sábado, 14 de novembro de 2015

O CIGARRO SEM FUMAÇA

Muitas vezes, quando estou lendo, me vem a sensação de que a literatura é muito maior do que a música. Ainda não sei explicar isto, mas hora destas consigo desenhar com os detalhes necessários. Dia destes consigo pegar o sentido exato e traduzir em palavras. 

Nestes momentos, também sempre me vem à cabeça que já ouvi pintores, escritores e outros artistas famosos dizerem acreditar que a música, sem sombra de dúvida, é a mais fantástica entre todas as artes.

Ontem estava pensando que isto talvez  aconteça pela agilidade que  a música tem. Pela miniatura que pode ser, pela fluidez, por ser fragmento que pode ser interrompido e continuado logo a seguir.  Pode durar 30 minutos mas também pode durar 3. Podemos escutar a mesma música 3 vezes seguidas e no dia seguinte podemos repetir a dose. Em casa, na rua, no elevador. Não faríamos o mesmo com um conto, muito menos com um filme. A arte do humor também não permite muita repetição. A piada logo se torna velha.
 

Só na música existe o bis imediato. No final de uma peça quando todos se levantam,  fico com o maior medo de que peçam bis e que se repita a peça toda de novo.

Agora mudando de assunto, mas continuando no mesmo. Teve uma época em que só se aplaudia de pé aquilo que era muito fantástico. Hoje as pessoas aplaudem qualquer coisa de pé, mas acho que, na real, ficam de pé porque não suportam a ansiedade. “Beleza, tava muito bom, tava ótimo, mas quero sair daqui logo de uma vez”.

Antes era mais pelo cigarro, mas agora as pessoas querem sair pra teclar. Muitas delas nem aguentam esperar o fim. Teclam no meio do filme, do concerto, da peça. Acho que existe gente que entra numa sala de cinema só pra poder teclar sem ser incomodada.

O smart phone é o cigarro sem fumaça e é um cigarro que vai se revelando pouco a pouco. Vicia e vicia muito.

Não faz mal ao pulmão. Parecia inofensivo. SQN.

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