segunda-feira, 15 de junho de 2015

A FANTASIA E A LÓGICA

Dia destes vi na televisão um documentário muito bom sobre Abelardo Barbosa, o Chacrinha.

Praqueles que não sabem, os mais jovens é claro,  Chacrinha foi um pernambucano que ficou famoso nacionalmente com um programa de auditório na década de 70 que era uma balbúrdia colorida.

Inventou um tipo de comunicador brasileiríssimo, maluco pra caramba, que muita gente da intelectualidade  relaciona até hoje com a onda tropicalista e até com Macunaíma e a antropofagia.

É considerado por muitos um gênio, e um dos maiores criadores da televisão brasileira. Chacrinha era, e é até hoje, muito querido no meio artístico.

Documentário bom de se assistir. Deu até saudades, mas devo confessar que eu não gostava daquilo. Sabe aquelas coisas que a gente tem peso na consciência de não gostar?

Pois é. Tinha pavor do Programa do Chacrinha. Era insanidade demais pra minha cabeça. Não gostava daquela parafernália multicor. Era poluição visual e sonora no topo. Aquilo me deixava enjoado. Tinha os artistas bregas da época com sua música de comércio que eram os maiores frequentadores. E quando aparecia algum artista que eu gostava um pouco mais, me parecia que também era tragado por aquele redemoinho demencial.


E por falar em "tragado" também nunca gostei daquela parada da Alice no País das Maravilhas. Pra mim, Chacrinha e Alice são coisas parecidas. Alice era como um grande e interminável pesadelo psicodélico e penso que só uma criança com espírito muito, mas muito liberto mesmo, poderia se sentir atraída por aquilo e sentir prazer com a aquela história sem nexo. Lembro de ouvir no disquinho as canções estapafúrdias. Tinha um coelho que cantava.


É TARDE, É TARDE
É TARDE ATÉ QUE ARDE
AIAI MEUS DEUS
ALÔ, ADEUS
É TARDE, É TARDE, É TARDE

O Pequeno Príncipe também. Eu achava uma loucurada chata. Elogiadíssimo, considerado uma obra prima, eu li e achei um saco. Só aqueles desenhos já me deixavam mareado.

Não gosto de filme musical também. Nunca gostei. Nunca entendi como que, depois de um diálogo, o cara pudesse começar a cantar em plena rua acompanhado por orquestra e tudo. 

Outra coisa. Vídeo clip. Quando surgiu eu me negava a ver. 
Pô! Os caras não estão tocando de verdade. Eu achava que era uma enganação. Agora até aceito ver um clipezinho, mas sempre achei esquisito existir gente que ligava a TV pra assistir a um canal de vídeo clips. 

 Já estive em uma festa que apareceu uma drag queen. Era a atração da noite. Notei que as pessoas estavam adorando a parada. As mulheres muitíssimo mais do que os homens. Eu achei sacal pra caramba. 

Acho que não gosto de fantasia. Não sou muito chegado à brilho. Definitivamente nunca serei um carnavalesco. Sou um bocado reclamão também, como se pode notar, e já fui bem mais.  Sou um músico chato que sempre gostou de matemática. Matemática e lógica. 

Pra terminar, já que falei em lógica, vai uma do ANEDOTARIUM. 

O gaudério estava na rodoviária de Porto Alegre, esperando o ônibus que ia pra Bagé. 

Faltava mais de hora pro ônibus sair e ele reparou num cara que levava um pacote embaixo do braço. Resolveu puxar assunto pra matar tempo.

- Mas tchê. Desculpe a curiosidade. Que que tu leva nesse pacote?
- São livros, meu senhor.
- Ah sim, mas o senhor pode me dizer que tipo de livro?
- Certamente. São livros de lógica.
- Ah, bueno.
- O senhor conhece a lógica?
O gauderinho coçou a cabeça. Não sabia nada sobre o assunto.
- Pois não sei.
- A lógica é uma ciência. Vou tentar lhe explicar. Por exemplo. O senhor tem um aquário em casa.
- Sim. Tenho.
- Pela lógica, e somente pela lógica, se o senhor tem um aquário, e já tem uma certa idade, há crianças em sua casa.
- Sim. É verdade;
- O senhor entendeu?
-Não ainda, tchê.
- Seguindo então o raciocínio. Pela lógica, se há crianças em sua casa, estas crianças são seus filhos.
- Acertou.
- E seguindo o pensamento, se são seus filhos, foi o senhor quem fecundou sua mulher.
- Pois deve ser também.
- Seguindo a linha, se o senhor fecundou sua mulher, pela lógica, o senhor é macho.
O rosto do guasca se iluminou com esta última afirmativa.
- Mas é mesmo...
- O senhor entendeu agora do que se trata a lógica?
- Agora sim! Mas que rica ciência, hein tchê?

O cara pegou o ônibus e o gauchinho ficou ali sozinho, matutando, maravilhado com a lógica. Viu que tinha ainda meia hora. Se tocou pro centro e entrou na Sulina. Chegou no balcão e falou pro atendente.

-Me arrebanha todos os livros de lógica que tu tem aí. E bota num pacote.

Voltou correndo pra rodoviária e pegou o ônibus. Quando desceu, fim da tarde em Bagé, encontrou um amigo que lhe perguntou.

- Mas tchê Fagundes. Onde andavas?
- Tava em Porto fazendo uns negócio.
- E este pacote aí embaixo do braço?
- Isto são uns livro.
- É? Livro de que?
- Livro de lógica.
- Lógica? O que é isso?
- É uma ciência, burro.
- Nunca ouvi falar. Mas me explica.
- Bueno. Vou te dar um exemplo.
- Manda.
- Tu tem um aquário em casa.
- Eu não!
- Bueno...então tu é puto!

fc-15-pOa


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