domingo, 12 de julho de 2020

O TARADO DO CHAMBRE

Já são mais de cem dias de isolamento, e é pensando nisso que o tarado do chambre esgueira-se claudicante pela escuridão da casa fria.

Leva numa mão um guaraná fruki aberto há dois dias e na outra carrega um gigantesco pacote de doritos.

Num dos cantos da sala de estar retira com exagerada cautela o celular do bolso e no momento em que é acionado, o aparelho passa a reproduzir o mesmo filme pornô das últimas semanas.

Irremediavelmente tomado por todo tipo de vírus, o smart do tarado do chambre perdeu todas as funções e apenas transmite em looping uma suruba de modestos e encardidos pigmeus com mulheres altas e levemente azuladas.

O homem do chambre já assistiu dezenas de vezes à tal epopeia, mas jamais se cansa, e mesmo apoiando-se com imenso cuidado na poltrona central, no momento em que o líder dos nativos passa a vara geral e fala um dialeto incompreensível, não resiste ao orgasmo duplo que o acomete, e tomba com ruído em meio à sala, levando poltrona e mesa e abajur e tudo, o que faz sua mãe deixar a cozinha às pressas, e contrafeita sujeitar-lhe com mão italiana e vigorosa pelas alças do chambre para fazê-lo deslizar pelo parquet, berrando a velha que “ma que coza, Fausto, tá de novo na maztorba, eze sambre tá todo suzo de pora, escore pora por tudo, olha zó, má que nozo!!, vai pro banhero e te mete no suvero, porco zio!, má que merda isso!!!, Fausto, que porcatión que tu é, Dio mio!” e a velha, com extremo esforço, consegue deixar Fausto dentro do banheiro que levanta-se, retira o capuz e repara nos olhos injetados que tem, e vai despindo o chambre, mas Fausto detesta fluídos, e grita com asco toda vez que seu corpo encosta na meleca, os vizinhos já reclamaram dos berros na madrugada, e no momento em que Fausto enxerga seu próprio corpo nu na imagem do espelho, sobrevem repentina e irresistível excitação seguida de orgasmo avassalador que faz com que perca o equilíbrio, bata com a cabeça no bidê e perca os sentidos e surjam delírios de que está no campo e repentinamente passa por ele Bo Derek nua, montada num alazão, e Fausto os persegue com fúria e faz com que parem e come Bo, e come o cavalo, e come o cavalo e come Bo, e no momento em que beija o cavalo com sofreguidão, Bo perde a paciência e prende-lhe um coice que faz com que Fausto perca os sentidos dentro do próprio desmaio e a cena que vê é uma cama e em cima desta cama está Bia Kicis desnudando-se mas Fausto interrompe a função.

- Ôooooo!!! Parô, parô, parô!!!
- Mas o que foi???
- Tudo tem limite. Até os tarados de chambre possuem um fio de ética.
- Mas que ética? No outro desmaio você comeu até cavalo!!!

Neste momento, o tarado do chambre desperta dos dois desmaios com o choque da água fria. Na porta do banheiro, tá a mãe com seu grande balde vermelho.

- Vai, Fausto!!! Banho!!! Zá!!!

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