sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

COSAS

Paolo Andriolo é um colega italiano baixista que vem muito ao Brasil e por isto fala muito bem o português.

Paolo gosta muito de usar a expressão "puta merda".

Puta merda é uma expressão que se pode dizer que é clássica. É clássica e ilógica, pois mistura conduta sexual com dejetos e parece que caiu em desuso, talvez até por causa disso.

Se você for pensar, tal junção pode ter tido origem de dois significados.

As Prostitutas que não satisfaziam seus clientes.

- Ela é uma puta merda. Nem lambeu o meu sovaco.

Ou quando se pisava num cocô gigante e se ficava furioso a tal ponto de querer ofender muito o cocô.

- Você não acredita no tamanho do cocô que acabei de pisar e tô cagando toda a casa, mas que puta merda!!!

Seu Lauro, meu primeiro sogro, também usava expressões clássicas.

- Oi Fernando. Como vai tua mãe?
- Tá tudo bem com ela, Seu Lauro.
- Me alegro.

Este "me alegro" uso até hoje.

Mais clássico ainda é o " folgo em saber".

- Senhorita Mila, como vai passando seu pai de saúde?
- Obrigado por perguntar, Senhor Jeremias. Meu pai convalesce notavelmente.
- Folgo em saber.

Bah. Folga nada. Jejê tá nem aí. Só tá sendo querido pra vê se come a Dona Mila.

E tem o carioca que coloca a palavra porra em todas as frases.

- Tira eissa porra daí, porra!
- Não acredito neissaish porra não.

Carioca bota não no começo e não no fim. Pra frisar bem.

Outros repetecos que eles usam.

- Vladimir já chegou?
- Já taí já.

Ou entao;

- Quantos filhos você têm?
- Só um só.

Pra fixar bem, certamente. Causa de que o carioca tem déficit de atenção. Você vai contar uma coisa pra um carioca e ele te interrompe no sétimo segundo pois o começo da tua frase lembrou uma coisa da vida dele que é muito mais interessante que a tua.

Outra coisa que me impressionou muito no Rio de Janeiro foi a paquera.

Logo que cheguei, fui morar na Selva de Pedra, no bairro Leblon com o Otavio Garcia, baterista. Um certo dia assisti ao Otavio paquerando uma moça e não pude acreditar no que vi. O cara é um verdadeiro gênio. A conversa não tem assunto. O papo da paquera vai por um caminho de isopor e papel picado e vai assim por um longo tempo numa lengalenga interminável. Não tem tema. Mas também não é uma introdução. É assim como se fossem músicos de orquestra afinando ad libitum.

Nunca dominei a fabulosa arte da conversa sem assunto e devido a esta minha fantástica falta de criatividade resultou que não peguei ninguém e por sorte tinha lá uma lagartixa de olhos de fada das terras do sul e fomos na praia e tomamos água de coco e comemos biscoito Globo e foi um monte de coisa que aconteceu na cidade formidável de São Sebastião.

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