terça-feira, 30 de janeiro de 2018
A LOUCA NOITE
Não sei como, nem onde, na noite, na louca noite, conheci uma moça que acabou gentilmente me levando a seu apartamento. Quando entramos, um simpático cão felpudinho veio nos saudar e fazer festa. Neste momento tomávamos espumante no bico, bebida que me custou uma pequena fortuna, mas estava picado pelo mosquito do crime, e quando isso acontece, deixo pra lá meu pãodurismo e abro a mão, tudo em nome do desvario que causa este pecado chamado luxúria, e agora a mulher me beija com fervor e sugere com voz murmurante que eu espere na sala, que ela vai me fazer uma pequena surpresa e dito isso, vira as costas e some pelo corredor, me deixando na companhia de Tobi, que parece ter simpatizado demais com minha perna e, de forma impertinente, começa a coxá-la. Observo com curiosidade que seus olhos saltam pra fora com o frenesi da volúpia, não fazendo nenhum caso de que quase o chuto na tentativa de afastá-lo, e assim toda hora volta com insistência e entusiasmo à atividade inicial, e como estou completamente gambá, lhe dirijo impropérios pastosos enquanto caminho pela sala com ele pendurado em minha perna e, já me conformando com o fato, mamo o champagne já quente, enquanto fico a imaginar que tipo de coisa que esta madame estará preparando?, acho que esqueci o nome dela e quando tento lembrar sua fisionomia, esta também não me vem. Então chego a pensar que talvez seja tudo um sonho ou um delírio, quando de repente tomo um susto que me faz dar um grito ridículo e meu coração vai saindo pela boca com o gigantesco volume com o qual irrompe uma música alucinada, algo turco, árabe ou assemelhado e para meu estupor, a mulher aterrissa na sala com um salto desajeitado junto a um grito de “eiiiiaaaa” que inclusive faz Tobi esquecer o sexo que estava fazendo com minha canela para arregalar os olhos em direção à dona que começa a dançar com fúria e descubro que a surpresa que ela havia preparado era esta, a dança do ventre, e que ventre, que ilustríssimo ventre, meus senhores, uma pança do tamanho da minha, uma barriga de gelatina que joga de um lado para outro como se tivesse vida própria e tal fenômeno me faz dar um golaço na bebida para espantar o enjoo repentino, a performance me impele a afundar-me no sofá tomado que agora estou pela melancolia e desespero, vaticinando que se resolvêssemos transar com tais barrigas, teríamos de inventar uma nova posição, talvez um de costas para o outro e reparo que Tobi voltou ao ataque, putz, este cachorro é mais tarado do que eu, então extasiado, acompanho as evoluções da moça que parece gritar para que o cão cesse com a pouca vergonha, o volume da música torna as ordens inaudíveis, mas consigo ler os lábios desta mulher que realmente não reconheço, não sei se está usando mais ou menos pintura desde o momento do encontro na danceteria, não consigo saber, e Tobi, por sua vez, me deixa atônito, pois à primeira vista parece também estar dançando, mas logo caio em mim de que o bicho, na verdade, está mesmo é tendo as convulsões de um orgasmo, pois seguido a isto sofre um pequeno colapso, mas que cachorrinho mais asqueroso esse, e retorno meu olhar fascinado à bailarina, que vigorosamente vai de um canto da sala a outro, ensandecida, evolui para um lado, evolui para outro, vai pra baixo, vai pra cima, e numa destas piruetas, patina no tapete e o escorregão resulta fatal, lá se vai a mulé, coitada, desaparecendo por trás de um imenso vaso de antúrios e samambaias, e só consigo ver a cena que sobrou do desastre que são as solas dos pés da menina entre a folhagem, que dó que deu, e é aí que noto que estou por demais embriagado, pois me custa muito levantar do assento, mas a acudo