Lembro da noite em que estava na cozinha e estranhei a espuma que fez a Serramalte no momento em que caiu no copo.
Borbulhas grandes, sabe? Quanto maior a bolha, mais cagada é a ceva. Cerveja boa você não enxerga a borbulha e quando a ceva é fodona mesmo, a espuma é um creme, e este creme resta no fundo do copo no momento em que você derruba. A Serrinha não tinha aquelas bolhas grandes.
Já havia achado esquisita a nova embalagem, mas não pensei que a Ambev iria perpetrar o crime de estropear a melhor Pilsen do Brasil. O plano da Ambev, como já sabemos, é comprar todas as cervejas do planeta e transformá-las em água suja. Disso tenho certeza. A Ambev é bolsominion em sua alma.
Botei na boca e não deu outra. Bem parecida com a Skol. Com o espírito danificado, joguei o resto na pia, taquei a garrafinha no lixo e abri uma Eisenbhan, que por sorte havia.
A Eisenbhan é uma cervejaria de Blumenau que produz uma ceva com uma boa variedade de sabores e tipos de fermentação. Pra mim, todas são boas, com exceção da pilsen, que tem rótulo amarelo e dizem que foi comprada pela Heineken. Essa amarela parece meio falcatrua.
Mas foi nas noites tão frias deste inverno de pandemia que pude desfrutar das latas e garrafinhas da Eisenbhan. Elas tão no super por um preço bem acessível e compro sempre a verdinha e a roxinha.
A verdinha é uma PALE ALE e fui até pesquisar o significado. ALE significa alta fermentação e PALE significa pálido, mas li que tem muitas PALE ALE que de pálidas não tem nada. A Eisenbhan verdinha tem a cor de um dourado escuro.
A roxinha é uma AMERICAN IPA e daí não entendi nada porque já sabia que IPA era da Índia e APA era da América.
Eu sempre bebi e bebia em qualquer copo, mas de um tempo pra cá fiquei meio bobo e tenho então preferido beber num copo bonito. Então pego uma taça grande e sirvo sempre a verdinha primeiro.
Cara. É muito bonito de ver aquela cor. A espuma perfeita. Bebo aquilo e sinto que os olhos ficam injetados de satisfação. O sabor é pura perdição. Termino com a garrafinha e é chegada a hora da roxinha. Penso então que vai ser um tanto decepcionante beber a roxa depois da verde.
Sirvo.
A cor é outra, mas não menos bela.
Quando entra em contato com a boca, a viagem é distinta, mas a velocidade é exatamente a mesma. Como pode? O sabor é bem diferente e igualmente fantástico.
E assim me fui por algumas noites de frio e solidão deste ano 20, que está sendo, certamente, o ano mais difícil de minha vida.
Me fui avançando pelas madrugadas, intercalando verdinhas e roxinhas, pensando na imensa sorte que tenho de até possuir um dinheirinho pra poder ter acesso a alguns bálsamos cotidianos que ajudam a manter a alma maomeno regulada no meio desta borrasca que tanto nos aflige e esta última frase vai saindo meio que amontoada, eu sei, mas acho que dá pra entender, acho também que o assunto não é muito rico, mas é o que temos para o momento e prometemos melhorar num futuro nem tão remoto.
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