Tenho ido a alguns saraus literários. É bacana, embora pra mim seja bastante difícil assimilar o que é lido, recitado, contado. É diferente de assistir música, que a gente pode flutuar um pouco.
Nestes saraus, a atenção tem de ser total e atenção total é algo que não possuo jamais, ainda mais se beber um par de cervejas gordinhas. Mas sarau é legal.
Estes saraus aos quais tenho ido são frequentados apenasmente pelos FORATEMER. Não tem coxa nestes eventos.
Neste último que fui, no Ocidente, dei uma viajada e deixei de prestar atenção ao texto pra pensar um pouco sobre o seguinte:
Quando é que imaginaríamos que a sociedade iria se dividir a tal ponto de certos ambientes acabarem se tornando desaconselháveis pra certas pessoas? Isto me pareceu terrível, naquele momento. É como um sonho ruim.
Outra coisa que logo me veio também.
Será que os coxas fazem seus saraus? Um sarau onde não entra Chico, não entra Veríssimo, um sarau sem Galeano, sem Cortazar que são os autores condenados. Será que pode? Eles leriam o que? Olavo de Carvalho? Lobão? Trechos do livro da LavaJato? Talvez Paulo Coelho, mas Paulo Coelho também está contra o movimento coxa. Acho que ser coxa não deve ser muito divertido. Ou quem sabe em vida de coxa não entra sarau? Vai ser proibido sarau? Sarau é coisa de comunista? E música? Só vão escutar o que vem de compositores de direita? Existe isso? Compositores de direita? E bons?
Mas vamos pensando, vamos pensando, refletindo sobre estas coisas, e existe uma onda contra este ato de refletir, existe um movimento maluco contra o exercício do intelecto. O surgimento de uma gente assim, que condena o pensamento, é algo que é por demais surpreendente. Não é?
Então, os que teimamos em refletir, estamos um pouco tontos, buscando algumas explicações lógicas pra estes comportamentos pirados e ainda não sabemos direito o que pensar e o que dizer.
Dia destes tocamos no Fon Fon e foi legal pra caramba. Muito mesmo. As pessoas vieram nos cumprimentar no final e uma delas se aproximou de mim e disse ter gostado demais do concerto e de repente me perguntou;
- Mas não somos mais amigos no Face?
Então lembrei dela.
Respondi.
- Acho que te bloqueei. Te vi compartilhando material fascista.
- É. Eu sou coxinha. Mas não podemos nem ser amigos?
- Não.
Eu já havia, minutos atrás, conversado sobre política e tinha comentado que meu pai fora cassado no golpe de 64 e este assunto sempre me deixa uma brasa dançando no estômago e uma vontade de dar um soco em alguém. O papo seguiu assim:
- E não vou poder nem assistir a teus shows?
- Acho que estamos nos dirigindo a isso.
Ela foi se afastando, me fitando com um olhar de estranheza e se foi. Eu fiquei chateado. Mas as palavras foram me saindo desta forma quase impensada e tenho certeza que o diálogo foi exatamente da forma que conto.
Não sabemos direito o que pensar e o que dizer. Não sabemos como agir.
Mas vamos descobrindo o jeito certo, vamos entendendo.
Espero.
Nenhum comentário:
Postar um comentário