Tem uma propaganda de uma água de coco na TV que diz que é natural, sem gordura trans, sem conservantes e com nível de sódio igualzinho ao da fruta.
Legal. Eu provei. Muito bom. Só tem um probleminha.
Tem gosto de abacaxi.
Isso me fez lembrar que quando eu era pequeno, lançaram o Lanjal. Lanjal era um suco de laranja super concentrado. Vinha numa lata. Bastava colocar um pouquinho no copo e o resto de água. Meu pai se queixava de que além de caro, não tinha gosto de laranja. Pra gurizada acostumada com Ki-suco, Lanjal era uma festa, mas na verdade, Lanjal tinha gosto de kriptonita.
Meu pai, que era casquinha, também comprava um requeijão que vinha num copo bonito que depois usávamos na mesa. Ele passava o requeijão no pão, colocava na boca e rezingava que não tinha gosto de nada.
Por esta época, meu avô nos deu um som estereofônico. Era um equipamento pequeno, da marca Dual, mas tinha um som fortinho. Eu adorava. Meu pai, aos domingos, colocava discos eruditos pra girar no prato e reclamava que de alta fidelidade não tinha nada, pois ele não conseguia sentir que a orquestra estava tocando ao lado dele.
Dias depois ele chegou em casa todo contente com um disco do Zimbo Trio e fiquei puto quando descobri que era música sem cantor. Então foi a vez de eu me queixar. Disse a ele que não gostava daquilo. Eu tinha descoberto os Beatles e achava chato música sem voz. Ele, nem aí, colocava o long play na eletrola a todo momento até que chegou um dia em que ouvi e me veio o estalo;
"Bah! Que legal este pianinho".
Fiquei arrepiado. Daí eu mesmo tomava a iniciativa de colocar o Zimbo pra tocar. Agora penso que educação também é isso. O tipo de ar que dão pra gente respirar.
Tem um tema deste LP que toco, volta e meia. Samba do Veloso, de Baden e Vinícius. Sempre me traz uma boa onda. Uma das características que possui o Zimbo é o improviso, e sempre que o trio vai dar início a este, eu sinto como se fosse a decolagem de um avião.
Agora, com estas reminiscências, acabei de lembrar de um hábito que meu avô tinha e meu pai herdou. Colocar um termômetro na sala pra gente saber a temperatura. As pessoas se divertiam com muito pouca coisa naquelas priscas eras. Não é?
Lembro dele com as mãos cruzadas nas costas, em frente ao objeto, se queixando que a temperatura que marcava não estava correta, que com certeza o aparelho estaria estragado ou não seria de boa qualidade. Era um cético por natureza.
Meu pai daria muita risada desta água de coco da propaganda. E claro, reclamaria um bom bocado também.
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