O Lula não é um Mujica. O Lula gosta de dinheiro. E as pessoas de bem tem muita raiva do Lula também por isto. Afinal de contas, um socialista não pode gostar de dinheiro.
O Lula toma cachaça e as pessoas de bem tem raiva. Se tomasse espumante as pessoas de bem teriam mais raiva ainda. Socialista não pode gostar de champanhe. Nem de Mac Donalds.
O Mujica deu um jeito para que não pudessem falar nada dele. Leva uma vida monástica. Mas não pense que as pessoas de bem não odeiam o Mujica. Odeiam e odeiam muito. As pessoas de bem odeiam todos aqueles que pensam em mudar um pouquinho as regras do jogo, regras estas que lhes parecem justíssimas. Mas do Mujica nada podem falar. Não tem jeito. Então odeiam em silêncio.
É algo parecido com o que aconteceu com o governo Lula e boa parte do governo Dilma quando a economia tava fumando e o desemprego chegou ao recorde planetário na casa dos 5%. Um boom de consumo. As pessoas de bem estavam caladas, e seu ódio repousava em prateleiras.
Vieram os escândalos e a crise, e assim as pessoas de bem puderam tirar com regozijo seu ódio do armário para que tomasse ar, para afastar o bolor. E as pessoas de bem encontraram os seus parecidos na rede social e é ali que brindam e bradam o seu ódio fervorosamente, com estrepitosa alegria.
A sensação de pertencer a um grupo traz coragem e então as pessoas de bem usam as piores palavras e propõem atrocidades sem medo de nada e as pessoas de bem sentem que têm o direito de interpelar e ofender os outros em via pública e então esta coragem imensa convida também a sair do armário o preconceito. E por que não?
Na prateleira de cima o racismo estava adormecido. E as pessoas de bem tiraram o racismo do armário. E da prateleira seguinte sai do armário quem mesmo, meus senhores? A Dona homofobia. Logo em seguida, a xenofobia e o machismo.
As pessoas de bem resolveram fazer definitivamente uma faxina no armário. Encorajadas por seus parecidos, perderam por completo seus pruridos. E assim se criou uma espécie de permissão para se ser perverso. O fato de Bolsonaro ter tantos seguidores é a mais dura prova disto.
Dia destes as pessoas de bem estavam protestando em Copacabana quando apareceu um menino de 10 , 11 anos, que teria roubado algo. O menino foi cercado por homens e mulheres, todas pessoas de bem, que ensaiaram uma espécie de linchamento. Homens de 50 anos agrediram o ladrãozinho com socos até que um policial com um pouco mais de bom senso o tirou dali e o colocou dentro de uma viatura. Através dos vidros do camburão as pessoas de bem faziam sinais e diziam que o menino tinha de morrer, que eles estavam de olho nele, que o pegariam. Ladrõezinhos não podem fazer isto com pessoas de bem.
As pessoas de bem, que sempre gritam que pagam seus impostos em dia como se isto fosse um grande favor, então se reúnem na avenida e pedem intervenção militar. Batem panelas, vestem a camisa da seleção brasileira e quando cantam o hino nacional se emocionam até às lágrimas, pois se sentem profundamente patrióticas as pessoas de bem.
Se emocionam ao cantar o hino da mesma forma que os alemães se emocionavam ao ouvir os discursos de Hitler. As pessoas de bem tem absoluta certeza de suas crenças. Não há argumento algum que as convença, que as demova. Exatamente como os alemães da época nazista.
pOa - janeiro - 16
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