como posso, na companhia de Tobi que despertou do transe e late em volta com preocupação e então, com extrema dificuldade, junto a moça do solo, e quando ela, já de pé, tentando se recompor, sorri constrangida, dizendo que está tudo bem, que não se machucou, que eu fique tranquilo, me assombro, pois com aquele sorriso de gamela, não a reconheço mesmo, e depois de sua rápida fuga para os quartos, sentindo com irritação que Tobi volta a atacar minha panturrilha, jogo atenção às sobras da catástrofe. Há terra, folhas e cacos espalhados pelo chão, e mais. Ali, junto ao vaso despedaçado, depois de fixar o foco de meus olhos bêbados, vislumbro incrédulo um objeto que não pode ser, por favor não pode, não pode ser mas é, é uma dentadura, e com esta fatídica descoberta, saio cambaleante pelo ap, o espírito em alvoroço, as tripas em ebulição, e me revoltando definitivamente com este apêndice que me impede de caminhar pelo planeta, tomado pela ira, sujeito o cão de nome Tobi pelo cangote até bem em cima e falo com ele como se fosse gente, cara a cara, olho no olho “para com isso seu merda, antes que eu te morda com a dentadura da tua patroa" e é aí que me vem uma golfada repentina e vomito todo o taradinho que me encara com alegria, surpreso com a grande novidade, parece até ter gostado, parece querer mais, e com profundo desânimo solto o pervertido animal para me dirigir à janela e calcular a altura deste primeiro andar, não chega a ter três metros, certamente não, é possível sim, é executável e me assomo, me jogo, me despenco no vazio e rolo feito um comando na grama que por sorte é fofa, assustando jornaleiro e porteiro, e depois de ter o cuidado de constatar que não havia sofrido fratura alguma e de que o cachorro não estava mais grudado. busco a avenida, invado um táxi e mando tocar pra casa que a noite foi por demais movida, nada mais a fazer por aí, e abro a janela pra beber o vento e sorvo com ruído o resto do espumante, sem poder acreditar que fiz tudo aquilo sem me desfazer nem por um instante da maldita e valiosa garrafa.
sábado, 27 de janeiro de 2018
OS AZARES DO JUREMIR
Faz muito tempo, abri o jornal na página de cultura e li uma crítica a um curta que havia sido exibido no festival de Gramado. Fiquei assombrado com o teor agressivo daquilo. Pensei mesmo que era algo pessoal. Um cara chamado Juremir tava arrasando com o filme de alto a baixo. Pra não sobrar nada.
No dia seguinte, Ilha das Flores, do Jorge Furtado, foi escolhido o melhor curta do festival e bombou pelo país. Além disso, ganhou outros diversos prêmios, até mesmo no exterior.
Bah. Não é azar? Nunca esqueci disso.
Um tempo depois o cara escreveu em sua coluna semanal em Zero Hora um comentário sobre a atuação do escritor Erico Verissimo durante o regime militar. Para Juremir, Erico poderia ter sido "mais valente" em suas contestações contra a censura e a tortura da época.
Deu merda. Luís Fernando não gostou e Juremir teve de sair.
Agora rolou esta parada da Tiburi com o Kintacategoria. A mulé não foi avisada que o menino ia e se negou a debater com o cara, ao qual chamou de indecente.
Acho que ela fez muito bem, pois estes moleques do MBL tem um comportamento geralmente desonesto e o que é pra ser debate geralmente se transforma num bate boca insano.
Agora mesmo revi o fato de que, na época das manifestações, Kintacategoria encontrou Ney Matogrosso numa lanchonete e pediu pra tirar uma foto com o artista que não se negou. O moleque colocou a foto na Internet com a legenda de algo como “juntos pelo impeachment”.
Ney teve de ir na justiça pra obrigar a tirar a foto da rede. Pensou que era um fã e caiu na armadilha do menininho perverso. É assim que é o modus operandi deste grupo.
