terça-feira, 7 de junho de 2016

CHECAP-ÚPI

A colega facebookiana riu da minha cara quando eu disse que tinha tomado banho porque iria fazer esteira.

- Nunca vi tomar banho pra ir na academia.
- Não é academia. É cardiologia. Vou fazer exames. É um Checap-úpi. Tomei banho, me perfumei e tudo.

É claro. Me perfumei com o número 2. Vá que...né?

A enfermeira da esteira usava óculos e era bem determinada. Tinha voz impositiva, mas era simpática.

Geralmente fico meio tenso na esteira, então fiz-lhe a pergunta que sempre faço.

- Tem gente que cai da esteira?
- Às vezes sim. Aquele que não sabe seu limite acaba se estabacando no chão.

Falou isso quase gritando.

Bah. Eu tenho medo de mulher braba, mas também sinto imensa atração.

A menina da chapa de pulmão, sem exagero nenhum, era uma deusa, dona de uma beleza rara, densa, generosa. Falou comigo todo o tempo com aquele tom de quem conversa com uma criança de 5 anos. Saí dali chupando o dedo.

No ecocardiograma, fiquei deitado, esperando. Daqui a pouco entra a médica. Se apresentou e é claro que não prestei atenção no que ela disse, pois estava atento às sobrancelhas, à boca, ao perfeito formato do nariz. Teria uns 25.

Quando ela já tinha começado o exame, e já scaneava meu peito, saí do transe.

Desculpe. Como é mesmo teu nome?

- Ana.

Depois de uma pequena pausa, adicionou.

- Doutora Ana.

Claro. Pra se dar o respeito, como se diz aqui pelo sul.

Ela já devia haver reparado em meu olhar mormacento e observador, assim como já tinha sentido meu perfume número 2 que tem como significado “lembrarás de mim antes que as pétalas da lótus se abram em novembro e ficarás pelada num átimo, sem saber nem como, nem por que”. Então ficou assim... Doutora Ana, uma profissional séria.

Num determinado momento em que tive de ficar de lado, ela reparou em algo.

- Seu Fernando, o senhor não tá deitado muito na pontinha?

Quando ela falou isso comecei a rir desbragadamente, pois me imaginei caindo de costas da maca.

O cara vai fazer uma eco e volta pra casa todo enfaixado.

Ela também riu bastante  com tal possibilidade. No fim do exame me tranquilizou, ao pronunciar exatamente estas palavras;

- Seu Fernando, seu coração é muito bom.

Eu ia dizer a ela que isto seria impossível, “pois este coração já sofreu muito com tantas desilusões, tantas traições, amores perdidos, amores que se foram, esta frieza da humanidade, este coração não pode ser bom, Aninha, quer dizer, Doutora Ana”, eu falaria tudo isso ajoelhado,  mas resolvi calar minha boca de gamela e deixar assim, que tava de ótimo tamanho, afinal ela achou que meu core é muito bom e só pra terminar,
 acho importante salientar que Doutora Ana é bem lindinha e a gente é babaca mesmo, sempre fica assombrado com a presença feminínica, a gente não se acostuma, a gente não consegue ser normal, a gente fica sonhando, a gente é sempre guri bobão.

Agora, falando sério, e indo no detalhe,  é bom dizer que as idades, pra mim, não são relevantes. Nunca tive atração por meninas, ou melhor, isto nunca teve importância. Mas acho bacana que exista uma certa jovialidade no jeito, no olhar. Tem uma pessoa de quem gosto muito, que às vezes me diz:

- Hoje tu tá parecendo um gurizinho.

É por aí.

Ah. Talvez alguém tenha ficado curioso a respeito do significado do meu perfume de número 1, o exterminador.

Eu não vou dizer.

Nem insiste.

Isto vai dar rolo.


MAIO - PoA - 16

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