Estes caras que andam por aí dando a bunda, estes caras fazem isso porque não se dão o respeito...
Daí fez uma pausa, deu um talagaço na ceva e seguiu o raciocínio.
- Porque se essa galera se desse mesmo o respeito, não andava por aí dando a bunda.
Bah.
Me admirei com a lógica.
E também com a confissão sem luz na cara.
E já me lembrei duma boa que é correlata.
Os amigos gaudérios tavam comendo um churrasco e de repente o assador para com o que tá fazendo e proclama pra roda;
- Gurizada. Tamo tudo aqui reunido, amigos de longa data, amigos de infância. Agora me digam com toda sinceridade. Quem é que com seus quatorze, quinze anos, não andou dando a bunda?
O Lindomar quase saltou do banquinho.
- Tá loco, meu!!! Daonde tu tirou essa ideia? Claro que não!
O Valmir arregalou os olhos.
- Tás alucinando, rapaz??? Jamais, tchê!!!
O Siqueira se engasgou com a farinha e chegou a cuspir a picanha.
- E eu muito menos!!! O que que é isso???
Então Norisney, o grande assador, agora ciente das negativas, limpou as mãos no pano de prato e deu o assunto por encerrado.
- Bueno. Já que é assim, eu também não.
COSAS
Paolo Andriolo é um colega italiano baixista que vem muito ao Brasil e por isto fala muito bem o português.
Paolo gosta muito de usar a expressão "puta merda".
Puta merda é uma expressão que se pode dizer que é clássica. É clássica e ilógica, pois mistura conduta sexual com dejetos e parece que caiu em desuso, talvez até por causa disso.
Se você for pensar, tal junção pode ter tido origem de dois significados.
As Prostitutas que não satisfaziam seus clientes.
- Ela é uma puta merda. Nem lambeu o meu sovaco.
Ou quando se pisava num cocô gigante e se ficava furioso a tal ponto de querer ofender muito o cocô.
- Você não acredita no tamanho do cocô que acabei de pisar e tô cagando toda a casa, mas que puta merda!!!
Seu Lauro, meu primeiro sogro, também usava expressões clássicas.
- Oi Fernando. Como vai tua mãe?
- Tá tudo bem com ela, Seu Lauro.
- Me alegro.
Este "me alegro" uso até hoje.
Mais clássico ainda é o " folgo em saber".
- Senhorita Mila, como vai passando seu pai de saúde?
- Obrigado por perguntar, Senhor Jeremias. Meu pai convalesce notavelmente.
- Folgo em saber.
Bah. Folga nada. Jejê tá nem aí. Só tá sendo querido pra vê se come a Dona Mila.
E tem o carioca que coloca a palavra porra em todas as frases.
- Tira eissa porra daí, porra!
- Não acredito neissaish porra não.
Carioca bota não no começo e não no fim. Pra frisar bem.
Outros repetecos que eles usam.
- Vladimir já chegou?
- Já taí já.
Ou entao;
- Quantos filhos você têm?
- Só um só.
Pra fixar bem, certamente. Causa de que o carioca tem déficit de atenção. Você vai contar uma coisa pra um carioca e ele te interrompe no sétimo segundo pois o começo da tua frase lembrou uma coisa da vida dele que é muito mais interessante que a tua.
Outra coisa que me impressionou muito no Rio de Janeiro foi a paquera.
Logo que cheguei, fui morar na Selva de Pedra, no bairro Leblon com o Otavio Garcia, baterista. Um certo dia assisti ao Otavio paquerando uma moça e não pude acreditar no que vi. O cara é um verdadeiro gênio. A conversa não tem assunto. O papo da paquera vai por um caminho de isopor e papel picado e vai assim por um longo tempo numa lengalenga interminável. Não tem tema. Mas também não é uma introdução. É assim como se fossem músicos de orquestra afinando ad libitum.
Nunca dominei a fabulosa arte da conversa sem assunto e devido a esta minha fantástica falta de criatividade resultou que não peguei ninguém e por sorte tinha lá uma lagartixa de olhos de fada das terras do sul e fomos na praia e tomamos água de coco e comemos biscoito Globo e foi um monte de coisa que aconteceu na cidade formidável de São Sebastião.
Paolo gosta muito de usar a expressão "puta merda".
Puta merda é uma expressão que se pode dizer que é clássica. É clássica e ilógica, pois mistura conduta sexual com dejetos e parece que caiu em desuso, talvez até por causa disso.
Se você for pensar, tal junção pode ter tido origem de dois significados.
As Prostitutas que não satisfaziam seus clientes.
- Ela é uma puta merda. Nem lambeu o meu sovaco.
Ou quando se pisava num cocô gigante e se ficava furioso a tal ponto de querer ofender muito o cocô.
- Você não acredita no tamanho do cocô que acabei de pisar e tô cagando toda a casa, mas que puta merda!!!
Seu Lauro, meu primeiro sogro, também usava expressões clássicas.
- Oi Fernando. Como vai tua mãe?
- Tá tudo bem com ela, Seu Lauro.
- Me alegro.
Este "me alegro" uso até hoje.
Mais clássico ainda é o " folgo em saber".
- Senhorita Mila, como vai passando seu pai de saúde?
- Obrigado por perguntar, Senhor Jeremias. Meu pai convalesce notavelmente.
- Folgo em saber.
Bah. Folga nada. Jejê tá nem aí. Só tá sendo querido pra vê se come a Dona Mila.
E tem o carioca que coloca a palavra porra em todas as frases.
- Tira eissa porra daí, porra!
- Não acredito neissaish porra não.
Carioca bota não no começo e não no fim. Pra frisar bem.
Outros repetecos que eles usam.
- Vladimir já chegou?
- Já taí já.
Ou entao;
- Quantos filhos você têm?
- Só um só.
Pra fixar bem, certamente. Causa de que o carioca tem déficit de atenção. Você vai contar uma coisa pra um carioca e ele te interrompe no sétimo segundo pois o começo da tua frase lembrou uma coisa da vida dele que é muito mais interessante que a tua.
Outra coisa que me impressionou muito no Rio de Janeiro foi a paquera.
Logo que cheguei, fui morar na Selva de Pedra, no bairro Leblon com o Otavio Garcia, baterista. Um certo dia assisti ao Otavio paquerando uma moça e não pude acreditar no que vi. O cara é um verdadeiro gênio. A conversa não tem assunto. O papo da paquera vai por um caminho de isopor e papel picado e vai assim por um longo tempo numa lengalenga interminável. Não tem tema. Mas também não é uma introdução. É assim como se fossem músicos de orquestra afinando ad libitum.
Nunca dominei a fabulosa arte da conversa sem assunto e devido a esta minha fantástica falta de criatividade resultou que não peguei ninguém e por sorte tinha lá uma lagartixa de olhos de fada das terras do sul e fomos na praia e tomamos água de coco e comemos biscoito Globo e foi um monte de coisa que aconteceu na cidade formidável de São Sebastião.
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