Essa gente do MBL, além de toda a desonestidade que tem e dos meios violentos que utilizam na militância, ainda possuem uma particularidade mais do que sinistra. Não possuem emoções. São robôs. Nunca acusam qualquer golpe. E são inteligentes. Tergiversam, sofismam bem, e tem uma quantidade grande de dados armazenados, que cospem como metralhadoras, para desviar do assunto quando este se torna delicado.
O Requião decidiu ficar pro debate. Mais grosso que dedo destroncado, ofendeu o azarado Juremir, que já tinha ouvido da Tiburi, e ofendeu igualmente o zumbizinho, que fez cara de Ultraman que tem campo de força. Nem aí.
Muitas pessoas disseram que Kintacategoria arrasou com Requião.
Muitas pessoas disseram que Requião arrasou com o Japa.
Eu assisti ao debate e achei que aquilo era apenas uma pequena sala do atual maior manicômio das Américas, chamado Brasil.
No dia seguinte, Ilha das Flores, do Jorge Furtado, foi escolhido o melhor curta do festival e bombou pelo país. Além disso, ganhou outros diversos prêmios, até mesmo no exterior.
Bah. Não é azar? Nunca esqueci disso.
Um tempo depois o cara escreveu em sua coluna semanal em Zero Hora um comentário sobre a atuação do escritor Erico Verissimo durante o regime militar. Para Juremir, Erico poderia ter sido "mais valente" em suas contestações contra a censura e a tortura da época.
Deu merda. Luís Fernando não gostou e Juremir teve de sair.
Agora rolou esta parada da Tiburi com o Kintacategoria. A mulé não foi avisada que o menino ia e se negou a debater com o cara, ao qual chamou de indecente.
Acho que ela fez muito bem, pois estes moleques do MBL tem um comportamento geralmente desonesto e o que é pra ser debate geralmente se transforma num bate boca insano.
Agora mesmo revi o fato de que, na época das manifestações, Kintacategoria encontrou Ney Matogrosso numa lanchonete e pediu pra tirar uma foto com o artista que não se negou. O moleque colocou a foto na Internet com a legenda de algo como “juntos pelo impeachment”.
Ney teve de ir na justiça pra obrigar a tirar a foto da rede. Pensou que era um fã e caiu na armadilha do menininho perverso. É assim que é o modus operandi deste grupo.
Essa gente do MBL, além de toda a desonestidade que tem e dos meios violentos que utilizam na militância, ainda possuem uma particularidade mais do que sinistra. Não possuem emoções. São robôs. Nunca acusam qualquer golpe. E são inteligentes. Tergiversam, sofismam bem, e tem uma quantidade grande de dados armazenados, que cospem como metralhadoras, para desviar do assunto quando este se torna delicado.
O Requião decidiu ficar pro debate. Mais grosso que dedo destroncado, ofendeu o azarado Juremir, que já tinha ouvido da Tiburi, e ofendeu igualmente o zumbizinho, que fez cara de Ultraman que tem campo de força. Nem aí.
Muitas pessoas disseram que Kintacategoria arrasou com Requião.
Muitas pessoas disseram que Requião arrasou com o Japa.
Eu assisti ao debate e achei que aquilo era apenas uma pequena sala do atual maior manicômio das Américas, chamado Brasil.
sexta-feira, 26 de janeiro de 2018
TÁ TUDO DOMINADO
Uma amiga me perguntou o que achei desta parada de quarta feira, pois não me viu postar nada sobre isso.
Disse a ela que já gastei tudo que eu tinha pra dizer. Ficamos aí, nos repetindo, sempre com a mesma ladainha.
Não há o que fazer.
O país foi tomado por bandidos de todos os setores da cúpula da sociedade. Estamos nas mãos deles. Somos reféns. Talvez pior ainda que uma intervenção militar. É uma Intervenção judiciária. Uma intervenção judiciária, policial e midiática.
