Atravessar as ruas do Rio de Janeiro tem basicamente dois perigos. O primeiro é, logicamente, o dos carros. Não é bom acreditar muito no sinal e nem na faixa. Melhor sempre verificar se os carros pararam todos.
E se você for atravessar fora da faixa é necessário ter atenção dobrada. Quando o motorista vê que você está cruzando a via, ele acelera em sua direção, dá sinal de luz, buzina e mais de uma vez vi a pessoinha gesticulando ensandecida dentro do carro. Pedestre é algo que irrita muito.
O segunda perigo é o que vem no contra fluxo, e geralmente não estamos atentos a isso. Falo de bicicletas, carrinhos com água e coisas do tipo. Você só olha para a direção que vem o tráfego. E naturalmente esquece que algo pode vir do outro lado também. Já escapei de vários acidentes porque o anjo da guarda de que minha mãe sempre falou é muito craque. Escapei por fração de segundos .
Mas dia desses , voltando de caminhar no Aterro, vi que havia uma confusão formada. Um homem, de uns 60 anos, sujeitava pelo braço um outro que teria seus 30. O ciclista, na contra mão, jogou o cara de encontro ao meio fio e este ferrou as costelas. O homem estava indignado.
Carregava o outro, que tinha os olhos assustados (afinal, o que há de errado em andar velozmente de bicicleta na contramão?) pelo braço e queria fazer com ele sabe-se lá o que. Queria justiça? Levar preso? O cumprimento da lei? Mas que lei?
O cara vociferava, gritava, e de repente mandou mal, emitindo uma colocação racista em relação ao atropelador. Já tinha se formado gente em volta, curiosos como eu, e uma mulher que estava próxima ouviu o que o homem disse e começou a gritar.
- O que é isso? Racista!
Vi que as pessoas se inflamaram com os berros da mulher e que a coisa virou completamente. O Réu passou a ser o atropelado. Vi também que chegou mais gente, sem saber ao certo o que estava acontecendo, mas já iam se contaminando pela raiva que estava naquele ambiente. E eu senti isso também. A raiva. Estávamos a um passo do descontrole.
O homem atropelado, vendo que tudo ia perdendo o sentido e que começava a correr risco, soltou o braço do ciclista e tomou a direção da rua em que moro. Como o caminho era o mesmo, acompanhei-o por alguns metros e acho que tentei lhe estender alguma palavra de conforto ou algo assim.
O homem se queixava muito de dores nas costelas e não escondia sua humilhação. Entrou em seu edifício sem se despedir e eu segui meu rumo, lembrando-me do filme de Spike Lee (Faça a coisa certa), quando os grupos étnicos desmancham uma pizzaria de italianos em Nova York.
Este acidente me fez dobrar a atenção na via e me fez pensar também o quanto as grandes cidades ainda podem se brutalizar.
No Rio de Janeiro este conselho vale para todas as pessoas e não só para as crianças. Cuidado pra atravessar a rua! Cuidado, mesmo!
fc - 13 - rj
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