Estou tentando perder peso.
Por isso tenho caminhado.
Tento não pensar em nada enquanto caminho.
Quando logro esvaziar a mente, me vem uma vontade de correr.
Ontem experimentei dar uma corridinha e acabei por escutar minhas vértebras cantando, todas em uníssono:
“ Cuidado, meu rapaz! Não estamos mais acostumadas a tamanho alvoroço! Não arrisque colocar tudo a perder, querido rapaz!”.
Agradecido pelo “rapaz”, decidi acatar o pedido delas e voltei ao ritmo de caminhada, pensando que quero ficar levinho. Levinho pra correr, quem sabe até dançar, e por que não?
Vou pensando nisso enquanto caminho, sentindo uma cada vez maior vontade de correr.
Eu corria. Corria muito. Mas não corria a esmo. Eu corria atrás da bola. Corria, possuído pela euforia, em incandescentes tardes de verão, com os pés descalços na grama. Corria e gritava:
“Vai! Passa! Marca! Chuta!”
Depois, quando a bola parava, eu corria também. Corria em direção à água. Era vital chegar na bica antes da galera e então matava minha sede alucinada sorvendo a água com ruídos de cavalo.
Tragava a água com sofreguidão, enquanto ouvia a gurizada, em fila, atrás de mim, arfando e suplicando pressa:
“ Vai, pô! Tô com sede!”
Então, voltávamos saciados ao campo e jogávamos até o sol cansar.
De noite, certamente furaríamos um baile no clube e experimentaríamos cervejas amargas e Malboros que nos deixariam mareados, mas que dariam a exata coragem pra quem sabe nos aproximarmos de uma menina bonita que talvez quisesse dividir um beijo, menina que certamente encontraríamos na manhã seguinte na praia e não teríamos assunto algum, pois beijar era muito fácil, mas conversar é que eram elas. Pra conversar se necessita histórico.
Neste momento, o que não me falta é histórico, e talvez por isto eu tenha enfileirando na cachola este amontoado de pensamentos e lembranças enquanto caminho, sentindo esta imensa vontade de correr.
Estou tentando perder peso.
Por isso tenho caminhado.
Já falei isso?
Pois então. Quero ficar levinho. Levinho pra correr.
Correr pra quem sabe jogar até umas partidas saideiras, não sabe?
Correr, bater na bola e verificar a trajetória que ela toma. Correr com a bola ou correr atrás da bola e depois, quando ela parar, quem sabe correr em direção à água e sentir novamente, depois de tanto tempo, a maravilhosa sensação da água escorrendo pela cara, o sol ardendo na pele, talvez um bom momento para agradecer, quem sabe até rezar, rezar mesmo sem haver um deus por perto, agradecer a imensa fortuna de poder ter a água deslizando pelo corpo num verão que se tornará interminável, um verão que será o rei de todos os verões.
Vou pensando nisso tudo enquanto caminho.
Caminho na tentativa de perder peso. Mas acho que isso já falei.
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