Só se houvesse um levante popular. Mas nos tornamos uma nação de bobo alegres. Sempre fomos, mas a Globo e a Igreja aprimoraram nossa idiotia. Não se faz um levante com um povo que não entende o que está acontecendo.
Não se faz um levante com um povo que fica contente de saber que o mercado reagiu bem à condenação de Lula. O mesmo mercado que reage bem às reformas trabalhistas e da previdência, o mesmo mercado que salta quando se fala em fim da justiça do trabalho. O deus mercado que certamente aprovará o trabalho escravo, o fim da universidade pública, o fim do estado.
O mercado. O Bonner se infla quando fala o que o mercado gostou e o que o mercado não gostou.
Não tem jeito. O negócio é ficar torcendo pra não descaralhar muito rápido. Ficar aí, flutuando numa boia, imaginando alguma solução, ganhando tempo.
Eu não tenho possibilidades, no momento, de cair fora, mas acho que quem puder, deve ir pensando numa saída pro exterior, pois esses caras que tão no poder tão com ideias de destruir com tudo.
Não estou falando isso como aqueles que desdenham do país e bradam que a saída é ir pro exterior e geralmente optam por Miami.
Estou falando isso porque estou de verdade assustado com o que ainda pode vir por aí. Pode se tornar uma real questão de sobrevivência. E falo isso também porque começo a ter asco de andar pelas ruas no meio dessa gente que flutua entre a ignorância e a perversidade. Estou farto de ouvir infâmias. Somos um país canalha. A vida por aqui tá cada vez mais triste.
O Brasil se tornou um farwest onde o xerife e o juiz são bandidos e nesse filme até os mocinhos são duvidosos.
Tá tudo dominado.
Disse a ela que já gastei tudo que eu tinha pra dizer. Ficamos aí, nos repetindo, sempre com a mesma ladainha.
Não há o que fazer.
O país foi tomado por bandidos de todos os setores da cúpula da sociedade. Estamos nas mãos deles. Somos reféns. Talvez pior ainda que uma intervenção militar. É uma Intervenção judiciária. Uma intervenção judiciária, policial e midiática.
Só se houvesse um levante popular. Mas nos tornamos uma nação de bobo alegres. Sempre fomos, mas a Globo e a Igreja aprimoraram nossa idiotia. Não se faz um levante com um povo que não entende o que está acontecendo.
Não se faz um levante com um povo que fica contente de saber que o mercado reagiu bem à condenação de Lula. O mesmo mercado que reage bem às reformas trabalhistas e da previdência, o mesmo mercado que salta quando se fala em fim da justiça do trabalho. O deus mercado que certamente aprovará o trabalho escravo, o fim da universidade pública, o fim do estado.
O mercado. O Bonner se infla quando fala o que o mercado gostou e o que o mercado não gostou.
Não tem jeito. O negócio é ficar torcendo pra não descaralhar muito rápido. Ficar aí, flutuando numa boia, imaginando alguma solução, ganhando tempo.
Eu não tenho possibilidades, no momento, de cair fora, mas acho que quem puder, deve ir pensando numa saída pro exterior, pois esses caras que tão no poder tão com ideias de destruir com tudo.
Não estou falando isso como aqueles que desdenham do país e bradam que a saída é ir pro exterior e geralmente optam por Miami.
Estou falando isso porque estou de verdade assustado com o que ainda pode vir por aí. Pode se tornar uma real questão de sobrevivência. E falo isso também porque começo a ter asco de andar pelas ruas no meio dessa gente que flutua entre a ignorância e a perversidade. Estou farto de ouvir infâmias. Somos um país canalha. A vida por aqui tá cada vez mais triste.
O Brasil se tornou um farwest onde o xerife e o juiz são bandidos e nesse filme até os mocinhos são duvidosos.
Tá tudo dominado.
terça-feira, 23 de janeiro de 2018
NO FORRÓ
Depois de duas semanas de curso de dança de salão me animo a ir no forró.
