- Oi, querida.
- Tudo?
- Médio.
- que foi?
- Pressão.
- Como assim?
- Sei lá. A alma apertada.
- Sério?
- É. O espírito parece que não vai suportar o descompasso do mundo, das pessoas.
- Hum.
- E uma coisa vai tomando conta...
- Que coisa, Otávio?
- Sei lá, é como se fossem tentáculos que obstruem a possibilidade da gente sentir, de se expressar.
- Tanto assim?
- É. Tanto assim, querida.
- Hum. Sei. E tem algo que eu possa fazer por você?
- Tem.
- E o que seria?
- Me manda uma foto pelada.
- De novo, Otávio??? Ontem você tava com aquela diarreia e te mandei 5 fotos peladas. Olha aquelas.
- Aquelas não tem mais validade, Lia. Foram enviadas pra curar um outro tipo de mal.
- Aiaiai, querido. Essa aposentadoria tá te fazendo mal. Quem sabe você espera eu chegar em casa e me pelo pra você.
- Isso não adianta. Você sabe.
- E o quê que adianta receber foto pelada de quem tá casada com você há mais de 30 anos?
- Ah, sei lá. Daí imagino que você é uma vadia asquerosa que fica mandando foto pelada no meio do expediente.
- E este tipo de foto melhora a pressão?
- Melhora muito.
- Teu espírito vai ficar mais levinho, meu Dodô?
- Humhum.
- Tua alminha vai ficar coisa queri?
- Vai sim.
- Não amola, Otávio!
- Não vai mandar?
- Não, né? Ontem quase me pegaram nua no banheiro que tá com a tranca estragada. Se isso acontece, tô demitida! Sem chance!
- Nem um peitinho?
- Não enche Otávio, tenho de trabalhar!
- A coxa. Manda uma da coxa, pelo menos. Você saiu de vestido hoje, que eu vi.
- Não amola. Levanta daí e vai lavar a louça que a pia tá cheia.
- A panturrilha? Manda da panturrilha, querida, por misericórdia...
Tu-tu-tu
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