terça-feira, 8 de novembro de 2016

O JOTA3

Jota tinha saído mais cedo do trabalho e andava pela Osvaldo Aranha quando parou na frente do cinema Baltimore pra ver o que estava passando.
O filme era brasileiro, Marília e Marina, e já que tinha tempo, Jota resolveu entrar. Ele gostava muito de filme brasileiro, porque tinha mulher pelada e cena de sexo, e então pagou a entrada e se aboletou num bom lugar central, já que havia poucas pessoas na sala.
Jota estava apreciando a película,que apesar de ser um tanto poética e lenta, já nos primeiros instantes o premiou com uma cena tórrida que o deixou bem animado, mas por ser jovem e também pelo fato ter acontecido na década de 70, época em que tudo ainda era novo, Jota nunca tinha visto - e nem imaginava que pudesse existir tal maravilha - uma cena de lesbianismo. E tampouco estava preparado para isto, como veremos a seguir.
Quando Marília e Marina iniciaram sua cena com aquele diálogo revelador, um brilho logo tomou conta do olhar de Jota e quando elas começaram a se beijar, ele sentiu seu coração bater na altura do pescoço e então quando se tocaram mais intimamente, o rapaz não teve dúvidas que estava tendo um treco.
As pessoas que estavam mais perto, já preocupadas com aqueles vagos murmúrios, resolveram pedir ajuda quando Jota emitiu um gemido mais alto junto a um suspiro interminável.

As luzes se acenderam e rapidamente dois homens entraram na sala e encontraram aquele rapaz empertigado e imóvel, com o rosto contorcido e fios de baba escorrendo pelo queixo. Um dos homens se aproximou de Saulo e fez algumas perguntas, mas recebeu como resposta apenas algumas poucas palavras balbuciadas sem sentido, algo que mais se parecia a uma reza turca.
- Certamente um mal súbito, pessoal, falou o homem para tranquilizar a plateia.
Notaram então que teriam uma certa dificuldade para tirar o jovem dali, pois o corpo enrijecido dificultaria desvencilhar suas pernas de debaixo da cadeira da frente. Depois de deliberarem com duas senhoras que davam palpites variados, conseguiram com uma manobra engenhosa erguer o cara, e assim o retiraram do cinema.
Por sorte o Cine Baltimore ficava em frente ao Pronto Socorro e os dois homens, correndo entre tropeções, cruzaram a Osvaldo Aranha carregando Saulo como se fosse um tapete enrolado.
Foram direto à emergência e o depositaram numa maca que por sorte estava sobrando. Prontamente chegaram duas enfermeiras, que ao repararem no estranho brilho daquele olhar que agora se fixava incessantemente nelas, acharam mais seguro que o rapaz passasse à frente dos outros pacientes e o levaram direto à sala de neurologia.
Jota que aos poucos ia se recuperando, pode ver o médico se aproximar dele e das enfermeiras, que já começavam a desabotoar sua camisa. Muito magro, beirando os 50 e com um simpático sorriso de caveira o doutor perguntou.
- O que houve, caro jovem?
Jota começou a relatar, enquanto era auscultado.
- Pois é, Doutor, eu estava no Baltimore assistindo Marília e Marina.
- Sim, não assisti ainda. Filme baseado num poema de Vinícius. Gosto muito do poeta. Vá falando.
- Num determinado momento as duas começaram com um clima sensual e isto me pegou de surpresa, então comecei a sentir um calor na nuca.
- Sim rapaz, vire para a parede para eu ouvir sua carótida. Continue.
- Elas ficaram se olhando, foram tirando a roupa.
- Sim meu jovem, diga.
- Os peitos eram muito lindos, doutor. Se acariciavam....
- Sim, rapaz, deixe eu medir sua pressão, mas conte mais......
- Então começaram a se beijar....
- Simmm....isto é bom...quero dizer, é bom ver que sua pressão está baixando. Mas continue.
- e a se tocarem com volúpia...então minha vista foi ficando turva.
- E elas se tocavam muito rapaz?
- Muito, Doutor. Chegou um momento que começaram a se lamber os rostos.
- Sim? Os rostos, é? Acho que vou medir minha pressão também. E então...?
- Então passaram a se lamber os ombros e tudo mais,Doutor e então deitaram na cama com os corpos completamente colados.
Jota não ouviu resposta nenhuma e aquele silêncio o fez virar o rosto quando se deparou com o médico com um olhar transtornado e a expressão possuída por uma careta disforme, sendo amparado pelas enfermeiras que o impediam de cair ao solo ao mesmo tempo que tentavam se livrar, com aflição, das inexplicáveis tentativas que o doutor fazia


















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