Pago entrada e tudo.
Bebo algumas cervejas e pronto, já tenho a coragem suficiente para minha primeira experiência, quando de repente, vislumbro no meio do povo uma lagartixa do meu gosto.
Linda, lânguida, vestidinho e sapato baixo. Perfeitinha.
Me aproximo. Ela sorri e acena que sim e nos vamos pro meio do salão e é aí que se inicia uma refrega incompreensível, uma espécie de rinha de galo, um troço do outro mundo, eu tentando sujeitar a moça pela cintura, e ela mandando ver nuns movimentos ensandecidos e aleatórios, tudo fora de sinc, pensei até que eu ou ela talvez tivéssemos bebido demais, ou que o curso que havia feito era frio, mas com as pancadas, joelhaços, pontapés e piparotes que estava sofrendo e que começavam a doer muito, fui entendendo o que estava se passando. Por sorte o xote era curto e também por sorte cheguei vivo ao fim da canção. Pedi pra parar e sentei numa mesa pra ver o resultado daquela sova que havia tomado.
Quando vejo, a menina tá se abancando a meu lado com duas cervejas na mão. Gentilmente me oferece uma e reclama.
Pago entrada e tudo.
Bebo algumas cervejas e pronto, já tenho a coragem suficiente para minha primeira experiência, quando de repente, vislumbro no meio do povo uma lagartixa do meu gosto.
Linda, lânguida, vestidinho e sapato baixo. Perfeitinha.
Me aproximo. Ela sorri e acena que sim e nos vamos pro meio do salão e é aí que se inicia uma refrega incompreensível, uma espécie de rinha de galo, um troço do outro mundo, eu tentando sujeitar a moça pela cintura, e ela mandando ver nuns movimentos ensandecidos e aleatórios, tudo fora de sinc, pensei até que eu ou ela talvez tivéssemos bebido demais, ou que o curso que havia feito era frio, mas com as pancadas, joelhaços, pontapés e piparotes que estava sofrendo e que começavam a doer muito, fui entendendo o que estava se passando. Por sorte o xote era curto e também por sorte cheguei vivo ao fim da canção. Pedi pra parar e sentei numa mesa pra ver o resultado daquela sova que havia tomado.
Quando vejo, a menina tá se abancando a meu lado com duas cervejas na mão. Gentilmente me oferece uma e reclama.
- E aí, parceiro? Pouco fôlego?
- Não...não é isso, é que...
- Pô. Só dançou uma.
- Daqui a pouco a gente dança mais.
Falo isso e me inclino para sentir com as mãos os pequenos galos que começam a se formar em minhas canelas. Tento mudar o rumo da trela.
- Como você se chama?
- Aldene.
- Como?
- Aldene.
- Ah tá. É um nome diferente.
- Tá vendo aquela ali de preto dançando separado?
- Tô.
- É Maria Aldene, minha irmã.
- Legal.
- E aquela que tá dançando com ela, de cabelo curto, tá vendo?
- Tô também.
- Paula Aldene. Minha irmã caçula.
- Ah tá. Aldene é sobrenome.
- Não é não. É nome mesmo.
- Escuta. Não tem ninguém na sua família chamada Aldene Aldene?
- Que eu saiba não.
Começo a notar que minha coxas doem bem, devido à meia dúzia de tostões que a moça me sapecou, inclusive meu ovo esquerdo agora reclama com algumas pontadas, e com isso desconfio que, infelizmente, também foi atingido. Sigo no papo. O papo é esquisito. Mas me mantém em certa segurança.
- Hum. Aldene...e o que você faz na vida?
- Bom. Agora to aqui no forró bebendo e dançando contigo.
- Que coincidência, hein? Eu também.
- Legal, né? Temos coisas em comum.
- Muito legal.
- Quem sabe a gente vai dançar mais um pouco?
