sábado, 18 de julho de 2015

O JOTA 2



O Jota é meu amigo de longa data. Temos particularidades parecidas. Falamos pouco e nunca sorrimos.

Resulta que o Jota conheceu uma menina nova que chegou no bairro. Ela é fantástica. Aceitou beber umas cervejas com ele e a madrugada já ia avançada, então meu amigo resolveu que já era hora de inclinar-se por sobre a mesa para beija-la e quando isto aconteceu ela foi tomada por um surpreendente maremoto de volúpia que fez com que cravasse as unhas no braço dele, inclusive rasgando-lhe a camisa.

Depois que Waldemar (o garçom que trabalha neste bar que frequentamos) ouviu o grito do Jota e resolveu trazer Merthiolate pra passar no ferimento que lhe pareceu feio, meu amigo resolveu levar a mina em casa, afinal já era tarde mesmo.

Em frente à porta rolou mais um beijo e ela, possuída, se agarrou com loucura ao cinto e isto fez meu amigo sentir que tinham se rompido algumas alças do cós da calça.

Jota então tomou o rumo de casa, o braço ainda ardendo da unhada. Foi dirigindo e pensando que a menina, além de gostosésima, era um vulcão, era uma fera, era um fenômeno que merecia cuidado e estudo. Na sexta convidou pra sair e foram no Motel.

No momento em que saíram do carro, se abraçaram e quando os lábios se tocaram, o fervor fez a moça mastigar um pouco da língua do cara, que atazanado pela intensa dor, convidou-a para subirem logo de uma vez pro quarto e depois de fechar a porta Jota reparou no olhar fixo e insano da moça que falou em tom se súplica.

- Me maltrata?

O Jota, que é um cara experiente, que sabe das coisas, com ares de entendido, agarrou a mina pelo cabelo pra dar uma puxadinha, mas arregalou os olhos perdendo a classe, quando nesse momento ela começou a arfar ensandecida e a gemer, como que possuída por um espírito e num movimento mais brusco acertou uma cabeçada no meio da lata do meu amigo, que agora, na sala de sua casa, não desmancha as feições de tarado enquanto me conta tudo isto, mesmo tendo os olhos bastante arroxeados pelos hematomas. Jota abre a boca para que eu veja o dente que também foi atingido e está abalado. Ele mexe no dente com o dedo pra me mostrar como ficou mole, e vai me narrando o ocorrido com seu estilo lento, quase monótono.

- Cara, doía tudo véio, doía pra caralho, não sei o que que doía mais, o dente ou a língua, mas continuei, cara, continuei agarrando a mina e levei ela pra cama, mano, mas a mina se possuía tanto que caía da cama, meu, sacou? daí eu tinha de juntar e botar ali em cima de novo e agarrava mais e ela enlouquecia mais e me escapava e caia do outro lado véio, tu acredita nisso?

Notei que a sua voz era pastosa, talvez por causa da língua inchada e além disso, também tinha um pouquinho de assovio na fala, o que certamente estava acontecendo devido ao dente inclinado. Então perguntei.

- Caraca, brother. Sério isso? E aí?

- Cara, Na terceira vez que ela caiu, acho que ficou magoada, sei lá. Chorou um pouco e disse que era melhor parar com aquilo,  que talvez ainda não fosse o momento certo e que podia ser que eu ainda não estivesse preparado. Estas coisas...daí vazamos.

- Então não comeu.

Jota, sem nada responder, esboçou um sorriso enigmático. Ergueu-se da cadeira, e depois de um breve e teatral silêncio, falou.

- Vem aqui comigo.

Segui seus passos e quando entramos em seu  quarto, ele sentenciou.

- Não comi, brother... mas não passa desta semana.

Em cima da cama, reluzente e inteiramente almofadado, um uniforme completo de futebol americano. Capacete e tudo.

FC - Julho - 15 - pOa

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