Eu tinha 13, 14 anos de idade quando meu pai chegou em casa com um presente. Na saída do trabalho, ao passar por uma livraria, lhe chamou a atenção numa estante algo que para ele era bastante familiar. As listas azul claras da coleção TERRAMAREAR. O livro que ele escolheu entre outros tantos que ali havia, tinha como título: TARZAN, O DESTEMIDO. Eram mais de 600 páginas e a letra pequena. A autor. Edgar Rice Burroughs.
Acho que no dia seguinte já me entreguei à tarefa de tentar derrubar o calhamaço, tarefa que parecia árdua, pois estava acostumado com Lobato, livros menores com letras grandes, mas acabei me possuindo e 3 dias depois já tinha devorado e estava pedindo outro. A história era fantástica. Meu pai comprou todos os que pôde encontrar por Porto Alegre e acabou faltando 2 ou 3 para que eu tivesse a coleção inteira.
Eram romances muito bem escritos que começavam com um ponto central e este logo se bifurcava em narrações paralelas e algumas vezes se trifurcava, e isto criava um suspense terrível que me fazia não querer parar de ler até o final onde tais paralelas voltavam a se encontrar para o grande desfecho.
Quem leu estes livros sabe que o macaco que acompanhava Tarzan não era um chimpanzé. Era um sagui e não se chamava Chita e sim Nkima. Tarzan sabia falar a língua dos símios e se comunicava com todos os macacos. Muitas vezes Nkima estava empoleirado no ombro do herói em suas aventuras.
Estas novelas de Burroughs, que foram escritas no começo do século XX eram extremamente respeitosas com o mundo animal. Tarzan só matava animais para defender sua vida ou a vida dos seus. Nutria profunda admiração por todos eles. Numa era o leão. Sabor, a leoa. O leopardo era Sheeta. Tantor, o elefante. São algumas designações que ainda lembro.
John Greistoke era um bebê quando o avião no qual viajava com seus pais, que pertenciam à nobreza britânica, teve uma pane e caiu na savana africana. Os pais morreram e a criança foi alimentada e criada por uma gorila chamada Kala. Este seria o resumo do início da formidável saga que se encontra no primeiro tomo intitulado em português como TARZAN, O FILHO DAS SELVAS.
Lembro de uma tarde em que estava febrilmente devorando um dos livros. Tarzan estava cruzando a pé o deserto do Saara. Já não tinha mais forças. Não havia nada em volta a não ser areia, calor e abutres lá em cima. Sem chance. Num determinado momento o herói falseia e cai, absolutamente inerte. Os abutres se aproximam da presa indefesa e moribunda para iniciar seu banquete. No momento em que um deles pousa no pescoço do gigante glabro, este, num esforço supremo, se volta, e sujeitando o animal com brutalidade, lhe crava os dentes no pescoço para sugar seu sangue com volúpia até saciar sua sede. Seguido a isso, revigorado, o tarmangani (termo que signigicava gigante humano branco) pôde seguir sua jornada. Aquilo foi demais. Vibrei. Eiiiitttaaa!!!
20 anos depois entro na casa do fotógrafo Luiz Antonio Catafesto, o Alma Negra e vejo a coleção na estante. Fiquei surpreso e perguntei.
- Pô cara, tu leu o Tarzan?
- Li tudo.
- Bom pra caramba.
- E aquele lance do deserto que o cara chupa o sangue do abutre?
O Luiz Antonio também ficou com a lembrança daquela façanha inacreditável.
Me dá um pouco de pena que este tipo de literatura tenha ficado obsoleto e a gurizada esteja absolutamente sem fios de contato com ele. Assim como tanta arte que a ideologia do consumo condena. Mas isto é um outro assunto. Um assunto terrível.
Pra finalizar, estava catando algo sobre o autor. Achei. Muito interessante.
Edgar Rice Burroughs nasceu no ano de 1875 em Chicago, nos EUA. Foi o criador de Tarzan e de John Carter, herói da guerra civil americana que foi abduzido por marcianos verdes, salvou uma princesa inimiga e se meteu na guerra civil marciana.
A saga de John Carter é considerada uma das mais influentes séries de ficção científica de todos os tempos. Burroughs começou a trabalhar no primeiro livro da série, "Uma Princesa de Marte", em 1911, aos 35 anos. Muito tempo depois, sua influência continua tão grande que não pode ser desassociada de filmes como Avatar e a saga Star Wars.
Bradbury – autor de dezenas de livros, incluindo o clássico Fahrenheit 451 – costumava enfatizar a influência de Burroughs. “Oferecendo romance e aventura a toda uma geração de garotos, Burroughs estimulou-os a sair por aí e a querer se tornar pessoas especiais”, afirmou o autor. “Eu tenho conversado com bioquímicos, astrônomos e tecnólogos de várias áreas que, quando tinham 10 anos de idade, eram apaixonados por John Carter e Tarzan. Foi por isso que eles decidiram fazer algo romântico. Burroughs mandou a gente pra Lua.”
Uma larga cratera marciana foi nomeada Burroughs após a morte do autor.
Os livros de Burroughs inspiraram Arthur C. Clarke a começar a escrever. Clarke é um dos maiores nomes da literatura de ficção científica – seu trabalho mais conhecido é 2001: Uma Odisseia no Espaço. Ele amava a série de John Carter quando era criança, e revelou que foram esses livros que o inspiraram a escrever histórias sobre aventuras espaciais.
PoA - Janeiro - 16
Nenhum comentário:
Postar um comentário