- Sabe o que é, querida? Vou te explicar.
- Hum. Explicar o que?
Fico olhando aquele rosto tão bonito, enquanto noto meu olho se fechando, certamente alguma cabeçada, quando a música esquentou no refrão final. Então despejo a revelação.
- Aldene, Aldene. Prestatenção!
- Não sou Aldene Aldene. É só um Aldene o meu nome.
- Tá, querida. É só uma forma de expressão, de dar ênfase.
- Não...não é isso, é que...
- Pô. Só dançou uma.
- Daqui a pouco a gente dança mais.
Falo isso e me inclino para sentir com as mãos os pequenos galos que começam a se formar em minhas canelas. Tento mudar o rumo da trela.
- Como você se chama?
- Aldene.
- Como?
- Aldene.
- Ah tá. É um nome diferente.
- Tá vendo aquela ali de preto dançando separado?
- Tô.
- É Maria Aldene, minha irmã.
- Legal.
- E aquela que tá dançando com ela, de cabelo curto, tá vendo?
- Tô também.
- Paula Aldene. Minha irmã caçula.
- Ah tá. Aldene é sobrenome.
- Não é não. É nome mesmo.
- Escuta. Não tem ninguém na sua família chamada Aldene Aldene?
- Que eu saiba não.
Começo a notar que minha coxas doem bem, devido à meia dúzia de tostões que a moça me sapecou, inclusive meu ovo esquerdo agora reclama com algumas pontadas, e com isso desconfio que, infelizmente, também foi atingido. Sigo no papo. O papo é esquisito. Mas me mantém em certa segurança.
- Hum. Aldene...e o que você faz na vida?
- Bom. Agora to aqui no forró bebendo e dançando contigo.
- Que coincidência, hein? Eu também.
- Legal, né? Temos coisas em comum.
- Muito legal.
- Quem sabe a gente vai dançar mais um pouco?
- Sabe o que é, querida? Vou te explicar.
- Hum. Explicar o que?
Fico olhando aquele rosto tão bonito, enquanto noto meu olho se fechando, certamente alguma cabeçada, quando a música esquentou no refrão final. Então despejo a revelação.
- Aldene, Aldene. Prestatenção!
- Não sou Aldene Aldene. É só um Aldene o meu nome.
- Tá, querida. É só uma forma de expressão, de dar ênfase.
- Dar o que?
- Nada. Olha só!
- Tá. Diz logo de uma vez.
- A música, a gente dança no ritmo.
- E aí o quê que tem?
- Sinto lhe informar que você não faz isto.
- Tá. Diz logo de uma vez.
- A música, a gente dança no ritmo.
- E aí o quê que tem?
- Sinto lhe informar que você não faz isto.
- Não faço?
- Não! Você incrivelmente dança a música na melodia!
- Eu? Danço a música na melodia?
- Dança sim. E tá errado. Fica uma maluquice da porra.
- Eu? Danço a música na melodia?
- Dança sim. E tá errado. Fica uma maluquice da porra.
Com esta frase carregada da irritação de quem está dolorido e necessita compressas urgentes, a moça fechou a cara. Senti a ira em seus olhos e senti também meu dedão do pé esquerdo dormente. Pisões clássicos não poderiam ter faltado no combate.
- Tá errado dançar na melodia?
- Tá, querida.
- Tá, é?
- Tá sim. É no ritmo que a gente dança. Não na melodia.
- Tá errado, é?
Foi repetindo este mantra com dentes cerrados e olhos faiscantes, olhos de quem está fazendo mira, e notei que, com expressão sombria, cobrindo com o dedo o gargalo da long neck, a moça a chacoalhava com um certo vigor. Frente à tamanha e imediata ameaça, só restou jogar-me no meio da multidão e, manquitolando, empreender fuga desesperada.
Em vez do habitual Mac Donalds da madrugada, me conformei em passar na drogaria e comprar um tubão de Gelol.
