domingo, 12 de julho de 2020

DIÁLOGOS

Lembro de quando era guri e comecei a me interessar por leitura. Eu sempre abria os livros pra saber se tinham diálogos.

Eu gostava mais quando os livros eram recheados de conversa.

Mais tarde descobri que a literatura de primeira linha é um tanto avessa a chats e acabei esquecendo do assunto.

Tempo desses reencontrei diálogos em profusão nos livros do Buckovski que é um autor que não conhecia. Me causou estranheza. Mas achei legal.

Vi por aí textos que colocam Buckovski na mesma prateleira de Henri Miller e, vejam só, Hemingway. O próprio autor disse em entrevista que isso se tratava de uma grande bobagem e notei que ele esforçou-se bastante pra não deixar escapar que achava mala aqueles outros dois.

Acho que Buck é pop. É um outro departamento. É quase história em quadrinhos. Buck, o velho safado, gostava de diálogos.

Lembrei disso tudo porque tenho gostado de escrever diálogos.

É bacana escrever e ir ajeitando, arrumando. Tornando verdadeiro e rítmico. No dia seguinte leio de novo e descubro que ainda necessita ajustes aqui e ali. Vou indo assim até achar que ficou exato. Que ficou perfeito.

Diálogos que me impressionam?

Tarantino.

Já faz algum tempo, assisti a uma entrevista muito boa com a atriz portuguesa Maria Medeiros que participou de uma cena antológica com Bruce Willis em Pulp Fiction.

Aquele diálogo é maravilhoso.

O casal está abraçado na cama de um hotel barato e Medeiros diz a Willis que gostaria de possuir uma barriguinha bonitinha e vai solando sobre o assunto, toda meiga, e Willis vai assentindo com a cabeça com aquela boquinha de Bruce Willis, aquele baita contraste entre a doçura dela e a extrema violência contida nele que havia acabado de matar a pancadas um homem num ringue de box e estava sendo perseguido por mafiosos assassinos, pois naquela luta ele havia sido pago para perder.

É quase um monólogo, mas a expressao de Willis é a cereja.

Nesta entrevista, Medeiros contou que o diretor não deixa os atores alterarem nenhuma fala. As palavras tem de ser exatamente aquelas que estão no texto.

Os diálogos de Tarantino são fantásticos. O assunto, por mais corriqueiro que seja, ganha sempre uns ares de magia.

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