O casamento andava meio chocho, já tinham mais de 10 anos juntos, e Nélio então propôs como experiência que a relação se tornasse aberta.
Magda, no início achou meio esquisito, mas acabou topando, pois Magda faz tudo de boa vontade. Magda coopera. Sempre.
Nélio logo se entreverou com duas mais atrevidinhas do bairro e se pode dizer que isto apimentou muito bem a relação do casal. Magda até deu uma choradinha quando o marido lhe contou que andava comendo Consuelo, a cabeleireira, mas logo secou as lágrimas, pois ficou interessada ao saber do fato dela ter a mania de comprimir os imensos seios na cara do marido até ele ficar sem ar. Achou aquilo um tesão e também achou muita graça do joguinho. A Con é legal. É alegre e esparrenta. E sempre dá desconto na pintura e no corte.
Mas estava faltando alguma coisa. Magda ainda não tinha experimentado nenhuma relação extra. Ou por não poder, pois o hospital lhe tomava muito tempo, ou por esquecer, pois era bastante desligada. Magda ainda não tinha entrado no jogo. Então Nélio, ansioso, com o rosto transfigurado pela luxúria, perguntava a toda hora.
- E aí, Magda?
- Aí o que, Nélio?
- Fez?
- Fiz o que, querido?
Nélio se impacientava.
- Transou, Magdalena?
- Ah tá! Não, meu bem. Ainda não. Mas logo, logo.
Então Nélio encerrava a conversa com um largo e melancólico suspiro.
Mas um dia Nélio entrou em casa e encontrou a mulher de braços cruzados, sorridente. Mal fechou a porta, Magda mandou.
- Adivinha, querido.
- Que?
- Adivinha o que aconteceu.
- Adivinha o que, Magda?
- Transei.
- Como, transou?
- Transei, Nélio. Fiz um fukifuki! Rolou um sexo com outro homem.
Depois deste pequeno rompante de irritação, Magda notou um leve tremor na boca do marido e logo o olhar dele ficou turvo e isto a assustou, pois uma enfermeira conhece bem os sinais do derrame cerebral, mas Nélio, com um fio de voz, interpelou.
- Com quem, Magda?
- Com o Wesley.
- Que Wesley?
- O Wesley, querido!
- O despachante?!
- Claro! Que outro Wesley a gente conhece?
Nélio, saindo do transe, atirou pastas e papeis pra todos os lados e avançou no pescoço da mulher.
- Você é doida, Magda!? Com o Wesley? Amanhã todo o Detran vai saber que eu tomei um chapéu!! Com o Wesley, Magda!? Vou te matar!!!
A mulher, temendo pela vida, já se sentindo asfixiada, num ato reflexo mandou a joelhada certeira que fez o marido emitir um gemido abafado, como um saco de estopa que se esvazia. O golpe preciso fez afrouxarem as garras do homem e assim Magda pode escafeder-se pelo corredor.
Nélio, correndo como um pinguim, com a terrível sensação de que os ovos estavam conversando com as amídalas, não conseguiu impedir que a mulher se trancasse no banheiro. Caiu de joelhos com o nariz na fresta.
- Abre esta porta, Magda.
- Não, Nélio! Não tô te reconhecendo. Foi você que inventou essa coisa de relação aberta.
- Mas com o Wesley, Magda?
- Eu tinha duas opções, querido! Era o Wesley ou o Antenor.
- Mas o Antenor é meu melhor amigo!?... O que!? O Antenor tá querendo te comer também?
- Ahã.
- Caráleo. Tenho inimigos por todos os lados. Magdalena, abreaporra dessa porta!
- Eu não. Tô com medo de você. Vou ligar pro Ué.
- Que? Quem é o Ué?
- É o Wesley?
- Taquispariu. Apelido carinhoso com o despachante? Tu já viu a unha do mindinho dele? Ué!! Só faltava essa! Escuta. Tu nunca me chamou de Né!
- Querido. Você parece que tem 10 anos, pera!... Alô,... Ué! Alô. É a Magda. Olha só. Pode falar? Preciso de tua ajuda. Preciso que você venha aqui. Falei pro Nélio que a gente transou e acho que ele não gostou muito... Você vem, Ué? O que? Não pode vir? Mas você disse que me amava....mas escuta...ele se pôs violento...alô...alô, Ué!...alô...filho da puta!, desligou. Vocês são todos uns covardes.
Magda então abriu um chorozinho desconsolado.
- Abre esta porta, Magda.
- Não abro.
- Vou derrubar.
- Vou ligar pra tua mãe.
- Que?
- Vou ligar pra tua mãe e vou contar pra ela toda esta imundície de relação aberta.
- Não. Deixa a mãe fora disso. Ela é cardíaca. Ia ficar chocada demais com isso.
- Vou ligar.
- Não. Espera. Tenho uma proposta pra te fazer.
- Fala, Nélio.
- Voltamos à estaca zero.
- Como assim?
- Paramos com esta coisa de relação aberta.
- Não.
- Como não?
- Sabe o que é?
- Fala, Magda.
- O Ué também faz umas coisas diferentes. Joguinhos.
- Abre esta porta, Magdalena.
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