O atendente, com olhar pesaroso, reparou em meu olho, agora completamente fechado.
- Tá errado dançar na melodia?
- Tá, querida.
- Tá, é?
- Tá sim. É no ritmo que a gente dança. Não na melodia.
- Tá errado, é?
Foi repetindo este mantra com dentes cerrados e olhos faiscantes, olhos de quem está fazendo mira, e notei que, com expressão sombria, cobrindo com o dedo o gargalo da long neck, a moça a chacoalhava com um certo vigor. Frente à tamanha e imediata ameaça, só restou jogar-me no meio da multidão e, manquitolando, empreender fuga desesperada.
Em vez do habitual Mac Donalds da madrugada, me conformei em passar na drogaria e comprar um tubão de Gelol.
O atendente, com olhar pesaroso, reparou em meu olho, agora completamente fechado.
- Briga?
segunda-feira, 15 de janeiro de 2018
EREÇÕES
Levamos bem umas três horas até conseguirmos começar o ensaio, por conta dos pequenos esquecimentos das estantes, extensões e até as preciosas partituras, e tudo isto pode parecer apenas detalhe, mas afirmo que qualquer atividade musical só é levada a cabo com sucesso quando todas as coisas estão em seus devidos lugares, sem mencionar as chaves do local, que Afrânio levou para fazer cópia e, desastradamente, deixou a original na loja do chaveiro, fato que dobrou nossa dificuldade e triplicou nossa irritação, pois tivemos de circundar o bairro diversas vezes no Opel de Alberto que já faz uma certa fumaça que ofende nossas narinas tão talentosas para alergias e durante o trajeto vaticinei com os colegas que gravássemos este disco logo de uma, antes que a rede caia e nossa memória sem serventia fique jogada num canto qualquer e assim já não saberemos nem os porquês mais elementares. Depois de um grave silêncio, as nuvens criadas pelas atônitas considerações se dissiparam e então voltamos à nossa habitual alegria, ainda mais que o verão do novo ano tem sido tão ameno, este verão de céus límpidos, ainda com caras de primavera, está nos poupando de noites insones sobre lençóis encharcados e logo em seguida o assunto, como não poderia deixar de ser, foi parar nas ereções, quando indaguei a meus dois colegas como estas andavam nestes primeiros dias de 2018 e chegamos à melancólica conclusão de que sim, ereções existem e afortunadamente nos contemplam, mas geralmente são involuntárias, surgem em momentos nada propícios, como na lotação, em meio ao jogo de bocha, no exato instante em que proferimos o número de pãezinhos que necessitamos levar da padaria, mas no momento em que cruzamos a soleira da porta de casa, já sabemos que a valiosa ereção se foi, se dissolveu feito algodão doce, e como amargo consolo, nos resta a TV ou a Internet, o dominó virtual, e comentei com os rapazes que Irene e eu, desafortunadamente, não estávamos em casa para receber o carteiro, e o aviso do Correio indicava o endereço ao qual eu deveria me dirigir para buscar a ereção que havia encomendado, e isso é por demais incômodo, pois há que agarrar uma condução na avenida Postais e subir e subir cerca de uns dez quilômetros até à agência atopetada de gente que certamente vai ouvir o atendente comunicar que há uma ereção em nome do senhor Abelardo e a questão agora é disfarçar as mãos trêmulas e assinar logo de uma vez a guia para sair dali o quanto antes, e voltar para casa com a importante encomenda, uma ereção que provêm do Vale do Lordo Central, que é sempre um pequeno tesouro, ainda mais com os bons preços que a empresa anda praticando e meus dois colegas concordaram com sorrisos atentos e lhes contei ainda que será no domingo, logo após o pastel das dez, que Irene e eu vamos para o quarto e enquanto ela desempacotar com ansiedade e fervor a danadinha, vestirei meu pijama cotelê e tomarei meu lugar na cama para assistir encantado à forma como Irene gargalha no exato instante em que a tampa é retirada e a qualidade do conteúdo da caixa é revelada, isto sempre é assim, sempre acontece desta maneira, e tenho certeza de que não será diferente desta feita, mesmo que Irene ande um tanto nervosa pelo fato de que Lorena, nossa bisneta primogênita, vá ter seu primeiro filho, isto não vai interferir, então não vejo a hora, só imagino isto nestes dias, só penso que quero ver Irene, quero ver Irene rir, quero ver Irene dar sua risada.
