domingo, 29 de janeiro de 2017

NA PISCINA

Eu estava sentado na borda da piscina, me preparando pra nadar, mas estava estático, imerso em pensamentos. Pensando no que? Ora. O quê que se pensa quando se está sentado à beira de uma piscina? Se pensa na morte, é claro.

Acho que o devaneio apareceu devido à notícia do falecimento da atriz Mary Tyler Moore. Eu achava tão bonita. Então, desde os anos 70 esqueci completamente dela e de repente ela morre aos oitenta e é um susto ver com tamanha clareza que mais de quarenta anos se passaram assoviando sem dar a mínima satisfação pra gente.

Eu tava de olhos parados, delirando com isso, quando me chama a atenção que do lado oposto, uma mulher levanta da cama e entra na piscina dos pequenos, certamente pra se refrescar do sol escaldante. Tem o corpo bronzeado e bem feito. É bonita. Ela tá lá com este hábito meio ultrapassado de torrar no sol do meio dia e por isso não tarda em sair da piscininha e então posso conferir a retaguarda. Ela é bonita mesmo. Tem uma bunda de se agradecer e além disso possui uma característica que é muito rara, não só em mulheres, mas em homens também. O caminhar. Caminha lindamente.

No momento em que ela volta a se acomodar na cama, escuto um ruído e vejo que um maracujá se desprendeu do pé e caiu a um metro de mim. Logo penso: Isto é um aviso do Senhor. Ele a tudo observa. Vou pegar esta fruta e leva-la até a moça. Vou dizer que a estou ofertando porque alguma entidade me segredou que eu deveria fazer isto e logo em seguida sigo solando com toda minha genialidade e com certeza ela vai me achar interessante.

Claro que não fiz, né? Imagina. Sou um líquen. Um plâncton covarde.

Mas se fosse o Edson, fazia. O Edson é um colega lá do RJ. É o cara mais corajoso na paquera que conheci. Era na balsa, no metrô, no elevador. Não tinha ruim. E tinha um índice de sucesso altíssimo. Quando recebia um “não”, o que era raro, assimilava o golpe e partia pra outra sem sequelas. Quando recebo um “não”, quase entro em coma e no dia seguinte já me interno numa clínica. Mas o Edson não. Tava nem aí. Além de jovem e bonito, o Edson é simpático e ainda por cima disso, tem uma particularidade que encanta as mulheres. O olhar atento. O Edson passa a impressão de que está brutalmente dentro de todo e qualquer assunto, por mais modorrento que seja.

Mas voltando à cena do maracujá que claro que não levei adiante, ainda na borda, me pus novamente a pensar na morte pois me veio à cabeça um diálogo de um antigo filme chamado Feitiço da Lua. A lembrança é bastante vaga mas me marcou. A atriz Cher, passando por alguma decepção amorosa, pergunta a outra mulher se ela sabe o porquê dos homens que estão na idade do lobo avançarem tanto nas mulheres. Em resposta à negativa da interlocutora, Cher esclarece:

- Porque eles vão morrer.

Matutando sobre esta recordação, cheguei à conclusão de que sempre vivi como se não fosse morrer. Sempre vivi como se tivesse tempo de sobra. Não arrisco nada, nem quando os céus me enviam claros e poderosos sinais e me mostram que meu tempo no planeta vai se extinguindo alucinadamente. Então, num ímpeto, resolvi levantar daquela borda. Fui em direção ao maracujá e o agarrei com decisão. Localizei a mulher entre camas, cadeiras e outras gentes. Lá estava ela. Me esperando. Caminhei vacilante até onde estava minha bolsa. Peguei a bolsa. Abri a bolsa. Pensei um pouco, com a bolsa na mão. Deixei o maracujá cair dentro da bolsa, pra minha mãe fazer suco depois em casa. Atirei a bolsa, com desgosto, na cadeira. Tapei o nariz e me joguei na água.

Definitivamente não tem jeito.

Sou um musgo.

Um protozoário cagão.

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