sexta-feira, 12 de janeiro de 2018
TIROS NO PÉ
O manifesto da Dneuve dá vazão para que idiotas possam gritar que:
- Viu? Não disse que é tudo mimimi?
Não é um tiro no pé?
Faz algum tempo, Olívio Dutra fez uma auto crítica da conduta do PT em plena RBS, dando munição para que idiotas gritassem que:
- Viu só? Se o próprio cara tá dizendo, o PT é mesmo o partido mais corrupto da história do país.
Pra mim, isso foi um puta de um ingênuo tiro no pé. Auto crítica na Globo?
As pessoas, antes de fazerem estes manifestos, que até que são lógicos e sensatos, deveriam pensar no tamanho da reverberação que os idiotas fazem com isso.
É importante notar que idiotas estão se apoderando do mundo e não é necessário que se dê pólvora de graça a eles.
Idiotas elegeram Crivella, Dória, Marchezan e abundam na página do Bolsonaro.
Idiotas elegeram, ou deixaram que se elegesse, um cara que pode descaralhar o planeta. Um cara que, entre outras insanidades, afirma que o efeito estufa não existe. Ele devia ser posto, sem camisa e protetor solar, na frente do Baronda, em Capão da canoa, no sol do meio dia. 15 minutos bastariam. Ia mudar de ideia rapidinho, se não desencarnasse com a soleira.
÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷
Apesar da Globo elogiar, acariciar, ninar, nanar, todos os dias a economia brasileira, não adiantou muito. Veio essa Standardt&Poor ou sei lá como se escreve, e rebaixou a nota.
Deu a notícia hoje no Jornal. Minha mãe ouviu e perguntou.
- E o que isso significa?
Respondi.
- Significa que semo chinelo.
- Viu? Não disse que é tudo mimimi?
Não é um tiro no pé?
Faz algum tempo, Olívio Dutra fez uma auto crítica da conduta do PT em plena RBS, dando munição para que idiotas gritassem que:
- Viu só? Se o próprio cara tá dizendo, o PT é mesmo o partido mais corrupto da história do país.
Pra mim, isso foi um puta de um ingênuo tiro no pé. Auto crítica na Globo?
As pessoas, antes de fazerem estes manifestos, que até que são lógicos e sensatos, deveriam pensar no tamanho da reverberação que os idiotas fazem com isso.
É importante notar que idiotas estão se apoderando do mundo e não é necessário que se dê pólvora de graça a eles.
Idiotas elegeram Crivella, Dória, Marchezan e abundam na página do Bolsonaro.
Idiotas elegeram, ou deixaram que se elegesse, um cara que pode descaralhar o planeta. Um cara que, entre outras insanidades, afirma que o efeito estufa não existe. Ele devia ser posto, sem camisa e protetor solar, na frente do Baronda, em Capão da canoa, no sol do meio dia. 15 minutos bastariam. Ia mudar de ideia rapidinho, se não desencarnasse com a soleira.
÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷÷
Apesar da Globo elogiar, acariciar, ninar, nanar, todos os dias a economia brasileira, não adiantou muito. Veio essa Standardt&Poor ou sei lá como se escreve, e rebaixou a nota.
Deu a notícia hoje no Jornal. Minha mãe ouviu e perguntou.
- E o que isso significa?
Respondi.
- Significa que semo chinelo.
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